CAPÍTULO 11
A medida da
obediência à autoridade
Pela
fé Moisés, apenas nascido, foi ocultado por seus pais, durante três meses,
porque viram que a criança era formosa; também não ficaram amedrontados pelo
decreto do rei (Hb. 11:23). As parteiras, porém, temeram a Deus, e não fizeram
como lhes ordenara o rei do Egito, antes deixaram viver os meninos (Êx. 1:17).
Se
o nosso Deus, a quem servimos, quer li-vrar-nos, ele nos livrará da fornalha de
fogo ardente, e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não
serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste (Dn.
3:17, 18).
Daniel,
pois, quando soube que a escritura estava assinada, entrou em sua casa, e, em
cima, no seu quarto, onde havia janelas abertas da banda de Jerusalém, três
vezes no dia se punha de joelhos, e orava, e dava graças, diante do seu Deus,
como costumava fazer. (Dn. 6:10).
Tendo eles partido, eis que aparece um anjo do
Senhor a José em sonho e diz: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, e foge para o
Egito, e permanece lá até que eu te avise; porque Herodes há de procurar o
menino para o matar (Mt. 2:13). Então Pedro e os demais apóstolos afirmaram:
Antes importa obedecer a Deus do que aos homens (Atos 5:29).
A
submissão é absoluta, mas a obediência é relativa
A submissão é uma questão de atitude, enquanto
a obediência é uma questão de conduta. Pedro e João responderam ao concílio
religioso dos judeus: "Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a
vós outros do que a Deus" (Atos 4:19). Seu espírito não foi rebelde, uma
vez que ainda se submetiam àqueles que estavam em posição de autoridade. A
obediência, entretanto, não pode ser absoluta. Algumas autoridades têm de ser
obedecidas; enquanto outras não deveriam, especialmente em questões que atingem
os fundamentos cristãos — tais como crer no Senhor, pregar o evangelho e assim
por diante. Os filhos podem fazer sugestões a seus pais, mas não devem
demonstrar uma atitude de insubmissão. A submissão tem de ser absoluta. Às
vezes a obediência é submissão, enquanto que, noutras ocasiões, uma
incapacidade de obedecer ainda pode ser submissão. Mesmo quando fazemos uma
sugestão, deveríamos manter uma atitude de submissão. Atos 15 serve de bom
exemplo de como a igreja se reúne. Durante a reunião pode haver sugestões e
debates, mas uma vez tomadas as decisões todos devem tomar conhecimento e se
submeter.
A
medida da obediência às autoridades delegadas
Se os pais se recusarem a permitir que
seus filhos se reúnam com os santos, os filhos devem manter uma atitude de
submissão embora não precisem necessariamente obedecer. Isto se parece com o
modo pelo qual os apóstolos responderam ao concílio dos judeus. Quando foram
proibidos pelo concílio de pregar o evangelho mantiveram um espírito de
submissão no tribunal: mesmo assim, continuaram obedecendo à ordem do Senhor.
Não desobedeceram com discussões e gritaria; apenas calma e mansamente
discordaram. Não deve absolutamente haver uma palavra injuriosa nem uma atitude
de insubordinação para com as autoridades governantes. Aquele que reconhece a
autoridade será delicado e respeitoso. Será absoluto em sua submissão tanto no
coração como na atitude e em palavras. Não haverá sinais de rispidez ou rebeldia.
Quando a autoridade delegada (homens que representam a autoridade de Deus) e a
autoridade direta (o próprio Deus) entram em conflito, a pessoa pode prestar
submissão mas não obediência à autoridade delegada. Vamos resumir isto em três
pontos:
1. A
obediência está relacionada com a conduta: é relativa.
A submissão relaciona-se com a atitude do
coração: é absoluta.
2. Só
Deus recebe obediência irrestrita sem medida; qualquer pessoa abaixo de Deus só
pode receber obediência restrita.
3. Se
a autoridade delegada emitir uma ordem claramente em contradição com a ordem de
Deus, deverá receber submissão mas não obediência. Temos de nos submeter à pessoa que recebeu autoridade delegada
de Deus, mas devemos desobedecer à ordem que ofende a Deus. Se seus pais
quiserem que você frequente um lugar onde um cristão prefere não ir mas não um
lugar onde a questão do pecado esteja envolvida, então a questão fica aberta à
discussão. A submissão é absoluta, enquanto que a obediência pode ser uma
questão de consideração. Se os pais o obrigarem a ir, vá. Mas se não
insistirem, então está livre para não ir. Deus há de libertá-lo do seu ambiente
se você, na qualidade de filho, mantiver a devida atitude.
Exemplos
na Bíblia
1. As parteiras e a mãe de Moisés, todas
desobedeceram ao decreto de Faraó preservando a vida de Moisés. Mas foram
consideradas mulheres de fé.
2. Os três amigos de Daniel recusaram-se a
adorar a imagem de ouro erigida pelo rei Nabucodonosor. Desobedeceram à ordem
do rei, mas submeteram-se ao fogo do rei.
3. Ignorando o decreto real, Daniel orou a
Deus; não obstante submeteu-se ao julgamento do rei sendo lançado na cova dos
leões. 4. José pegou o Senhor Jesus e fugiu para o Egito para evitar que a
criança fosse morta pelo rei Herodes. 5. Pedro pregou o evangelho embora fosse
contra a ordem do concílio governante, pois declarou que importava antes
obedecer a Deus do que aos homens. Mas submeteu-se quando foi levado à prisão.
Sinais
indispensáveis que acompanham o obediente
Como podemos julgar se uma pessoa é
obediente à autoridade?
Pelos
seguintes sinais:
1. Uma pessoa que reconhece a autoridade
naturalmente vai procurar descobrir a autoridade aonde quer que vá. A igreja é
o lugar onde a obediência pode ser aprendida, uma vez que não há uma coisa tal
como a obediência neste mundo. Só os cristãos podem obedecer, e eles também
precisam aprender a obedecer, não externamente, mas de coração. Uma vez
aprendida esta lição de obediência, o cristão vai procurar e encontrará a
autoridade em qualquer lugar.
2.
Uma pessoa que tomou conhecimento da autoridade de Deus é mansa e delicada. Foi
amansada e não consegue ser dura. Tem receio de estar errada e por isso é
delicada.
3. Uma pessoa que verdadeiramente reconhece a
autoridade jamais deseja estar em posição de autoridade. Não tem idéia nem
interesse de se tornar autoridade. Não tem prazer em dar conselhos, nem prazer
em controlar os outros. O verdadeiro obediente está sempre com receio de
cometer um erro. Mas, que pena! quantos ainda aspiram a ser conselheiros de
Deus! Só aqueles que não reconhecem a autoridade desejam ser autoridade.
4.
Uma pessoa que entrou em contato com a autoridade mantém sua boca fechada. Está
sob controle. Não se atreve a falar levianamente porque há nela um senso de
autoridade.
5.
Uma pessoa que entrou em contato com a autoridade é sensível a todo ato de
anarquia e rebelião à sua volta. Percebe como o princípio da anarquia encheu a
terra e até mesmo a igreja. Só aqueles que experimentaram a autoridade podem
levar outros à obediência. Irmãos e irmãs precisam aprender a obedecer à
autoridade; caso contrário a igreja não dará nenhum testemunho sobre a terra.
Manutenção
da ordem é reconhecer a autoridade
Se os homens não entrarem em contato vivo com
a autoridade, é impossível estabelecer a obediência e a autoridade que emana do
princípio da obediência à autoridade. Por exemplo, se você colocar dois cães
juntos será inútil tentar estabelecer um deles como autoridade e o outro para
obedecer. Só um contato vivo com a autoridade pode resolver os problemas que
surgem da falta de obediência à autoridade. E logo que alguém ofende a
autoridade, perceberá instantaneamente que ofendeu a Deus. É coisa fútil
apontar o erro para alguém que jamais viu a autoridade. Não, primeiro leve-o a
reconhecer a autoridade e, então, mostre-lhe sua falta. Ajudando os outros,
entretanto, você deve tomar o cuidado de
você mesmo não cair em rebelião. Ora, será que Martinho Lutero acertou
quando se levantou e defendeu o princípio fundamental da justificação pela fé?
Sim, pois estava obedecendo a Deus quando defendeu a verdade. Do mesmo modo
está certo que nós também defendamos a verdade, como por exemplo o testemunho
da unidade da igreja local, abandonando o terreno denominacional. Vimos o corpo
de Cristo e a glória de Cristo; e assim não podemos assumir nenhum outro nome
que não seja o de Cristo. O nome do Senhor é importante. Por que não dizemos
"salvos pelo sangue" mas "salvos pelo nome do Senhor"?
Porque o nome do Senhor fala também de sua ressurreição e ascensão. "E não
há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome,
dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos" (Atos 4:12).
Somos batizados em nome do Senhor, e nos reunimos em seu nome também. Portanto
a cruz e o sangue sozinhos não podem resolver o problema das denominações. Mas
quando percebemos a glória do Senhor que subiu, não podemos mais insistir em
ter outro nome que não seja o do Senhor. Então só podemos levantar o nome do
Senhor, recusando ter qualquer outro nome. As denominações organizadas de hoje
são uma afronta à glória do Senhor.
