quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

AUTORIDADE ESPIRITUAL (Capítulos do 11 ao 15)


CAPÍTULO 11
A medida da obediência à autoridade
Pela fé Moisés, apenas nascido, foi ocultado por seus pais, durante três meses, porque viram que a criança era formosa; também não ficaram amedrontados pelo decreto do rei (Hb. 11:23). As parteiras, porém, temeram a Deus, e não fizeram como lhes ordenara o rei do Egito, antes deixaram viver os meninos (Êx. 1:17).

Se o nosso Deus, a quem servimos, quer li-vrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente, e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste (Dn. 3:17, 18).

Daniel, pois, quando soube que a escritura estava assinada, entrou em sua casa, e, em cima, no seu quarto, onde havia janelas abertas da banda de Jerusalém, três vezes no dia se punha de joelhos, e orava, e dava graças, diante do seu Deus, como costumava fazer. (Dn. 6:10).

 Tendo eles partido, eis que aparece um anjo do Senhor a José em sonho e diz: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito, e permanece lá até que eu te avise; porque Herodes há de procurar o menino para o matar (Mt. 2:13). Então Pedro e os demais apóstolos afirmaram: Antes importa obedecer a Deus do que aos homens (Atos 5:29).


A submissão é absoluta, mas a obediência é relativa

 A submissão é uma questão de atitude, enquanto a obediência é uma questão de conduta. Pedro e João responderam ao concílio religioso dos judeus: "Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus" (Atos 4:19). Seu espírito não foi rebelde, uma vez que ainda se submetiam àqueles que estavam em posição de autoridade. A obediência, entretanto, não pode ser absoluta. Algumas autoridades têm de ser obedecidas; enquanto outras não deveriam, especialmente em questões que atingem os fundamentos cristãos — tais como crer no Senhor, pregar o evangelho e assim por diante. Os filhos podem fazer sugestões a seus pais, mas não devem demonstrar uma atitude de insubmissão. A submissão tem de ser absoluta. Às vezes a obediência é submissão, enquanto que, noutras ocasiões, uma incapacidade de obedecer ainda pode ser submissão. Mesmo quando fazemos uma sugestão, deveríamos manter uma atitude de submissão. Atos 15 serve de bom exemplo de como a igreja se reúne. Durante a reunião pode haver sugestões e debates, mas uma vez tomadas as decisões todos devem tomar conhecimento e se submeter.

A medida da obediência às autoridades delegadas

Se os pais se recusarem a permitir que seus filhos se reúnam com os santos, os filhos devem manter uma atitude de submissão embora não precisem necessariamente obedecer. Isto se parece com o modo pelo qual os apóstolos responderam ao concílio dos judeus. Quando foram proibidos pelo concílio de pregar o evangelho mantiveram um espírito de submissão no tribunal: mesmo assim, continuaram obedecendo à ordem do Senhor. Não desobedeceram com discussões e gritaria; apenas calma e mansamente discordaram. Não deve absolutamente haver uma palavra injuriosa nem uma atitude de insubordinação para com as autoridades governantes. Aquele que reconhece a autoridade será delicado e respeitoso. Será absoluto em sua submissão tanto no coração como na atitude e em palavras. Não haverá sinais de rispidez ou rebeldia. Quando a autoridade delegada (homens que representam a autoridade de Deus) e a autoridade direta (o próprio Deus) entram em conflito, a pessoa pode prestar submissão mas não obediência à autoridade delegada. Vamos resumir isto em três pontos:

1.      A obediência está relacionada com a conduta: é relativa.
 A submissão relaciona-se com a atitude do coração: é absoluta.

2.      Só Deus recebe obediência irrestrita sem medida; qualquer pessoa abaixo de Deus só pode receber obediência restrita.

3.      Se a autoridade delegada emitir uma ordem claramente em contradição com a ordem de Deus, deverá receber submissão mas não obediência. Temos de nos submeter à pessoa que recebeu autoridade delegada de Deus, mas devemos desobedecer à ordem que ofende a Deus. Se seus pais quiserem que você frequente um lugar onde um cristão prefere não ir mas não um lugar onde a questão do pecado esteja envolvida, então a questão fica aberta à discussão. A submissão é absoluta, enquanto que a obediência pode ser uma questão de consideração. Se os pais o obrigarem a ir, vá. Mas se não insistirem, então está livre para não ir. Deus há de libertá-lo do seu ambiente se você, na qualidade de filho, mantiver a devida atitude.

