Raça de víboras na Bíblia é uma expressão que aparece no Novo Testamento para designar alguns fariseus e saduceus. A expressão “raça de víboras” significa literalmente “descendência de serpentes”. João Batista e também o Senhor Jesus foram as pessoas que usaram essa expressão (Mateus 3:7; 12:34; 23:33).
Alguns estudiosos dizem que ao usarem a expressão “raça de víboras”, talvez João Batista e Jesus tivessem em mente uma espécie de víbora pequena e muito comum deste o sul da Europa até àquela região. Esse tipo de víbora tem como principais características a fixação por sua presa e os ataques extremamente rápidos.
João Batista, por exemplo, certamente conhecia muito bem essas serpentes, pois ele vivia pelo deserto. W. Hendriksen, em seu comentário do Novo Testamento, diz que ainda que essas víboras fossem bastante pequenas em tamanho, elas eram muito enganosas. Por isso facilmente alguém podia confundi-las com gravetos secos, e então, de repente, era atacado. Parece que algo muito semelhante a isso ocorreu com o apóstolo Paulo (Atos 28:3).
Essa curiosidade é útil para contextualizar melhor a comparação entre as víboras e alguns religiosos judeus das classes dos fariseus e dos saduceus. Obviamente a expressão “raça de víboras” no Novo Testamento possui um sentido figurado para indicar a associação maligna daqueles incrédulos hipócritas que eram adversários do reino de Deus.
Quando João Batista disse “raça de víboras”?
João Batista chamou de “raça de víboras” alguns fariseus e saduceus enquanto pregava o arrependimento no deserto da Judeia. As Escrituras deixam claro que aquela atividade de João servia de preparação para o ministério do Messias (Mateus 3:1-3).
Muitas pessoas de todas as partes vizinhas àquela região iam ter com João Batista para serem por ele batizadas, confessando seus pecados (Mateus 3:5,6). Entre essas pessoas, estavam também muitos fariseus e saduceus.
Os fariseus formavam um grupo tradicional e extremamente legalista. Eles eram aquelas típicas pessoas que pensavam que poderiam conquistar a salvação pela justiça própria. Inclusive, eles buscavam em fazer ainda mais do que a Lei exigia, e para tanto adicionavam uma série de tradições humanas.
Os saduceus eram o oposto dos fariseus. Os saduceus formavam um grupo liberal da elite aristocrata dos judeus. Eles aceitavam apenas o Pentateuco como Escritura e negavam a existência dos anjos e nem criam na doutrina da ressurreição. Nos tempos de Jesus eles controlavam o Templo, pois a classe sacerdotal geralmente pertencia a esse grupo. Apesar de serem tão diferentes, esses dois grupos, como diz W. Wiersbe, uniram força para se oporem a Jesus Cristo.
Então João Batista percebeu que muitas pessoas que pertenciam a esses grupos não buscavam o batismo com sinceridade. Não havia nelas arrependimento genuíno. Aquelas pessoas eram enganadoras e perversas, e se apoiavam numa falsa justiça ao pensarem que por serem filhos de Abraão naturalmente já desfrutavam da segurança eterna. Foi nesse contexto que, muito apropriadamente, João declarou: “Raça de víboras! Quem voz induziu a fugir da ira vindoura?” (Mateus 3:7).
Quando Jesus disse “raça de víboras”?
Jesus usou a expressão “raça de víboras” em duas ocasiões de seu ministério. A primeira delas foi quando Jesus curou um endemoninhado cego e mudo. Diante do milagre realizado por Jesus, os fariseus murmuraram e acusaram Jesus de expulsar demônios pelo poder de Belzebu, o maioral dos demônios (Mateus12:24).
Então Jesus repreendeu aqueles fariseus e indicou que a atitude deles caracterizava blasfêmia contra o Espírito Santo, pois eles rejeitavam explicitamente e deliberadamente o poder d’Aquele que é o único capaz de trazer arrependimento. Daí Jesus apontou a natureza maligna daquelas pessoas ao dizer: “Raça de víboras, como podeis falar coisas boas sendo maus? Porque a boca fala do que está repleto o coração” (Mateus 12:34).
A segunda ocasião em Jesus usou a expressão “raça de víboras” foi também contra os escribas e fariseus. Jesus denunciou toda a hipocrisia daquelas pessoas que se escondiam atrás de uma falsa e vazia aparência de santidade.
Apesar de todos os avisos, aquelas pessoas permaneciam impenitentes. Então Jesus fez uma declaração muito parecida com a de João Batista. Ele disse: “Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?” (Mateus 23:34).
Por que aquelas pessoas eram uma raça de víboras?
Os fariseus e outros religiosos que foram denunciados por João Batista e por Jesus, pensavam que poderiam escapar do juízo divino por causa de sua descendência natural de Abraão. Mas a expressão “raça de víboras” é uma repreensão clara a esse tipo de pensamento.
Nesta expressão, a palavra “raça” traduz o grego gennema, que implica no significado de “prole”. Por isso ao dizerem “raça de víboras”, João Batista e Jesus estavam literalmente dizendo que aquelas pessoas pertenciam a uma “geração de serpentes”. Portanto, aqueles que se orgulhavam de sua descendência abraâmica eram, na verdade, descendentes de víboras.
É claro que essa expressão também faz referência a natureza de Satanás e indica como aquelas pessoas estavam comprometidas com ele. Satanás é um enganador perverso que na Bíblia também é chamado de serpente (Apocalipse 12:9; 20:2).
Então é fácil perceber que aquelas pessoas que faziam oposição ao Senhor Jesus e ao reino de Deus eram instrumentos de Satanás. Portanto, quando os fariseus e saduceus são chamados de “raça de víboras” na Bíblia, isso também é um indicativo de que eles eram filhos do diabo (cf. João 8:44).
Por Daniel Conegero