Vida
e autoridade
A
igreja é mantida por duas coisas essenciais: vida e autoridade. A vida interior
que recebemos é uma vida de submissão, que nos capacita a obedecer à
autoridade. Dificuldades dentro da igreja raramente se encontram em questões de
desobediência externa; na maioria das vezes relacionamse com uma falta de
submissão interna. Mas o princípio governante de nossa vida tem de ser a
submissão, exatamente como o dos pássaros é voar e dos peixes, nadar.
"A
unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus" que encontramos em
Efésios 4:13, parece ainda se encontrar tão distante; mas na realidade não está
tão distante se reconhecemos a autoridade. Os santos podem ter opiniões
diferentes e ainda assim não é preciso que haja insubordinação, pois mesmo com
opiniões diferentes podemos, não obstante, nos submeter uns aos outros. Assim,
somos um na fé. Atualmente já temos a vida que habita em nós e já percebemos
algo do princípio governante dessa vida; portanto, se Deus for misericordioso
conosco, vamos avançar rapidamente. A vida que recebemos não é só para resolver
o pecado — o lado negativo — mas principalmente para obedecer — o lado vital e
positivo. Quando o espírito da rebeldia nos abandonar, então o espírito da
obediência será rapidamente restaurado à igreja, e o sublime estado de Efésios
4 será então introduzido. Se todas as igrejas locais andassem nesse caminho da
obediência, o glorioso fato da unidade da fé apareceria realmente diante de
nossos olhos.
SEGUNDA PARTE AUTORIDADES DELEGADAS
CAPÍTULO 12
Aqueles a quem
Deus delega autoridade
Obedecendo às
autoridades delegadas e sendo uma autoridade delegada
Mesmo modo estar à procura Os filhos
de Deus não deveriam apenas aprender a reconhecer a autoridade, mas do daqueles
a quem deveriam obedecer. O centurião falou ao Senhor Jesus, dizendo:
"Pois também eu sou homem sujeito à autoridade, tenho soldados às minhas
ordens" (Mt. 8:9). Ele era realmente um homem que reconhecia a autoridade.
Atualmente, assim como Deus sustenta todo o universo com sua autoridade, também
reúne seus filhos através de sua autoridade. Se algum dos seus filhos é
independente e autoconfiante, não sujeito à autoridade delegada por Deus, então
jamais pode realizar a obra de Deus na terra. Cada um dos filhos de Deus deve
procurar alguma autoridade para obedecer para que ele ou ela se coordene
devidamente com os outros. É triste dizer, entretanto, muitos têm fracassado
neste ponto. Como podemos crer se não sabemos em quem crer; como podemos amar
se não sabemos a quem amar; ou como podemos obedecer se não sabemos a quem
obedecer? Mas na igreja há muitas autoridades delegadas a quem devemos nossa
submissão. Submetendo-nos a elas sub-metemo-nos a Deus. Não temos de escolher a
quem obedecer, mas aprender a sujeitar-nos a todas as autoridades governantes.
Não existe ninguém apto a ser autoridade delegada por Deus se ele mesmo não
aprender primeiro como sujeitar-se à autoridade. Ninguém pode saber como
exercer autoridade até que sua própria rebeldia tenha sido resolvida. Os filhos
de Deus não são um novelo de lã ou uma multidão mista. Se não houver testemunho
de autoridade, não há igreja nem trabalho. Isto propõe um problema sério. É
essencial que aprendamos a ficar sujeitos uns aos outros e sujeitos às
autoridades delegadas.
Três
requisitos para uma autoridade delegada
Além
de um conhecimento pessoal de autoridade e uma vida vivida sob autoridade, a
autoridade delegada por Deus necessita preencher estes três requisitos
principais:
1.
Deve reconhecer que toda autoridade procede de Deus.
Cada
pessoa que é chamada para ser uma autoridade delegada deveria se lembrar que
"não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem
foram por ele instituídas" (Rm. 13:1). Ela mesma não é autoridade, nem
ninguém pode constituir-se uma autoridade. Suas opiniões, idéias e pensamentos
não são melhores do que os dos outros. São totalmente sem valor. Só aquilo que
vem de Deus constitui autoridade e merece a obediência do homem. Uma autoridade
delegada deve representar a autoridade de Deus, jamais presumir que também
tenha autoridade. Nós mesmos não temos a menor autoridade no lar, no mundo, ou
na igreja. Tudo o que podemos fazer é executar a autoridade de Deus; não
podemos criar autoridade por nós mesmos. O guarda e o juiz executam autoridade
e aplicam a lei, mas não devem eles mesmos escrever a lei. Do mesmo modo,
aqueles que são colocados em posição de autoridade na igreja simplesmente
representam a autoridade de Deus. Sua autoridade se deve ao fato de estarem
numa posição representativa, não porque em si mesmos têm algum mérito mais
excelente do que os demais. Estar em posição de autoridade não depende de ter
ideias ou pensamentos; antes, depende de conhecer a vontade de Deus. A medida
do conhecimento que uma pessoa tem da vontade de Deus é a medida de sua
autoridade delegada. Deus estabelece uma pessoa como sua autoridade delegada
totalmente com base no conhecimento que essa pessoa tem da vontade de Deus.
Nada tem a ver com as idéias abundantes, fortes opiniões ou nobres pensamentos
que possa ter. Na verdade, tais pessoas que são fortes em si mesmas, devem ser
grandemente temidas na igreja. Muitos irmãos e irmãs jovens ainda não
aprenderam a reconhecer a vontade de Deus; por isso Deus os colocou sob
autoridade. Aqueles que estão em posição de autoridade são responsáveis pela
instrução desses jovens no conhecimento da vontade de Deus. Contudo, em toda e
cada ocasião em que lidar com eles, é imperativo que a autoridade delegada
saiba sem nenhuma dúvida qual é a vontade do Senhor naquele caso em particular.
Então pode agir como representante e ministro de Deus com autoridade. Fora de
tal conhecimento, não tem autoridade para exigir obediência.
Ninguém
é capaz de constituir autoridade delegada por Deus se não aprender a obedecer à
autoridade de Deus e compreender sua vontade. Vamos exemplificar. Se um homem
representa determinada companhia que vai negociar um contrato, antes de assinar
o contrato deve primeiro consultar seu gerente geral; não pode assinar o acordo
independentemente. Do mesmo modo, aquele que age como autoridade delegada por
Deus precisa primeiro conhecer a vontade e o caminho de Deus antes de ter
capacidade de pôr em efeito a autoridade. Jamais deve dar aos irmãos e irmãs uma
ordem que Deus não tenha dado. Se disser aos outros o que devem fazer sem que
seja reconhecido por Deus, estará representando a si mesmo e não a Deus. Por
isso exige-se dele que primeiro conheça a vontade de Deus para agir em nome de
Deus.
Então
sua ação ficará sob a aprovação de Deus. Só o julgamento reconhecido por Deus
tem autoridade; seja o que for que venha do homem, é inteiramente vazio de
autoridade, pois só pode representar a si mesmo. Por causa disto temos de
aprender a nos elevarmos e a nos aprofundarmos nas coisas espirituais.
Precisamos de um conhecimento mais abundante da vontade e caminhos de Deus.
Deveríamos ver o que os outros não viram e atingir o que outros não atingiram.
O que fazemos deve vir daquilo que aprendemos diante de Deus, e o que dizemos
deve emanar daquilo que experimentamos com ele. Não há autoridade exceto a de
Deus. Se nada vimos diante de Deus, então não temos absolutamente nenhuma
autoridade diante dos homens. Toda autoridade depende do que aprendemos e
conhecemos diante de Deus. Não pense que por ser mais velho alguém pode ignorar
o mais jovem, ou por ser irmão, pode oprimir as irmãs, ou por ser genioso,
subjugar o mais calmo. Tentar isto não resultará em sucesso. Todo aquele que
deseja que os outros se sujeitem à autoridade deve ele mesmo aprender a
reconhecer a autoridade de Deus.
2.
Deve
negar-se a si mesmo.
Até que uma pessoa saiba qual é a vontade de Deus deve manter sua
boca fechada. Não deve exercer a autoridade levianamente. Aquele que vai
representar a Deus deve aprender do lado positivo o que é a autoridade de Deus
e, do lado negativo, como negar-se a si mesmo. Nem Deus nem os irmãos vão dar
grande valor aos seus pensamentos. Provavelmente você é o único em todo o mundo
que considera sua opinião a melhor. Pessoas com muitas opiniões, ideias e
pensamentos subjetivos devem ser temidas Gostam de dar conselhos a todo mundo.
Apossam-se de cada oportunidade para impor suas ideias aos outros. Deus não
pode jamais usar uma pessoa tão cheia de opiniões, ideias e pensamentos para
representar a sua autoridade. Por exemplo, quem jamais empregaria um perdulário
como seu contador? Fazê-lo seria dar lugar a profundos sofrimentos. Deus também
não empregará um homem cheio de opiniões como sua autoridade delegada para não
vir também a sofrer danos. Se não formos totalmente quebrantados pelo Senhor
não estaremos qualificados como autoridade delegada por Deus. Deus nos convoca
para representarmos sua autoridade, não para a substituirmos. Deus é soberano
em sua personalidade e posição. Sua vontade é sua. Ele jamais consulta o homem
nem permite que alguém seja o seu conselheiro. Consequentemente, aquele que
representa a autoridade não pode ser uma pessoa subjetiva.