Exemplos na Bíblia
1. As parteiras e a mãe de Moisés, todas desobedeceram ao decreto de Faraó preservando a vida de Moisés. Mas foram consideradas mulheres de fé.
2. Os três amigos de Daniel recusaram-se a adorar a imagem de ouro erigida pelo rei Nabucodonosor. Desobedeceram à ordem do rei, mas submeteram-se ao fogo do rei.
3. Ignorando o decreto real, Daniel orou a Deus; não obstante submeteu-se ao julgamento do rei sendo lançado na cova dos leões. 4. José pegou o Senhor Jesus e fugiu para o Egito para evitar que a criança fosse morta pelo rei Herodes. 5. Pedro pregou o evangelho embora fosse contra a ordem do concílio governante, pois declarou que importava antes obedecer a Deus do que aos homens. Mas submeteu-se quando foi levado à prisão.

Sinais indispensáveis que acompanham o obediente
Como podemos julgar se uma pessoa é obediente à autoridade?
Pelos seguintes sinais:
 1. Uma pessoa que reconhece a autoridade naturalmente vai procurar descobrir a autoridade aonde quer que vá. A igreja é o lugar onde a obediência pode ser aprendida, uma vez que não há uma coisa tal como a obediência neste mundo. Só os cristãos podem obedecer, e eles também precisam aprender a obedecer, não externamente, mas de coração. Uma vez aprendida esta lição de obediência, o cristão vai procurar e encontrará a autoridade em qualquer lugar.
2. Uma pessoa que tomou conhecimento da autoridade de Deus é mansa e delicada. Foi amansada e não consegue ser dura. Tem receio de estar errada e por isso é delicada.
 3. Uma pessoa que verdadeiramente reconhece a autoridade jamais deseja estar em posição de autoridade. Não tem idéia nem interesse de se tornar autoridade. Não tem prazer em dar conselhos, nem prazer em controlar os outros. O verdadeiro obediente está sempre com receio de cometer um erro. Mas, que pena! quantos ainda aspiram a ser conselheiros de Deus! Só aqueles que não reconhecem a autoridade desejam ser autoridade.
4. Uma pessoa que entrou em contato com a autoridade mantém sua boca fechada. Está sob controle. Não se atreve a falar levianamente porque há nela um senso de autoridade.
5. Uma pessoa que entrou em contato com a autoridade é sensível a todo ato de anarquia e rebelião à sua volta. Percebe como o princípio da anarquia encheu a terra e até mesmo a igreja. Só aqueles que experimentaram a autoridade podem levar outros à obediência. Irmãos e irmãs precisam aprender a obedecer à autoridade; caso contrário a igreja não dará nenhum testemunho sobre a terra.

Manutenção da ordem é reconhecer a autoridade
 Se os homens não entrarem em contato vivo com a autoridade, é impossível estabelecer a obediência e a autoridade que emana do princípio da obediência à autoridade. Por exemplo, se você colocar dois cães juntos será inútil tentar estabelecer um deles como autoridade e o outro para obedecer. Só um contato vivo com a autoridade pode resolver os problemas que surgem da falta de obediência à autoridade. E logo que alguém ofende a autoridade, perceberá instantaneamente que ofendeu a Deus. É coisa fútil apontar o erro para alguém que jamais viu a autoridade. Não, primeiro leve-o a reconhecer a autoridade e, então, mostre-lhe sua falta. Ajudando os outros, entretanto, você deve tomar o cuidado de você mesmo não cair em rebelião. Ora, será que Martinho Lutero acertou quando se levantou e defendeu o princípio fundamental da justificação pela fé? Sim, pois estava obedecendo a Deus quando defendeu a verdade. Do mesmo modo está certo que nós também defendamos a verdade, como por exemplo o testemunho da unidade da igreja local, abandonando o terreno denominacional. Vimos o corpo de Cristo e a glória de Cristo; e assim não podemos assumir nenhum outro nome que não seja o de Cristo. O nome do Senhor é importante. Por que não dizemos "salvos pelo sangue" mas "salvos pelo nome do Senhor"? Porque o nome do Senhor fala também de sua ressurreição e ascensão. "E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos" (Atos 4:12). Somos batizados em nome do Senhor, e nos reunimos em seu nome também. Portanto a cruz e o sangue sozinhos não podem resolver o problema das denominações. Mas quando percebemos a glória do Senhor que subiu, não podemos mais insistir em ter outro nome que não seja o do Senhor. Então só podemos levantar o nome do Senhor, recusando ter qualquer outro nome. As denominações organizadas de hoje são uma afronta à glória do Senhor.