Isto
não implica dizer que para ser usado por Deus deve reduzir-se a não ter nenhuma
opinião, nenhum pensamento e nenhum julgamento. De modo nenhum. Significa
simplesmente que o homem deve ser verdadeiramente quebrantado; sua inteligência
e suas opiniões e seus pensamentos devem todos ser quebrantados. Aqueles que
são naturalmente comunicativos, dogmáticos e presunçosos precisam de um
tratamento radical, um amansamento básico. Isto é algo que não pode ser nem
doutrina nem imitação. Tem de constituir feridas na carne. Só depois que uma
pessoa é açoitada por Deus começa a viver em temor e tremor diante dele. Não se
atreve a abrir a boca inadvertidamente. Se a sua experiência não passar de
doutrina ou imitação, com o passar do tempo as folhas da figueira logo secarão
(Gn. 3:7) e seu estado original reaparecerá. É fútil controlarmo-nos por nossa
própria vontade. No muito falar logo nos esqueceremos de nós mesmos e
revelaremos o ego verdadeiro. Como é preciso que sejamos derrubados pela luz de
Deus! Como Balaão em Números 22:25, temos de ser empurrados de encontro à
parede para que nosso pé seja esmagado. Então sentiremos dor ao nos
movimentarmos e não teremos mais coragem de falar levianamente. Não é
necessário aconselhar a pessoa que teve o seu pé esmagado que ande devagar. Só
através de tão dolorosas experiências como esta é que seremos libertados de nós
mesmos. Na posição de autoridade delegada não devemos expressar nossos próprios
pontos de vista nem desejar ardentemente interferir nos negócios dos outros.
Alguns parecem se considerar cortes supremas de justiça. Imaginam que sabem tudo
na igreja e tudo no mundo. Têm opinião pronta sobre tudo e todos, prontamente
apresentando seus ensinamentos como se fossem o evangelho. Uma pessoa subjetiva
jamais aprendeu a disciplina, nem jamais passou por um tratamento sério. Sabe
tudo e pode fazer tudo. Suas opiniões e métodos são incontáveis como os muitos
itens de uma mercearia. Tal pessoa é básicamente desqualificada como
autoridade, porque a exigência básica para ser autoridade delegada por Deus é
não abrigar nenhum pensamento ou opinião que seja sua própria.
3.
Deve constantemente estar em comunhão com o Senhor.
Aqueles
que são autoridades delegadas por Deus precisam manter íntima comunhão com
Deus. Não deve haver apenas comunicação, mas também comunhão. Qualquer um que
oferece opiniões apressadamente e fala em nome do Senhor levianamente está
muito longe de Deus.
Aquele que menciona o nome de Deus casualmente
só prova a enorme distância em que se encontra de Deus. Aqueles que estão perto
de Deus, têm um temor piedoso; saber como expressar levianamente suas próprias
opiniões é desonroso. A comunhão, portanto, é outra exigência principal para
aquele que está em autoridade.
Quanto
mais perto uma pessoa se encontra do Senhor, mais claramente vê suas próprias
faltas. Tendo sido colocado face à face
com Deus, não se atreve depois a falar com tanta firmeza. Não tem confiança em
sua carne; começa a temer que esteja errado. Por outro lado, aqueles que falam
levianamente denunciam o quanto estão afastados de Deus. O temor de Deus não
pode ser simulado; só aqueles que sempre esperam no Senhor possuem esta
virtude. Embora tivesse ouvido muito, só depois que a Rainha de Sabá se colocou
realmente na presença de Salomão é que ficou atônita.
Mas nós temos alguém que é maior do que
Salomão diante de nós. Deveríamos ficar sem fôlego, aguardando à porta como
servos, reconhecendo que realmente nada sabemos. Nada é mais sério do que um
servo de Deus que fala apressadamente antes de saber qual é a vontade de Deus.
Que problemas se criam quando se faz um julgamento antes de ter claro qual é a
vontade do Senhor! "Então lhes falou Jesus: Em verdade, em verdade vos
digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir
fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o
faz... Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço, julgo. O meu
juízo é justo porque não procuro a minha própria vontade, e, sim, a daquele que
me enviou" (João 5:19, 30). Do mesmo modo deveríamos aprender a ouvir, a
conhecer e a compreender. Isto só vem através de comunhão íntima com o Senhor.
Só aqueles que vivem na presença de Deus e aprendem com ele estão qualificados
a falar diante dos irmãos e irmãs. Só eles sabem o que fazer quando há
dificuldades entre os irmãos ou problemas na igreja. Posso falar francamente
que a dificuldade hoje em dia é que muitos dos servos de Deus são ousados
demais ou intransigentes demais ou dominadores demais. Atrevem-se a falar o que
não ouviram de Deus! Mas com que autoridade você diz isto? Quem lhe garante
autoridade? O que o torna diferente dos demais irmãos e irmãs? Que autoridade
você tem se você não tem certeza de que aquilo que você diz é a palavra de
Deus? A autoridade é representativa em natureza, não inerente. Significa que é
preciso viver diante de Deus, aprendendo e sendo ferido para que não se projete
a si mesmo. Ninguém deveria se enganar considerando-se ele próprio a
autoridade. Só Deus tem autoridade; ninguém mais a possui. Quando a autoridade
de Deus flui para mim, flui então através de mim para os outros o que me torna
diferente dos outros é Deus, não eu mesmo. Por isso temos de aprender a temer a
Deus e evitar fazer qualquer coisa levianamente. Devemos confessar que não
somos diferentes dos outros irmãos e irmãs. Se Deus fez arranjos para que hoje eu
aprendesse a ser sua autoridade delegada, devo viver em sua presença, ter
comunhão com ele continuamente, e buscar conhecer sua mente. Se não perceber
algo ali com Deus, nada tenho a dizer aqui aos homens. Por que usamos a palavra
"comunhão"? Porque devemos viver na presença do Senhor continuamente,
não só de vez em quando. Sempre que nos afastamos de Deus, o caráter de nossa
autoridade se modifica. Que o Senhor seja misericordioso conosco e possamos
sempre viver diante dele, temendo-o. Estas são as exigências principais de uma
autoridade delegada. Considerando que a autoridade vem de Deus, não temos nada
dela em nós mesmos; somos apenas representantes. Considerando que a autoridade
não é nossa, não deveríamos ser subjetivos em nossa atitude. E considerando que
a autoridade vem de Deus temos de viver em comunhão com ele. Se a comunhão for
interrompida, a autoridade também cessa.
Jamais
tente estabelecer sua própria autoridade
A
autoridade é estabelecida por Deus; portanto nenhuma autoridade delegada
precisa tentar assegurar-se de sua autoridade. Não insista em que outros lhe
dêem ouvidos. Se erram, deixe que errem; se não se submetem, que fiquem
insubordinados; se insistem em fazer a sua própria vontade, deixe. Uma
autoridade delegada não deve lutar com os homens. Por que deveria eu exigir que
me ouçam se não sou autoridade estabelecida por Deus? Por outro lado, se sou
estabelecido por Deus, preciso ter medo que os homens não se me submetam? Todo
aquele que se recusa a me ouvir, desobedece a Deus. Não é necessário que eu
force as pessoas a me ouvirem.
Deus
é meu apoio, por que então eu deveria temer? Jamais deveríamos dizer uma
palavra que fosse para apoiar nossa autoridade; antes, vamos conceder às
pessoas a sua liberdade. Quanto mais Deus nos confia, mais liberdade garantimos
às pessoas. Aqueles que têm sede do Senhor virão a nós. É muitíssimo desonroso
falar em benefício de nossa própria autoridade ou tentar estabelecer nossa
própria autoridade. Embora Davi fosse ungido por Deus e escolhido para ser rei,
durante muitos anos permaneceu sob a mão de Saul. Não estendeu sua mão para
instituir sua própria autoridade. Do mesmo modo, se Deus designou você como
autoridade, você também deveria ser capaz de suportar a oposição dos outros.
Mas se você não foi constituído por Deus, qualquer esforço que fizer para
estabelecer sua autoridade será dolorosamente fútil. Não gosto de ouvir alguns
maridos dizendo a suas esposas: "Eu sou autoridade estabelecida por Deus;
por isso você tem de me ouvir"; nem tenho qualquer prazer em ouvir os
anciãos da igreja dizer aos irmãos e irmãs: "Sou autoridade designada por
Deus".
Amados,
jamais tentem estabelecer sua própria autoridade. Se Deus o escolher, receba-a
com humildade; se Deus não o chamar, por que você deveria lutar por isso? Qualquer
tentativa de se estabelecer como autoridade deve ser totalmente erradicada do
nosso meio. Que Deus estabeleça sua autoridade; que nenhum homem o tente. Se
Deus realmente o designar como autoridade, você tem duas alternativas pela
frente: desobedecer e retroceder espiritualmente ou obedecer e receber graça.
Quando a autoridade que lhe foi delegada for testada, não faça nada. Não se
apresse, não lute, não fale por si mesmo. As pessoas não estão se rebelando
contra você, mas contra Deus. Pecam contra a autoridade de Deus, não contra a
sua autoridade. A Pessoa a quem desonram, criticam e se opõem não é você. Se a
sua autoridade é realmente de Deus, aqueles que se opõem encontrarão bloqueado
seu caminho espiritual; não receberão mais revelação. O governo de Deus é um
assunto seríssimo! Que Deus nos conceda a graça de reconhecer o que é
autoridade, temendo a Deus e não confiando em nós mesmos!
CAPÍTULO 13
A principal
credencial para delegação de autoridade: Revelação
Apascentava
Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Midiã; e, levando o rebanho
para o lado ocidental do deserto, chegou ao monte de Deus, a Horebe.
Apareceu--Ihe o Anjo do Senhor numa chama de fogo do meio duma sarça; Moisés
olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia. Então disse
consigo mesmo: Irei para lá, e verei essa grande maravilha, porque a sarça não
se queima. Vendo o Senhor que ele se voltava para ver, Deus, do meio da sarça,
o chamou, e disse: Moisés, Moisés! Ele respondeu: Eis-me aqui. Deus continuou:
Não te cheques para cá; tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás
é terra santa. Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus
de Isaque, e o Deus de Jacó. Moisés escondeu o rosto, porque temeu olhar para
Deus. Disse ainda o Senhor: certamente vi a aflição do meu povo, que está no
Egito, e ouvi o seu clamor por causa dos seus exatores. Conheço-Ihe o
sofrimento, por isso desci a fim de livra-lo da mão dos egípcios, e para
fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e ampla, terra que mana leite e
mel; o lugar do cananeu, do heteu, do amorreu, do ferezeu, do heveu e do
jebuseu. Pois o clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e também vejo a
opressão com que os egípcios os estão oprimindo. Vem, agora, e eu te enviarei a
Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito. Então disse
Moisés a Deus: Quem sou eu para ir a Faraó e tirar do Egito os filhos de Israel
? Deus lhe respondeu: Eu serei contigo; e este será o sinal de que eu te
enviei: depois de haveres tirado o povo do Egito, servireis a Deus neste monte
(Êx. 3:1-12).
Falaram
Miriã e Arão contra Moisés, por causa da mulher etíope, que tomara; pois tinha
tomado a mulher cusita. E disseram: Porventura tem falado o Senhor somente por
Moisés? não tem falado também por nós? O Senhor o ouviu. Era o varão Moisés mui
manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra. Logo o Senhor disse
a Moisés, e a Arão, e a Miriã: Vós três saí à tenda da congregação. E saíram
eles três. Então o Senhor desceu na coluna da nuvem, e se pôs à porta da tenda;
depois chamou a Arão e a Miriã, e eles se apresentaram. Então disse: Ouvi agora
as minhas palavras; se entre vós há profeta, eu, o Senhor, em visão a ele me
faço conhecer, ou falo com ele em sonhos. Não é assim com o meu servo Moisés,
que é fiel em toda minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente, e não por
enigmas; pois ele vê a forma do Senhor; como, pois, não temestes falar contra o
meu servo, contra Moisés? E a ira do Senhor contra eles se acendeu; e
retirou-se. A nuvem afastou-se de sobre a tenda; e eis que Miriã achou-se
leprosa, branca como neve; e olhou Arão para Miriã, e eis que estava leprosa.
Então disse Arão a Moisés: Ai! senhor meu, não ponhas, te rogo, sobre nós este
pecado, pois loucamente procedemos, e pecamos. Ora não seja ela como um aborto,
que saindo do ventre de sua mãe, tenha metade de sua carne já consumida. Moisés
clamou ao Senhor, dizendo: ó Deus, rogo--te que a cures. Respondeu o Senhor a
Moisés: Se seu pai lhe cuspira no rosto, não seria envergonhada por sete dias?
Seja detida sete dias fora do arraial, e depois recolhida. Assim Miriã foi
detida fora do arraial por sete dias; e o povo não partiu, enquanto Miriã não
foi recolhida (Nm. 12).
Nenhuma
autoridade delegada por Deus no Velho Testamento foi maior do que a de Moisés,
consequentemente podemos usá-lo como exemplo. Por enquanto passaremos sobre
todas as ordens que recebeu de Deus e focalizaremos sua reação quando sua
autoridade foi transgredida, ridicularizada, enfrentada e rejeitada. Antes do
período em que Deus lhe concedeu autoridade, Moisés matou um egípcio e
repreendeu os hebreus porque brigavam. Quando foi desafiado por um hebreu
("Quem te pôs por príncipe e juiz sobre nós?"), Moisés perturbou-se e
fugiu. Nessa ocasião ainda não experimentara a cruz e a ressurreição; tudo
fazia através de suas forças naturais. Embora fosse rápido em repreender e
ainda mais corajoso para matar, por dentro era fraco e vazio. Não podia passar
por uma provação. Quando provado, ficou com medo e fugiu para o deserto de
Midiã. Ali, durante quarenta anos, aprendeu lições. Depois desse longo período
de provações, Deus lhe deu certo dia uma visão da sarça ardente. A sarça ardia,
mas não se consumia. Com esta visão, Deus lhe concedeu autoridade. Vamos agora
passar adiante para ver como Moisés reagiu mais tarde quando seu irmão Arão e
sua irmã Miriã falaram contra ele e rejeitaram sua autoridade delegada.
Não
dê ouvidos a palavras caluniosas
Perguntaram
a Moisés: Só você fala em nome de Deus — você que se casou com uma mulher
cusita? Deus também não tem falado por nosso intermédio? Como pode a semente de
Sem casada com a semente de Cão continuar no ministério de Deus? Não podemos
nós ministrar, nós que somos filhos de Sem e não estamos casados com os filhos
de Cão? Sobre tudo isto, a Bíblia simplesmente registra: "O Senhor o
ouviu." Foi como se Moisés não tivesse tomado conhecimento. Encontramos
aqui um homem que não se perturbava com as palavras dos homens, pois estava
além do alcance de suas palavras caluniosas., Todos aqueles que desejam ser
porta-vozes de Deus e desejam ajudar seus irmãos e irmãs devem aprender a não
dar ouvidos a calúnias. Que Deus se encarregue disso. De sua parte, não dê a
menor atenção às críticas das pessoas; não se zangue por causa das palavras dos
outros. Aqueles que se perturbam e se sentem esmagados por palavras caluniosas
provam que não têm capacidade para receber autoridade delegada.
Não
se defenda
Vingança
ou defesa ou qualquer outra reação deve proceder de Deus, não do homem. Aquele
que se vinga não conhece a Deus. Ninguém sobre a face da terra jamais poderia
ter mais autoridade do que Cristo, mas ele jamais se defendeu. A autoridade e a
autodefesa são incompatíveis. Aquele contra o qual você se defende torna-se o
seu juiz. Ele se coloca em posição mais alta quando você começa a responder às
suas críticas. Aquele que fala de si mesmo está sob julgamento; portanto não
tem autoridade. Sempre que uma pessoa tenta se justificar, perde a sua
autoridade. Paulo se colocou diante dos crentes coríntios como autoridade
delegada e declarou: "Nem eu tão pouco julgo a mim mesmo" (1 Co.
4:3). A vingança vem de Deus. No momento em que você se justifica diante de uma
pessoa, ela se torna o seu juiz. Tão-logo você tenta se explicar você cai diante
dela
Muito
manso
O
versículo 2 de Números 12 registra que Deus ouviu a calúnia e o versículo 4,
que Deus agiu. Mas entre os dois vem o versículo 3 como um parêntesis,
declarando: "Era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que
havia sobre a terra." Moisés não argumentou porque percebeu que tinha
errado. Deus não pode conceder autoridade a uma pessoa teimosa. Aqueles que ele
estabelece como autoridades são os mansos e sensíveis — e não se trata de uma
mansidão comum, é a mansidão divina.
Não devemos nunca tentar estabelecer nossa
própria autoridade. Quanto mais tentamos, menos autoridade temos. Não são os
violentos ou os fortes, mas um homem como Paulo — cuja presença física é fraca
e cujas palavras não impressionam — que Deus coloca em posição de autoridade.
Senhor disse que o seu reino não é deste mundo e portanto os seus servos não
precisam lutar por ele. Autoridade obtida através de lutas não é concedida por
Deus.
As
pessoas geralmente presumem que estas coisas são requisitos necessários para ter-se
autoridade: esplendor ou magnificência; força de personalidade, boa aparência;
e poder. Para se colocar em posição de autoridade, raciocinam, é preciso que a
pessoa tenha forte determinação, idéias inteligentes e lábios eloquentes. Mas
não são estes que representam a autoridade; pelo contrário, são carnais.
Ninguém no Velho Testamento ultrapassou Moisés em autoridade concedida por
Deus, mas ele foi o mais manso de todos os homens. Enquanto estava no Egito foi
bastante violento, matando o egípcio o repreendendo os hebreus. Lidou com as
pessoas com sua própria mão carnal.