Vida e autoridade
A igreja é mantida por duas coisas essenciais: vida e autoridade. A vida interior que recebemos é uma vida de submissão, que nos capacita a obedecer à autoridade. Dificuldades dentro da igreja raramente se encontram em questões de desobediência externa; na maioria das vezes relacionamse com uma falta de submissão interna. Mas o princípio governante de nossa vida tem de ser a submissão, exatamente como o dos pássaros é voar e dos peixes, nadar.

"A unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus" que encontramos em Efésios 4:13, parece ainda se encontrar tão distante; mas na realidade não está tão distante se reconhecemos a autoridade. Os santos podem ter opiniões diferentes e ainda assim não é preciso que haja insubordinação, pois mesmo com opiniões diferentes podemos, não obstante, nos submeter uns aos outros. Assim, somos um na fé. Atualmente já temos a vida que habita em nós e já percebemos algo do princípio governante dessa vida; portanto, se Deus for misericordioso conosco, vamos avançar rapidamente. A vida que recebemos não é só para resolver o pecado — o lado negativo — mas principalmente para obedecer — o lado vital e positivo. Quando o espírito da rebeldia nos abandonar, então o espírito da obediência será rapidamente restaurado à igreja, e o sublime estado de Efésios 4 será então introduzido. Se todas as igrejas locais andassem nesse caminho da obediência, o glorioso fato da unidade da fé apareceria realmente diante de nossos olhos.

SEGUNDA PARTE AUTORIDADES DELEGADAS
CAPÍTULO 12
Aqueles a quem Deus delega autoridade
Obedecendo às autoridades delegadas e sendo uma autoridade delegada

Mesmo modo estar à procura Os filhos de Deus não deveriam apenas aprender a reconhecer a autoridade, mas do daqueles a quem deveriam obedecer. O centurião falou ao Senhor Jesus, dizendo: "Pois também eu sou homem sujeito à autoridade, tenho soldados às minhas ordens" (Mt. 8:9). Ele era realmente um homem que reconhecia a autoridade. Atualmente, assim como Deus sustenta todo o universo com sua autoridade, também reúne seus filhos através de sua autoridade. Se algum dos seus filhos é independente e autoconfiante, não sujeito à autoridade delegada por Deus, então jamais pode realizar a obra de Deus na terra. Cada um dos filhos de Deus deve procurar alguma autoridade para obedecer para que ele ou ela se coordene devidamente com os outros. É triste dizer, entretanto, muitos têm fracassado neste ponto. Como podemos crer se não sabemos em quem crer; como podemos amar se não sabemos a quem amar; ou como podemos obedecer se não sabemos a quem obedecer? Mas na igreja há muitas autoridades delegadas a quem devemos nossa submissão. Submetendo-nos a elas sub-metemo-nos a Deus. Não temos de escolher a quem obedecer, mas aprender a sujeitar-nos a todas as autoridades governantes. Não existe ninguém apto a ser autoridade delegada por Deus se ele mesmo não aprender primeiro como sujeitar-se à autoridade. Ninguém pode saber como exercer autoridade até que sua própria rebeldia tenha sido resolvida. Os filhos de Deus não são um novelo de lã ou uma multidão mista. Se não houver testemunho de autoridade, não há igreja nem trabalho. Isto propõe um problema sério. É essencial que aprendamos a ficar sujeitos uns aos outros e sujeitos às autoridades delegadas.

Três requisitos para uma autoridade delegada
Além de um conhecimento pessoal de autoridade e uma vida vivida sob autoridade, a autoridade delegada por Deus necessita preencher estes três requisitos principais:


1. Deve reconhecer que toda autoridade procede de Deus.

Cada pessoa que é chamada para ser uma autoridade delegada deveria se lembrar que "não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas" (Rm. 13:1). Ela mesma não é autoridade, nem ninguém pode constituir-se uma autoridade. Suas opiniões, idéias e pensamentos não são melhores do que os dos outros. São totalmente sem valor. Só aquilo que vem de Deus constitui autoridade e merece a obediência do homem. Uma autoridade delegada deve representar a autoridade de Deus, jamais presumir que também tenha autoridade. Nós mesmos não temos a menor autoridade no lar, no mundo, ou na igreja. Tudo o que podemos fazer é executar a autoridade de Deus; não podemos criar autoridade por nós mesmos. O guarda e o juiz executam autoridade e aplicam a lei, mas não devem eles mesmos escrever a lei. Do mesmo modo, aqueles que são colocados em posição de autoridade na igreja simplesmente representam a autoridade de Deus. Sua autoridade se deve ao fato de estarem numa posição representativa, não porque em si mesmos têm algum mérito mais excelente do que os demais. Estar em posição de autoridade não depende de ter ideias ou pensamentos; antes, depende de conhecer a vontade de Deus. A medida do conhecimento que uma pessoa tem da vontade de Deus é a medida de sua autoridade delegada. Deus estabelece uma pessoa como sua autoridade delegada totalmente com base no conhecimento que essa pessoa tem da vontade de Deus. Nada tem a ver com as idéias abundantes, fortes opiniões ou nobres pensamentos que possa ter. Na verdade, tais pessoas que são fortes em si mesmas, devem ser grandemente temidas na igreja. Muitos irmãos e irmãs jovens ainda não aprenderam a reconhecer a vontade de Deus; por isso Deus os colocou sob autoridade. Aqueles que estão em posição de autoridade são responsáveis pela instrução desses jovens no conhecimento da vontade de Deus. Contudo, em toda e cada ocasião em que lidar com eles, é imperativo que a autoridade delegada saiba sem nenhuma dúvida qual é a vontade do Senhor naquele caso em particular. Então pode agir como representante e ministro de Deus com autoridade. Fora de tal conhecimento, não tem autoridade para exigir obediência.
Ninguém é capaz de constituir autoridade delegada por Deus se não aprender a obedecer à autoridade de Deus e compreender sua vontade. Vamos exemplificar. Se um homem representa determinada companhia que vai negociar um contrato, antes de assinar o contrato deve primeiro consultar seu gerente geral; não pode assinar o acordo independentemente. Do mesmo modo, aquele que age como autoridade delegada por Deus precisa primeiro conhecer a vontade e o caminho de Deus antes de ter capacidade de pôr em efeito a autoridade. Jamais deve dar aos irmãos e irmãs uma ordem que Deus não tenha dado. Se disser aos outros o que devem fazer sem que seja reconhecido por Deus, estará representando a si mesmo e não a Deus. Por isso exige-se dele que primeiro conheça a vontade de Deus para agir em nome de Deus.
Então sua ação ficará sob a aprovação de Deus. Só o julgamento reconhecido por Deus tem autoridade; seja o que for que venha do homem, é inteiramente vazio de autoridade, pois só pode representar a si mesmo. Por causa disto temos de aprender a nos elevarmos e a nos aprofundarmos nas coisas espirituais. Precisamos de um conhecimento mais abundante da vontade e caminhos de Deus. Deveríamos ver o que os outros não viram e atingir o que outros não atingiram. O que fazemos deve vir daquilo que aprendemos diante de Deus, e o que dizemos deve emanar daquilo que experimentamos com ele. Não há autoridade exceto a de Deus. Se nada vimos diante de Deus, então não temos absolutamente nenhuma autoridade diante dos homens. Toda autoridade depende do que aprendemos e conhecemos diante de Deus. Não pense que por ser mais velho alguém pode ignorar o mais jovem, ou por ser irmão, pode oprimir as irmãs, ou por ser genioso, subjugar o mais calmo. Tentar isto não resultará em sucesso. Todo aquele que deseja que os outros se sujeitem à autoridade deve ele mesmo aprender a reconhecer a autoridade de Deus.


2.      Deve negar-se a si mesmo.
Até que uma pessoa saiba qual é a vontade de Deus deve manter sua boca fechada. Não deve exercer a autoridade levianamente. Aquele que vai representar a Deus deve aprender do lado positivo o que é a autoridade de Deus e, do lado negativo, como negar-se a si mesmo. Nem Deus nem os irmãos vão dar grande valor aos seus pensamentos. Provavelmente você é o único em todo o mundo que considera sua opinião a melhor. Pessoas com muitas opiniões, ideias e pensamentos subjetivos devem ser temidas Gostam de dar conselhos a todo mundo. Apossam-se de cada oportunidade para impor suas ideias aos outros. Deus não pode jamais usar uma pessoa tão cheia de opiniões, ideias e pensamentos para representar a sua autoridade. Por exemplo, quem jamais empregaria um perdulário como seu contador? Fazê-lo seria dar lugar a profundos sofrimentos. Deus também não empregará um homem cheio de opiniões como sua autoridade delegada para não vir também a sofrer danos. Se não formos totalmente quebrantados pelo Senhor não estaremos qualificados como autoridade delegada por Deus. Deus nos convoca para representarmos sua autoridade, não para a substituirmos. Deus é soberano em sua personalidade e posição. Sua vontade é sua. Ele jamais consulta o homem nem permite que alguém seja o seu conselheiro. Consequentemente, aquele que representa a autoridade não pode ser uma pessoa subjetiva.