Por
isso, naquela ocasião, Deus não o designou como autoridade. Só depois que
passou por muitas provações e foi moldado por Deus, só depois que se tornou
muito manso — mais do que todos os homens da terra — Deus o usou como
autoridade. A pessoa menos provável de receber autoridade é geralmente aquela
que se les que ele estabelece como autoridades são os mansos e sensíveis — e
não se trata de uma mansidão comum, é a mansidão divina. Não devemos nunca
tentar estabelecer nossa própria autoridade. Quanto mais tentamos, menos
autoridade temos.
Não são os violentos ou os fortes, mas um
homem como Paulo — cuja presença física é fraca e cujas palavras não
impressionam — que Deus coloca em posição de autoridade. Senhor disse que o seu
reino não é deste mundo e portanto os seus servos não precisam lutar por ele.
Autoridade obtida através de lutas não é concedida por Deus. As pessoas
geralmente presumem que estas coisas são requisitos necessários para ter-se
autoridade: esplendor ou magnificência; força de personalidade, boa aparência;
e poder. Para se colocar em posição de autoridade, raciocinam, é preciso que a
pessoa tenha forte determinação, idéias inteligentes e lábios eloquentes. Mas
não são estes que representam a autoridade; pelo contrário, são carnais.
Ninguém no Velho Testamento ultrapassou Moisés em autoridade concedida por
Deus, mas ele foi o mais manso de todos os homens. Enquanto estava no Egito foi
bastante violento, matando o egípcio o repreendendo os hebreus. Lidou com as
pessoas com sua própria mão carnal. Por isso, naquela ocasião, Deus não o
designou como autoridade. Só depois que passou por muitas provações e foi
moldado por Deus, só depois que se tornou muito manso — mais do que todos os
homens da terra — Deus o usou como autoridade. A pessoa menos provável de
receber autoridade é geralmente aquela que se considera uma autoridade. Do
mesmo modo, quanto mais autoridade uma pessoa pensa que tem, menos a possui na
realidade.
Revelação:
uma credencial de autoridade
"Logo
o Senhor disse a Moisés, e a Arão, e a Miriã: Vós três saí à tenda da
congregação." "Logo" significa "inesperadamente". Arão
e Miriã devem ter falado contra Moisés muitas vezes, mas agora Deus
abruptamente convocou os três à tenda da congregação. Muitos que se rebelam
contra a autoridade fazem-no fora da tenda. É muito fácil e conveniente
criticar em casa; mesmo assim, tudo será esclarecido na tenda da congregação.
Quando os três se apresentaram na tenda, o Senhor disse a Arão e Miriã:
"Ouvi-agora as minhas palavras." No passado murmuraram:
"Porventura tem o Senhor falado somente por Moisés?" Agora o Senhor
lhes pediu que viessem e ouvissem suas palavras, revelando o fato de que nunca
tinham ouvido antes as palavras divinas. Arão e Miriã jamais souberam o que
Deus dizia. Foi a primeira vez em que o Senhor lhes falou — e não foi em
revelação mas em repreensão, não a manifestação da glória de Deus mas o
julgamento de sua conduta. "Ouvi agora as minhas palavras" significa não
só que o Senhor não tinha falado antes, mas também indica que desejava
permissão para falar desta vez considerando que eles já tinham falado tanto.
"Vocês que falam tanto, ouçam agora as minhas palavras!" Disto
concluímos claramente que as pessoas que falam muito não podem ouvir a palavra
de Deus; só os mansos podem. Moisés não era pessoa de falar muito mas fazia o
que lhe mandavam. Não lhe fazia diferença avançar ou retroceder contanto que
fosse ordem de Deus.
Arão
e Miriã, entretanto, eram diferentes; eram duros e obstinados. Assim Deus
chegou a dizer: "Se entre vós há profeta", como se tivesse esquecido
que eles eram profetas. Embora Arão e Miriã fossem profetas, o Senhor só se
lhes revelava em sonhos e visões. Com Moisés era diferente, porque Deus falava
com ele boca a boca, claramente, e não por meio de enigmas. Foi a vingança
divina. Moisés recebeu revelação, não Arão e Miriã; pois são aqueles que se
encontram face a face com Deus que ele estabelece como autoridades. Estabelecer
autoridades pertence à jurisdição de Deus; o homem não tem permissão de se
intrometer, nem pode a calúnia humana repudiar qualquer autoridade. Fora Deus
quem estabelecera a Moisés e só Deus poderia rejeitá-lo. Era negócio de Deus;
nenhuma pessoa podia interferir, portanto, com o que Deus tinha estabelecido.
O
valor de um homem diante de Deus não se decide pelo julgamento dos outros ou do
próprio homem. Ele é medido pela revelação que recebe de Deus. A revelação é a
avaliação e a medida divinas. A autoridade se estabelece sobre a revelação de
Deus, e sua estimativa de uma pessoa de acordo com essa revelação. Se Deus
concede revelação, estabelece-se autoridade; mas quando sua revelação é
retirada, o homem é rejeitado. Se quisermos aprender a ter autoridade temos de
prestar atenção ao nosso estado diante de Deus Se Deus está pronto a nos
conceder revelação e a nos falar claramente, se temos com ele comunhão face a
face, então ninguém pode nos eliminar.
Mas se essa nossa comunicação acima for
interrompida e os céus se fecharem, e apesar disso continuarmos prosperando na
terra, tudo resultará em nada. O céu aberto é o selo de Deus e o testemunho da
filiação. Depois que o Senhor Jesus foi batizado, os céus se abriram para ele.
O
batismo simboliza morte. Foi quando ele entrou na morte e nos maiores
sofrimentos, quando tudo escureceu à sua volta e não havia nenhuma saída, que
os céus se abriram. A revelação portanto é evidência de autoridade. Precisamos
aprender a não lutar e falar por nós mesmos. Não devemos nos alistar nas
fileiras de Arão e Miriã na luta pela autoridade. Na verdade, se lutarmos, só
provaremos que nossa autoridade é totalmente carnal, das trevas, e desprovida
de visão celestial. Moisés "é fiel em toda a minha casa" (Nm. 12: 7).
Moisés, um tipo de Cristo, foi fiel na casa de Israel. Deus o chamou de
"meu servo". Ser servo de Deus simplesmente significa que pertenço a
Deus, que sou sua propriedade, que fui comprado por ele e que, portanto, perdi
a minha liberdade. Isto explica por que Deus não pode permanecer quieto mas
fala quando seus servos são caluniados. Não temos necessidade de nos
vindicarmos a nós mesmos. Que bem recebo se falo, quando Deus não se adianta
para fazê-lo? Se nossa autoridade for de Deus não necessitamos fortalecê-la. A
revelação será a prova. Se existem aqueles que falam contra nós, que Deus
desvie seus suprimentos e encerre suas revelações para eles, provando assim que
fomos por ele designados. Qualquer um que ofenda as autoridades delegadas por
Deus ofende àquele que representam. Se pertence ao Senhor, descobrirá que os
céus estão fechados acima dele e terá que humildemente reconhecer aquelas
autoridades que Deus estabeleceu. Portanto, ninguém precisa fortalecer sua
própria autoridade; tudo depende da prova divina. Cancelando a revelação aos
outros, Deus lhes prova a quem ele designou como sua autoridade delegada.
Nenhum
sentimento pessoal
"Como
pois, não temestes falar contra o meu servo, contra Moisés?" perguntou
Deus. Para ele, tal calúnia foi simplesmente terrível. Deus, sendo Deus, sabe o
que é amor, o que é luz, e o que é glória. Mas será que sabe o que é o medo?
Sem dúvida sabe, pois aqui ele temeu por Arão e Miriã. Na qualidade de Deus,
nada tinha a temer; não obstante, declarou àquelas duas pessoas que coisa
terrível tinham feito. Por causa disso deixou de falar com elas e afastou-se
irado. É assim que Deus manteve sua autoridade, não a autoridade de Moisés. Ele
não disse: — Por que vocês falaram contra Moisés?, mas: — Por que vocês falaram
contra o meu servo Moisés? Ele não permite que alguém prejudique sua
autoridade. Se a sua autoridade é desafiada, afas-ta-se irado. Assim, a nuvem,
que representava a presença de Deus, afastou-se da tenda; e eis que Miriã ficou
leprosa. Arão o viu e ficou com medo, pois ele também participara da rebelião,
embora Miriã sem dúvida assumisse a liderança.
A
tenda recusou-se dar revelação e Moisés não abriu a sua boca. Embora Moisés
fosse um homem eloquente, manteve-se em silêncio. Aqueles que não sabem como
controlar seus corações e lábios não servem como autoridade. Mas quando Arão
rogou a Moisés, este clamou ao Senhor. Durante todo o caso Moisés agiu como se
não fosse mais que um espectador. Não tinha interesse pessoal; não murmurou nem
reprovou. Não tinha intenções de julgar ou punir. Mas tão-logo o propósito de
Deus se realizou, rapidamente perdoou.
Autoridade
se estabelece para executar ordens de Deus, não para edificação pessoal. Dá aos
filhos de Deus consciência dele, não da própria pessoa. O que importa é ajudar
as pessoas a se sujeitarem à autoridade de Deus; era portanto um assunto sem
importância para Moisés o ser rejeitado. Por isso Moisés clamou ao Senhor:
"ó Deus, rogo-te que a cures." Vamos nós também nos libertar de
sentimentos pessoais, pois sua presença prejudica os negócios divinos e impede
a mão de Deus.