Isto não implica dizer que para ser usado por Deus deve reduzir-se a não ter nenhuma opinião, nenhum pensamento e nenhum julgamento. De modo nenhum. Significa simplesmente que o homem deve ser verdadeiramente quebrantado; sua inteligência e suas opiniões e seus pensamentos devem todos ser quebrantados. Aqueles que são naturalmente comunicativos, dogmáticos e presunçosos precisam de um tratamento radical, um amansamento básico. Isto é algo que não pode ser nem doutrina nem imitação. Tem de constituir feridas na carne. Só depois que uma pessoa é açoitada por Deus começa a viver em temor e tremor diante dele. Não se atreve a abrir a boca inadvertidamente. Se a sua experiência não passar de doutrina ou imitação, com o passar do tempo as folhas da figueira logo secarão (Gn. 3:7) e seu estado original reaparecerá. É fútil controlarmo-nos por nossa própria vontade. No muito falar logo nos esqueceremos de nós mesmos e revelaremos o ego verdadeiro. Como é preciso que sejamos derrubados pela luz de Deus! Como Balaão em Números 22:25, temos de ser empurrados de encontro à parede para que nosso pé seja esmagado. Então sentiremos dor ao nos movimentarmos e não teremos mais coragem de falar levianamente. Não é necessário aconselhar a pessoa que teve o seu pé esmagado que ande devagar. Só através de tão dolorosas experiências como esta é que seremos libertados de nós mesmos. Na posição de autoridade delegada não devemos expressar nossos próprios pontos de vista nem desejar ardentemente interferir nos negócios dos outros. Alguns parecem se considerar cortes supremas de justiça. Imaginam que sabem tudo na igreja e tudo no mundo. Têm opinião pronta sobre tudo e todos, prontamente apresentando seus ensinamentos como se fossem o evangelho. Uma pessoa subjetiva jamais aprendeu a disciplina, nem jamais passou por um tratamento sério. Sabe tudo e pode fazer tudo. Suas opiniões e métodos são incontáveis como os muitos itens de uma mercearia. Tal pessoa é básicamente desqualificada como autoridade, porque a exigência básica para ser autoridade delegada por Deus é não abrigar nenhum pensamento ou opinião que seja sua própria.

3. Deve constantemente estar em comunhão com o Senhor.
Aqueles que são autoridades delegadas por Deus precisam manter íntima comunhão com Deus. Não deve haver apenas comunicação, mas também comunhão. Qualquer um que oferece opiniões apressadamente e fala em nome do Senhor levianamente está muito longe de Deus.


 Aquele que menciona o nome de Deus casualmente só prova a enorme distância em que se encontra de Deus. Aqueles que estão perto de Deus, têm um temor piedoso; saber como expressar levianamente suas próprias opiniões é desonroso. A comunhão, portanto, é outra exigência principal para aquele que está em autoridade.
Quanto mais perto uma pessoa se encontra do Senhor, mais claramente vê suas próprias faltas.  Tendo sido colocado face à face com Deus, não se atreve depois a falar com tanta firmeza. Não tem confiança em sua carne; começa a temer que esteja errado. Por outro lado, aqueles que falam levianamente denunciam o quanto estão afastados de Deus. O temor de Deus não pode ser simulado; só aqueles que sempre esperam no Senhor possuem esta virtude. Embora tivesse ouvido muito, só depois que a Rainha de Sabá se colocou realmente na presença de Salomão é que ficou atônita.
 Mas nós temos alguém que é maior do que Salomão diante de nós. Deveríamos ficar sem fôlego, aguardando à porta como servos, reconhecendo que realmente nada sabemos. Nada é mais sério do que um servo de Deus que fala apressadamente antes de saber qual é a vontade de Deus. Que problemas se criam quando se faz um julgamento antes de ter claro qual é a vontade do Senhor! "Então lhes falou Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz... Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço, julgo. O meu juízo é justo porque não procuro a minha própria vontade, e, sim, a daquele que me enviou" (João 5:19, 30). Do mesmo modo deveríamos aprender a ouvir, a conhecer e a compreender. Isto só vem através de comunhão íntima com o Senhor. Só aqueles que vivem na presença de Deus e aprendem com ele estão qualificados a falar diante dos irmãos e irmãs. Só eles sabem o que fazer quando há dificuldades entre os irmãos ou problemas na igreja. Posso falar francamente que a dificuldade hoje em dia é que muitos dos servos de Deus são ousados demais ou intransigentes demais ou dominadores demais. Atrevem-se a falar o que não ouviram de Deus! Mas com que autoridade você diz isto? Quem lhe garante autoridade? O que o torna diferente dos demais irmãos e irmãs? Que autoridade você tem se você não tem certeza de que aquilo que você diz é a palavra de Deus? A autoridade é representativa em natureza, não inerente. Significa que é preciso viver diante de Deus, aprendendo e sendo ferido para que não se projete a si mesmo. Ninguém deveria se enganar considerando-se ele próprio a autoridade. Só Deus tem autoridade; ninguém mais a possui. Quando a autoridade de Deus flui para mim, flui então através de mim para os outros o que me torna diferente dos outros é Deus, não eu mesmo. Por isso temos de aprender a temer a Deus e evitar fazer qualquer coisa levianamente. Devemos confessar que não somos diferentes dos outros irmãos e irmãs. Se Deus fez arranjos para que hoje eu aprendesse a ser sua autoridade delegada, devo viver em sua presença, ter comunhão com ele continuamente, e buscar conhecer sua mente. Se não perceber algo ali com Deus, nada tenho a dizer aqui aos homens. Por que usamos a palavra "comunhão"? Porque devemos viver na presença do Senhor continuamente, não só de vez em quando. Sempre que nos afastamos de Deus, o caráter de nossa autoridade se modifica. Que o Senhor seja misericordioso conosco e possamos sempre viver diante dele, temendo-o. Estas são as exigências principais de uma autoridade delegada. Considerando que a autoridade vem de Deus, não temos nada dela em nós mesmos; somos apenas representantes. Considerando que a autoridade não é nossa, não deveríamos ser subjetivos em nossa atitude. E considerando que a autoridade vem de Deus temos de viver em comunhão com ele. Se a comunhão for interrompida, a autoridade também cessa.

Jamais tente estabelecer sua própria autoridade
A autoridade é estabelecida por Deus; portanto nenhuma autoridade delegada precisa tentar assegurar-se de sua autoridade. Não insista em que outros lhe dêem ouvidos. Se erram, deixe que errem; se não se submetem, que fiquem insubordinados; se insistem em fazer a sua própria vontade, deixe. Uma autoridade delegada não deve lutar com os homens. Por que deveria eu exigir que me ouçam se não sou autoridade estabelecida por Deus? Por outro lado, se sou estabelecido por Deus, preciso ter medo que os homens não se me submetam? Todo aquele que se recusa a me ouvir, desobedece a Deus. Não é necessário que eu force as pessoas a me ouvirem.
Deus é meu apoio, por que então eu deveria temer? Jamais deveríamos dizer uma palavra que fosse para apoiar nossa autoridade; antes, vamos conceder às pessoas a sua liberdade. Quanto mais Deus nos confia, mais liberdade garantimos às pessoas. Aqueles que têm sede do Senhor virão a nós. É muitíssimo desonroso falar em benefício de nossa própria autoridade ou tentar estabelecer nossa própria autoridade. Embora Davi fosse ungido por Deus e escolhido para ser rei, durante muitos anos permaneceu sob a mão de Saul. Não estendeu sua mão para instituir sua própria autoridade. Do mesmo modo, se Deus designou você como autoridade, você também deveria ser capaz de suportar a oposição dos outros. Mas se você não foi constituído por Deus, qualquer esforço que fizer para estabelecer sua autoridade será dolorosamente fútil. Não gosto de ouvir alguns maridos dizendo a suas esposas: "Eu sou autoridade estabelecida por Deus; por isso você tem de me ouvir"; nem tenho qualquer prazer em ouvir os anciãos da igreja dizer aos irmãos e irmãs: "Sou autoridade designada por Deus".
Amados, jamais tentem estabelecer sua própria autoridade. Se Deus o escolher, receba-a com humildade; se Deus não o chamar, por que você deveria lutar por isso? Qualquer tentativa de se estabelecer como autoridade deve ser totalmente erradicada do nosso meio. Que Deus estabeleça sua autoridade; que nenhum homem o tente. Se Deus realmente o designar como autoridade, você tem duas alternativas pela frente: desobedecer e retroceder espiritualmente ou obedecer e receber graça. Quando a autoridade que lhe foi delegada for testada, não faça nada. Não se apresse, não lute, não fale por si mesmo. As pessoas não estão se rebelando contra você, mas contra Deus. Pecam contra a autoridade de Deus, não contra a sua autoridade. A Pessoa a quem desonram, criticam e se opõem não é você. Se a sua autoridade é realmente de Deus, aqueles que se opõem encontrarão bloqueado seu caminho espiritual; não receberão mais revelação. O governo de Deus é um assunto seríssimo! Que Deus nos conceda a graça de reconhecer o que é autoridade, temendo a Deus e não confiando em nós mesmos!