Se Moisés não conhecesse a graça de Deus,
certamente teria dito a Arão: "Por que você mesmo não ora a Deus uma vez
que insiste que Deus também lhe fala?" E Moisés poderia também ter dito a
Deus: "Vinga-me ou eu pedirei demissão!" Mas Moisés nem se defendeu
nem procurou vin-gar-se de Arão e Miriã, nem aproveitou-se da vigança divina.
Não tinha sentimentos pessoais, porque não vivia para si mesmo. Sua vida
natural já fora resolvida; e assim prontamente rogou pela saúde de Miriã. Sua
atitude foi como a de Cristo quando pediu a Deus que perdoasse àqueles que o
crucificaram.
Assim Moisés provou ser autoridade delegada
por Deus, pois foi capaz de representar Deus. Não foi prejudicado pela vida
natural, nem se protegeu procurando defesa ou vingança. A autoridade de Deus
podia ser propagada através dele sem nenhum impedimento. Na verdade, as pessoas
encontravam nele a autoridade de Deus. Ser autoridade delegada não é de modo
nenhum uma coisa fácil, porque exige um esvaziamento do ego.
CAPÍTULO 14
O caráter da
autoridade delegada: Benevolência
A primeira
reação de Moisés para com a rebelião: prostrou-se
Não
houve nenhuma rebelião, da parte dos israelitas, mais séria do que a registrada
em Números, capítulo 16. O líder da rebelião foi Core, filho de Levi, com Datã
e Abirão, filhos de Rúben, apoiados por duzentos e cinquenta líderes da
congregação. Reuniram-se e com palavras fortes atacaram Moisés e Arão
(versículo 3). A calúnia de Números 12 foi apenas da parte de Arão e Miriã, e
ainda assim foi mais oculta. Mas aqui a rebelião foi coletiva e o ataque contra
Moisés e Arão foi franco e direto. Portanto, nesta situação, vamos prestar
especial atenção a: 1) Qual foi a posição e atitude pessoal de Moisés? e 2)
Como Moisés reagiu diante da crise, como respondeu aos rebeldes?
A
primeira reação de Moisés foi esta: "caiu sobre o seu rosto"
(versículo 4). Esta é a atitude exata que todo servo de Deus deveria ter. O
povo estava nervoso e muitos falavam, mas só Moisés se prostrou ao chão. Aqui
novamente colocamo-nos diante de alguém que conhece a autoridade. Sendo
verdadeiramente dócil, não tinha nenhum sentimento pessoal. Nem se defendeu nem
ficou irritado. A primeira coisa que fez foi cair sobre o seu rosto. Então lhes
disse: "O Senhor fará saber quem é dele, e quem o santo que ele fará
chegar a si: aquele a quem escolher fará chegar a si" (versículo 5). Não
foi necessário lutar. Moisés não se atreveu a dizer algo de si mesmo, porque
sabia que o Senhor mostraria quem era dele. Seria melhor permitir que Deus fizesse
a distinção. Moisés tinha fé e assim atreveu-se a confiar tudo a Deus. O Senhor
faria o seu julgamento na manhã seguinte quando todos comparecessem diante dele
com incenso. As palavras de Moisés foram mansas mas de peso: "Basta-vos,
filhos de Levi." Foi o suspiro de um velho que conhecia Deus muito bem
(versículo 7).
Exortação
e Restauração
Moisés exortou a Coré com palavras
para restaurá-lo. Ele sabia a seriedade do assunto e realmente estava
preocupado com os rebeldes. Não só suspirou mas exortou-os também, dizendo:
"Ouvi agora, filhos de Levi: Acaso é para vós outros cousa de somenos que
o Deus de Israel vos separou da congregação de Israel, para vos fazer chegar a
si, a fim de cumprirdes o serviço do tabernáculo do Senhor e estar perante a
congregação para ministrar-lhe . .. Ainda também procurais o sacerdócio? Pelo
que tu e todo o teu grupo juntos estais contra o Senhor; e Arão, que é ele,
para que murmureis contra ele?" (versículos 8-11).
Exortação
não e uma expressão de senhorio; antes, exibe mansidão. Aquele que persuade
diante de ataques é verdadeiramente uma pessoa mansa. Mas aquele que permite
que as pessoas permaneçam no erro sem nenhuma intenção de restaurá-las mostra
que tem um coração duro. Não exortar numa situação dessas seria falta de humildade;
obviamente daria idéia de orgulho. Moisés estava pronto a exortá-los quando
atacado e, então depois, deu aos seus caluniadores toda uma noite para que se
arrependessem.
Moisés
lidou com os rebeldes separadamente. Primeiro com Coré, o levita, depois com
Datã e Abirão. Enviou alguém para buscar Datã e Abi-rão mas eles recusaram-se,
claramente indicando que nada mais tinham a ver com Moisés (versículo 12). Na
atitude de Moisés vemos que aqueles que representam autoridade procuram a
restauração, não a divisão, mesmo depois de serem rejeitados. Aqueles homens
rebeldes acusaram Moisés de tê-los tirado de uma terra que manava leite e mel
(versículo 13). Que acusação absurda. Já tinham se esquecido de que em vez de
leite e mel no Egito eram forçados a fazer tijolos e às vezes até mesmo sem o
fornecimento de palha. Aqueles rebeldes não foram diferentes dos dez espias
que, depois de ver claramente a abundância de Canaã, recusaram-se a entrar
nela, e ainda acusaram Moisés. Sua rebeldia atingiu o ponto que não tem
retorno. Nada restava além do julgamento. Por isso Moisés ficou muito zangado e
procurou o Senhor para uma revelação de fatos (versículo 15).
Deus veio para julgar. Não só consumiria Core,
que era o principal instigador, mas também a congregação que seguira a Core.
Mas Moisés caiu com o rosto em terra e rogou pela congregação (versículo 22).
Deus atendeu sua oração e poupou a congregação mas ordenou que todos se
afastassem das tendas dos culpados. Então julgou Core, Data e Abirão.
Nenhum espírito de julgamento
Enquanto
Deus se preparava para julgar os rebeldes, Moisés declarou: "...o Senhor
me enviou a realizar todas estas obras, que não procedem de mim mesmo"
(versículo 28). Até onde iam seus próprios sentimentos, não tinha intenção de
julgar ninguém que se rebelara contra ele. Provou ser o verdadeiro servo de
Deus quando insistiu que aquelas pessoas não tinham pecado contra ele mas
contra Deus. Que possamos aprender como tocar o espírito do homem. Vemos que em
Moisés não havia a menor intenção de julgar. Agiu em obediência a Deus porque
era o servo de Deus. Não tinha sentimentos pessoais exceto que achava que
tinham pecado contra Deus. Além disso explicou que o Senhor o comprovaria
através de uma coisa nova (versículo 30). Assim Deus executou um grande
julgamento para estabelecer a autoridade de Moisés. Três famílias foram
destruídas e duzentos e cinquenta e seis líderes foram consumidos pelo fogo
(versículos 27-35).
O caminho da rebeldia leva ao Seol;
rebelião e morte estão ligadas. Autoridade é algo que Deus estabelece; todos
aqueles que ofendem suas autoridades estabelecidas desprezam a Deus Mas em
Moisés encontramos uma autoridade delegada que nunca tinha sua própria opinião
nem um espírito julgador.
Intercessão e expiação
Embora toda a congregação de Israel
testemunhasse que a terra se abriu e engoliu as famílias rebeldes, e embora
fugissem aterrorizados, seu medo era apenas quanto ao castigo, não de Deus.
Falharam em compreender Moisés; seus corações permaneceram intocados. Por isso,
após uma noite de reflexão, rebelaram-se outra vez no dia seguinte (versículo
41). Se a pessoa não tem um encontro com a graça de Deus, sua condição interior
permanece a mesma. Toda a congregação murmurou contra Moisés e Arão,
declarando: "Vós matastes o povo do Senhor" (versículo 41).
Vamos
agora observar toda a história de como essas autoridades delegadas reagiram
diante de tal atitude contra elas. Humanamente falando, Moisés deveria ficar
zangado com o ataque. Claramente, o acontecido fora obra de Deus; por que
murmuravam contra ele? Por que não murmuraram contra Deus em lugar de se
voltarem contra sua autoridade delegada? Mas a reação de Deus foi mais rápida
do que a de Moisés e Arão. Eis que a nuvem cobriu a tenda e a glória do Senhor
apareceu (versículo 42).
Deus
veio para julgar a congregação, e assim ele disse a Moisés e Arão que se
afastassem do meio do povo. Foi como se Deus dissesse a Moisés e Arão: sua
oração de ontem foi um erro, hoje vou aniquilar toda a congregação. Não
obstante Moisés e Arão caíram sobre seus rostos pela terceira vez (versículo
45). O senso espiritual de Moisés era tão aguçado que percebeu imediatamente
que este problema poderia ser solucionado só pela oração. O pecado de ontem não
fora tão declarado como o de hoje. Rapidamente disse a Arão que pegasse o seu
incensário, fosse à congregação e fizesse expiação por eles (versículo 46).
Moisés certamente era a pessoa indicada para autoridade delegada.