CAPÍTULO 13
A principal credencial para delegação de autoridade: Revelação

Apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Midiã; e, levando o rebanho para o lado ocidental do deserto, chegou ao monte de Deus, a Horebe. Apareceu--Ihe o Anjo do Senhor numa chama de fogo do meio duma sarça; Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia. Então disse consigo mesmo: Irei para lá, e verei essa grande maravilha, porque a sarça não se queima. Vendo o Senhor que ele se voltava para ver, Deus, do meio da sarça, o chamou, e disse: Moisés, Moisés! Ele respondeu: Eis-me aqui. Deus continuou: Não te cheques para cá; tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa. Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. Moisés escondeu o rosto, porque temeu olhar para Deus. Disse ainda o Senhor: certamente vi a aflição do meu povo, que está no Egito, e ouvi o seu clamor por causa dos seus exatores. Conheço-Ihe o sofrimento, por isso desci a fim de livra-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e ampla, terra que mana leite e mel; o lugar do cananeu, do heteu, do amorreu, do ferezeu, do heveu e do jebuseu. Pois o clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e também vejo a opressão com que os egípcios os estão oprimindo. Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito. Então disse Moisés a Deus: Quem sou eu para ir a Faraó e tirar do Egito os filhos de Israel ? Deus lhe respondeu: Eu serei contigo; e este será o sinal de que eu te enviei: depois de haveres tirado o povo do Egito, servireis a Deus neste monte (Êx. 3:1-12).

Falaram Miriã e Arão contra Moisés, por causa da mulher etíope, que tomara; pois tinha tomado a mulher cusita. E disseram: Porventura tem falado o Senhor somente por Moisés? não tem falado também por nós? O Senhor o ouviu. Era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra. Logo o Senhor disse a Moisés, e a Arão, e a Miriã: Vós três saí à tenda da congregação. E saíram eles três. Então o Senhor desceu na coluna da nuvem, e se pôs à porta da tenda; depois chamou a Arão e a Miriã, e eles se apresentaram. Então disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós há profeta, eu, o Senhor, em visão a ele me faço conhecer, ou falo com ele em sonhos. Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente, e não por enigmas; pois ele vê a forma do Senhor; como, pois, não temestes falar contra o meu servo, contra Moisés? E a ira do Senhor contra eles se acendeu; e retirou-se. A nuvem afastou-se de sobre a tenda; e eis que Miriã achou-se leprosa, branca como neve; e olhou Arão para Miriã, e eis que estava leprosa. Então disse Arão a Moisés: Ai! senhor meu, não ponhas, te rogo, sobre nós este pecado, pois loucamente procedemos, e pecamos. Ora não seja ela como um aborto, que saindo do ventre de sua mãe, tenha metade de sua carne já consumida. Moisés clamou ao Senhor, dizendo: ó Deus, rogo--te que a cures. Respondeu o Senhor a Moisés: Se seu pai lhe cuspira no rosto, não seria envergonhada por sete dias? Seja detida sete dias fora do arraial, e depois recolhida. Assim Miriã foi detida fora do arraial por sete dias; e o povo não partiu, enquanto Miriã não foi recolhida (Nm. 12).