Ele
sabia que consequências trágicas poderiam advir ao povo de Israel, e ainda esperava
que Deus fosse gracioso em perdoar. Seu coração estava cheio de amor e
compaixão, o anseio de alguém que verdadeiramente conhece a Deus. Moisés não
era sacerdote, por isso pediu a Arão que fosse rapidamente fazer expiação pelo
povo. Eis aí intercessão mais expiação. A praga já tinha começado entre o povo;
Arão agora se colocou entre os mortos e vivos; o resultado foi que a praga foi
interrompida. Aqueles que morreram da praga foram quatorze mil e setecentas
pessoas (versículo 49). Se Moisés e Arão estivessem menos alertas, certamente
muito mais gente teria morrido.
A
graça expiadora que vemos em Moisés foi admiravelmente semelhante à que vemos
no seu Senhor. Preocupou-se com o povo de Deus e assumiu a responsabilidade
pelos obedientes e rebeldes. Uma pessoa que só se preocupa consigo mesma e que
geralmente se queixa da responsabilidade que tem pelos outros, não serve para
representar autoridade! O modo pelo qual uma pessoa reage mostra o tipo de
pessoa que é. Muitos pensam em apenas salvar as aparências e são extremamene
sensíveis à crítica dos outros. Todos os seus pensamentos são egocentralizados.
Moisés, entretanto, era fiel em toda a casa de Deus. Possivelmente se a casa de
Deus sofresse, Moisés, na sua carne ficaria satisfeito; mas ele não teria sido
um servo fiel.
Um servo fiel, embora pessoalmente rejeitado e
desprezado, carrega o fardo de muitos. Os israelitas rebelaram-se contra
Moisés, mas Moisés assumiu seus pecados; eles se lhe opuseram e rejeitaram, mas
ainda assim intercedeu por eles. Se nos preocuparmos apenas com nossos próprios
sentimentos não seremos capazes de assumir os problemas dos filhos de Deus.
Portanto, confessemos nosso pecado, reconhecendo que somos demasiadamente
pequenos e duros. O desejo de Deus para nós é que tenhamos graça em nós.
Sejamos tais que Deus tenha permissão de julgar em todas as coisas. A graça
para com os outros é o caráter de todo aquele que está em posição de
autoridade.
CAPÍTULO 15
A base para a delegação de autoridade:
Ressurreição
Disse
o Senhor a Moisés: Fala aos filhos de Israel, e recebe deles varas, uma pela
casa de cada pai de todos os seus príncipes segundo as casas de seus pais, isto
é, doze varas; escreve o nome de cada um sobre a sua vara. Porém o nome de Arão
escreverá sobre a vara de Levi; porque cada cabeça da casa de seus pais terá
uma vara. E as porás na tenda da congregação, perante o testemunho, onde eu vos
encontrarei. A vara do homem que eu escolher, essa florescerá; assim farei
cessar de sobre mim as murmurações que os filhos de Israel proferem contra vós.
Falou, pois, Moisés aos filhos de Israel, e todos os seus príncipes lhe deram
varas, cada um lhe deu uma, segundo as casas de seus pais: doze varas; e entre
elas a vara de Arão. Moisés pôs estas varas perante o Senhor na tenda do testemunho.
No dia seguinte Moisés entrou na tenda do testemunho, e eis que a vara de Arão,
pela casa de Levi, brotara, e, tendo inchado os gomos, produzira flores, e dava
amêndoas. Então Moisés trouxe todas as varas de diante do Senhor a todos os
filhos de Israel; e eles o viram, e tomaram cada um a sua vara. Disse o Senhor
a Moisés: Torna a pôr a vara de Arão perante o Testemunho, para que se guarde
por sinal para os filhos rebeldes; assim farás acabar as suas murmurações
contra mim, para que não morram. E Moisés fez assim; como lhe ordenara o
Senhor, assim fez (Nm. 17:1-11).
O
propósito do incidente em Números 17 é o de resolver a rebelião do povo de
Israel. No capítulo precedente testemunhamos uma rebelião que sobrepujou todas
as outras; no capítulo que temos diante de nós, veremos como Deus acaba com tal
rebelião, libertando o seu povo dela e de suas consequências, a morte. Deus
provaria a Israel que a autoridade procede dele e que ele tem uma base e uma
razão para estabelecê-la. Cada pessoa à qual Deus garante autoridade, deve ter
esta experiência básica. Caso contrário não pode ser designada por Deus.
Vida
ressurreta é base de autoridade Deus ordenou aos doze líderes das tribos que
pegassem doze varas, uma para cada chefe de família, e que as colocassem na
tenda da congregação diante do testemunho. A vara do homem que Deus escolhesse
brotaria. Uma vara é um pedaço de madeira, um galho de árvore, cortado nas duas
pontas. Não tem folhas nem raízes. Já foi vivo mas agora está morto. Antes
recebia seiva da árvore e tinha capacidade de brotar e dar frutos, mas agora é
uma vara morta. Todas as doze varas foram desprovidas de folhas e raízes, todas
eram mortas e secas. Mas Deus disse que se uma brotasse, seria a vara daquele
que ele escolhera. Isto dá uma ideia de que a resur-reição é a base para a
eleição como também para a autoridade. No capítulo 16 o povo rebelou-se contra
a autoridade designada por Deus; no capítulo 17 Deus confirma a autoridade que
destacou. Deus determinou que a base para a autoridade fosse a ressurreição,
acabando assim com toda murmuração do povo. O povo não tinha o direito de pedir
explicações a Deus, mas apesar disso Deus condescendeu em informar qual era a
sua base para o estabelecimento de autoridade. A base foi a ressurreição; era uma
coisa contra a qual o povo de Israel não poderia argumentar. Naturalmente, Arão
e os israelitas descendiam de Adão. Todos eram filhos da ira, de acordo com a
vida natural; não havia diferença. Aquelas doze varas eram todas iguais, todas
desprovidas de folhas e raízes, mortas e sem vida. A base do ministério está na
recepção da vida ressurreta além da vida natural. E isto constitui autoridade.
A autoridade depende não da pessoa mas da ressurreição. Arão não era diferente
dos outros, exceto que Deus o escolhera e lhe dera vida ressurreta.
O
brotar da vara seca mantém os homens humildes
É Deus que faz uma vara brotar. É ele
que coloca o poder da vida numa vara morta e seca. A vara que brota torna
humilde o dono da vara e aquieta as murmurações dos donos das outras varas. A
vara que originalmente pegamos está seca, morta e sem esperanças como a de
Arão, mas se ela brota, dá flores e frutos no dia seguinte, devemos chorar
diante de Deus dizendo: "Isto é coisa tua; nada tem a ver comigo; é tua
glória, não minha." Naturalmente nos humilharemos diante de Deus, pois é
verdadeiramente o tesouro em vasos terrenos, demonstrando que o poder
transcendente pertence a Deus e não a nós. Só os tolos podem ficar orgulhosos.
Aqueles que são favorecidos se prostrarão diante de Deus, dizendo: "Isto
foi feito por Deus; não há nada em que o homem possa se gloriar; tudo vem da
misericórdia de Deus, não dos esforços humanos. O que há que não seja recebido,
pois tudo é escolha de Deus?" Vamos igualmente perceber que a autoridade
não se baseia em nós. Na realidade, não se relaciona conosco. Daí em diante,
sempre que Arão usava sua autoridade ministrando a Deus ele confessaria:
"Minha vara é tão morta quanto as outras. A única razão por que posso
servir e eles não, é por que tenho autoridade espiritual e eles não, não está
nas varas (pois todas estão igualmente secas), mas deve-se à misericórdia e
escolha de Deus." Arão não servia no poder da vara, mas no poder que a
vara tinha de brotar.
A
pedra de toque do ministério é a ressurreição
A
vara indica a posição do homem, mas o brotar indica vida ressurreta. No que se
referia à posição, aqueles doze homens estavam todos liderando nas doze tribos
de Israel. Arão simplesmente representava a tribo de Levi, uma das doze tribos.
Ele não podia servir a Deus com base em sua posição, pois as outras tribos não
concordariam com isso. Como Deus resolveu o problema? Ordenou que depositassem
doze varas — uma cada um — na tenda da congregação diante do testemunho. As
varas deviam ficar ali a noite inteira, e a vara do homem que ele escolhese
brotaria. Isto é vida que brota da morte. Só aqueles que passaram pela morte e
pela ressurreição são reconhecidos por Deus como seus servos. A pedra de toque
do ministério é a ressurreição. Ninguém pode visar tal posição; tem de ser
escolha de Deus. Depois que Deus fez brotar, florescer e dar fruto a vara de
Arão, e quando os outros líderes todos o viram, nada mais tiveram a dizer.
Autoridade, então, não vem pelo esforço. É estabelecida por Deus. Depende não
de uma posição de liderança mas da experiência da morte e ressurreição. Os
homens são escolhidos para exercer autoridade espiritual não porque são
diferentes dos demais mas com base na graça, eleição e ressurreição. É preciso
que haja muitas trevas e cegueira para se ter orgulho! No que nos diz respeito,
embora possamos depositar nossas varas por toda uma vida, não brotarão. A
dificuldade nos dias de hoje é que tão poucos caem sobre os seus rostos
reconhecendo que não são diferentes dos outros.
Os
tolos são orgulhosos
Quando
o Senhor Jesus entrou em Jerusalém montado no jumentinho, as multidões
gritaram: "Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor!
Hosana nas maiores alturas!" (Mt. 21:9). Vamos imaginar por um instante
que o jumento, ouvindo as exclamações de hosanas e vendo os galhos pelo
caminho, se voltasse para o Senhor e perguntasse: "É para mim ou para
você?", ou se voltasse para a jumenta e dissesse: "Afinal, sou mais
nobre que você," Seria evidente que o jumentinho não estaria reconhecendo
aquele que montava nele. Muitos dos servos de Deus são exatamente tão tolos.
Não havia nenhuma diferença entre o jumentinho e a jumenta; era o Senhor sobre
o jumento que tinha de ser louvado. As exclamações de hosana não são para você;
nem os galhos estendidos pelo chão. Só um tolo diria: "Eu sou melhor do
que você." Quando Arão viu pela primeira vez a vara que brotara, sua
reação imediata deveria ser a de espanto. Ele deveria cair sobre o seu rosto,
dizendo: "Por que minha vara brotou? Não é igual às outras? Por que Deus
me concedeu tal glória e poder? Eu mesmo jamais poderia fazê-lo. O que é
nascido da carne é carne. Eu sou igual ao povo de Deus." Outros poderiam
ficar confusos, mas Arão entendeu. Ele reconheceu que toda sua autoridade
espiritual fora dada por Deus. Nenhum de nós tem direito de ficar orgulhoso. Se
hoje recebemos misericórdia, é porque Deus assim o quis. Quem é competente para
este ministério? Nossa competência vem de Deus. Viver alguém na presença de
Deus e não se sentir humilde seria muito estranho. Seria preciso que houvesse
uma quantidade tremenda de autoconfiança e tolice da parte do jumento para que
imaginasse que o louvor daquele dia lhe fosse dirigido. Um dia ele despertaria
e ficaria envergonhado de si mesmo. É verdade que seremos glorificados, mas
nossa glória está no futuro, não agora. Irmãos e irmãs mais jovens deveriam
aprender a lição da humildade. Todos nós precisamos saber que não depende nem
um pouco de nós mesmos o nosso progresso. Não deveríamos nos considerar
diferentes dos outros só porque aprendemos algumas lições espirituais. Tudo é
graça de Deus, tudo é concedido por Deus, nada vem de nós mesmos. Arão sabia
muito bem que fora Deus que fizera sua vara brotar, porque tudo aconteceu
através de poder sobrenatural. Deus usou este meio para falar a Arão como
também ao povo de Israel. Daquele momento em diante Arão ficou sabendo que todo
ministério baseava-se no brotar, não nele mesmo. Hoje, ao servirmos a Deus, nós
também devemos reconhecer que o ministério vem da ressurreição e a ressurreição
vem de Deus.
O
que é a ressurreição?
A
ressurreição significa aquilo que não é natural, não vem do ego nem da
capacidade da pessoa. É aquilo que eu não posso fazer, pois está além de minha
capacidade. Eu posso pintar e e esculpir flores sobre a vara, mas não posso
fazê-la brotar. Ninguém jamais ouviu falar de uma vara velha que tivesse
brotado, nem de uma mulher idosa que tivesse concebido. Sara deu à luz Isaque:
foi obra de Deus. Portanto Sara representa a ressurreição. A ressurreição é aquilo
que eu não posso, mas Deus pode; o que eu não sou, mas o que Deus é. Não
importa o que eu sou, pois baseia-se em Deus. Não depende de grande
inteligência ou muita eloquência. O que eu tenha de espiritualidade deve-se à
operação do próprio Deus em mim. Como teria sido absurdo e tolo se Arão
insistisse em que sua vara brotou porque era diferente das outras varas, mais
polida e mais reta. Se por um momento pensamos que somos melhores do que os
outros, fazemos a coisa mais tola deste mundo. Qualquer diferença que haja vem
do Senhor. Isaque significa riso. Sara riu porque sabia que era velha demais
para conceber. Ela o considerava impossível. Por isso Deus chamou seu filho de
Isaque Servindo ao Senhor, nós também precisamos rir e dizer: eu não posso, eu
tenho certeza de que não sou capaz, mas isto é obra do Senhor. Se há alguma
manifestação de autoridade, temos de confessar que é obra sua, não nossa.
A
ressurreição é regra permanente para o serviço
Deus
devolveu todas as varas aos seus respectivos donos, exceto a de Arão que
brotou. Ela tinha de permanecer na arca como lembrete eterno. Isto sugere que a
ressurreição é a regra permanente para o serviço. Se um serviço não passar da
morte para a ressurreição, não é aceito por Deus. Aquilo que ressuscita é de Deus;
não é de nós mesmos. Todos aqueles que se julgam louváveis não têm conhecimento
do que é ressurreição. Aqueles que conhecem a ressurreição já se desiludiram de
si mesmos. Enquanto houver poder natural, o poder da ressurreição fica
obscurecido. Não é na criação que o poder de Deus se manifesta de maneira mais
poderosa; é na ressurreição. O poder de Deus não se manifesta de maneira mais
poderosa na criação; aparece na ressurreição. Tudo aquilo que o. homem é capaz
de fazer não é da ressurreição Temos de chegar ao ponto de nos considerarmos
como nada, como cães mortos; temos de ficar tão completamente arrasados que só
possamos dizer a Deus o seguinte: "Haja o que houver, foi dado por ti;
qualquer coisa que foi feita, veio toda de ti. De agora em diante não vou me
enganar mais a respeito disto, pois estou totalmente persuadido que de mim só
vem o que está morto, mas de ti, tudo o que é vivo. Temos, portanto, de tomar
consciência desta diferença. O Senhor jamais entende mal, mas nós geralmente
interpretamos errado. Era absolutamente impossível para Sara pensar que Isaque
nasceu através de suas próprias forças. Deus tem de nos levar ao ponto onde
jamais interpretaremos mal as suas obras. A autoridade vem de Deus, não de nós
mesmos. Somos simplesmente mordomos de sua autoridade. Uma visão interior assim
torna-nos capacitados para recebermos autoridade delegada. Sempre que tentamos
exercer autoridade como se fosse nossa, somos imediatamente despojados de
qualquer autoridadeJ A vara seca só pode produzir morte. Onde houver
ressurreição, há autoridade, porque a autoridade repousa na ressurreição e não
é coisa natural. Considerando que aquilo que nós temos é natural, não temos
autoridade a não ser no Senhor. O que Paulo diz em 2 Coríntios 4:7 harmoniza
com a interpretação acima. Ele se compara a um vaso terreno, e o tesouro, ao
poder da ressurreição. Ele percebe muito bem que é meramente um vaso de barro,
mas que o tesouro que há nele possui poder transcendente. Quanto a ele mesmo, é
afligido de todas as maneiras; mas, através do tesouro, não é esmagado. De um
lado há morte, mas ao mesmo tempo manifesta vida. Onde a morte opera,
manifesta-se vida. Descobrimos o centro do ministério de Paulo em 2 Coríntios,
capítulos 4 e 5; e a regra do seu ministério é a morte e ressurreição. O que há
em nós é morte, o que há no Senhor é ressurreição. Não nos enganemos, a
autoridade vem de Deus. Cada um de nós deve entender claramente que toda
autoridade pertence ao Senhor. Nós meramente mantemos a autoridade do Senhor
sobre a terra, mas nós mesmos não somos autoridade. Sempre que dependemos do
Senhor temos autoridade. Mas, logo que um pouco do natural se intromete, somos
como os outros — sem autoridade. Tudo aquilo que é da ressurreição tem
autoridade. A autoridade vem da ressurreição e não de nós mesmos. É mais do que
simplesmente depositar a vara diante de Deus; é a vara da ressurreição que
permanece na presença de Deus. Ser autoridade delegada por Deus não é
simplesmente manifestar um pouco de ressurreição mas é ter a vara brotando, florindo
e produzindo frutos, transformando-se assim em vida ressurreta amadurecida.
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Autor: Watchman Nee
Traduzido por Yolanda M. Krievin
Digitalizado por Luiz Carlos
ISBN 85-7367-136-X Categoria: Crescimento Cristão Este livro foi publicado em inglês com o título Spiritual Authority, por Christian Fellowship Publishers, Inc. © 1972 por Christian Fellowship Publishers, Inc. © 1979 por Editora Vida /" impressão, 1976 IIa impressão, 1993 2 a impressão, 1981 12a impressão, 1996 3 a impressão, 1986 13a impressão, 1997 4 a impressão, 1988 14a impressão, 1998 5 a impressão, 1990 15a impressão, 1999 6 a impressão, 1991 16a impressão, 2000 7" impressão, 1991 17a impressão, 2001 8" impressão, 1991 18a impressão, 2001 9 a impressão, 1992 19a impressão, 2003 10a impressão, 1992 20a impressão, 2004 Todos os direitos reservados na língua portuguesa por Editora Vida, rua Júlio de Castilhos, 280 03059-000 São Paulo, SP— Telefax: (11) 6618-7000 Capa: Valdir Guerra Filiado a: abec SÓCIO Impresso no Brasil, na Imprensa da Fé
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