Nenhuma autoridade delegada por Deus no Velho Testamento foi maior do que a de Moisés, consequentemente podemos usá-lo como exemplo. Por enquanto passaremos sobre todas as ordens que recebeu de Deus e focalizaremos sua reação quando sua autoridade foi transgredida, ridicularizada, enfrentada e rejeitada. Antes do período em que Deus lhe concedeu autoridade, Moisés matou um egípcio e repreendeu os hebreus porque brigavam. Quando foi desafiado por um hebreu ("Quem te pôs por príncipe e juiz sobre nós?"), Moisés perturbou-se e fugiu. Nessa ocasião ainda não experimentara a cruz e a ressurreição; tudo fazia através de suas forças naturais. Embora fosse rápido em repreender e ainda mais corajoso para matar, por dentro era fraco e vazio. Não podia passar por uma provação. Quando provado, ficou com medo e fugiu para o deserto de Midiã. Ali, durante quarenta anos, aprendeu lições. Depois desse longo período de provações, Deus lhe deu certo dia uma visão da sarça ardente. A sarça ardia, mas não se consumia. Com esta visão, Deus lhe concedeu autoridade. Vamos agora passar adiante para ver como Moisés reagiu mais tarde quando seu irmão Arão e sua irmã Miriã falaram contra ele e rejeitaram sua autoridade delegada.

Não dê ouvidos a palavras caluniosas
Perguntaram a Moisés: Só você fala em nome de Deus — você que se casou com uma mulher cusita? Deus também não tem falado por nosso intermédio? Como pode a semente de Sem casada com a semente de Cão continuar no ministério de Deus? Não podemos nós ministrar, nós que somos filhos de Sem e não estamos casados com os filhos de Cão? Sobre tudo isto, a Bíblia simplesmente registra: "O Senhor o ouviu." Foi como se Moisés não tivesse tomado conhecimento. Encontramos aqui um homem que não se perturbava com as palavras dos homens, pois estava além do alcance de suas palavras caluniosas., Todos aqueles que desejam ser porta-vozes de Deus e desejam ajudar seus irmãos e irmãs devem aprender a não dar ouvidos a calúnias. Que Deus se encarregue disso. De sua parte, não dê a menor atenção às críticas das pessoas; não se zangue por causa das palavras dos outros. Aqueles que se perturbam e se sentem esmagados por palavras caluniosas provam que não têm capacidade para receber autoridade delegada.


Não se defenda
Vingança ou defesa ou qualquer outra reação deve proceder de Deus, não do homem. Aquele que se vinga não conhece a Deus. Ninguém sobre a face da terra jamais poderia ter mais autoridade do que Cristo, mas ele jamais se defendeu. A autoridade e a autodefesa são incompatíveis. Aquele contra o qual você se defende torna-se o seu juiz. Ele se coloca em posição mais alta quando você começa a responder às suas críticas. Aquele que fala de si mesmo está sob julgamento; portanto não tem autoridade. Sempre que uma pessoa tenta se justificar, perde a sua autoridade. Paulo se colocou diante dos crentes coríntios como autoridade delegada e declarou: "Nem eu tão pouco julgo a mim mesmo" (1 Co. 4:3). A vingança vem de Deus. No momento em que você se justifica diante de uma pessoa, ela se torna o seu juiz. Tão-logo você tenta se explicar você cai diante dela
Muito manso
O versículo 2 de Números 12 registra que Deus ouviu a calúnia e o versículo 4, que Deus agiu. Mas entre os dois vem o versículo 3 como um parêntesis, declarando: "Era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra." Moisés não argumentou porque percebeu que tinha errado. Deus não pode conceder autoridade a uma pessoa teimosa. Aqueles que ele estabelece como autoridades são os mansos e sensíveis — e não se trata de uma mansidão comum, é a mansidão divina.
 Não devemos nunca tentar estabelecer nossa própria autoridade. Quanto mais tentamos, menos autoridade temos. Não são os violentos ou os fortes, mas um homem como Paulo — cuja presença física é fraca e cujas palavras não impressionam — que Deus coloca em posição de autoridade. Senhor disse que o seu reino não é deste mundo e portanto os seus servos não precisam lutar por ele. Autoridade obtida através de lutas não é concedida por Deus.
As pessoas geralmente presumem que estas coisas são requisitos necessários para ter-se autoridade: esplendor ou magnificência; força de personalidade, boa aparência; e poder. Para se colocar em posição de autoridade, raciocinam, é preciso que a pessoa tenha forte determinação, idéias inteligentes e lábios eloquentes. Mas não são estes que representam a autoridade; pelo contrário, são carnais. Ninguém no Velho Testamento ultrapassou Moisés em autoridade concedida por Deus, mas ele foi o mais manso de todos os homens. Enquanto estava no Egito foi bastante violento, matando o egípcio o repreendendo os hebreus. Lidou com as pessoas com sua própria mão carnal.
Por isso, naquela ocasião, Deus não o designou como autoridade. Só depois que passou por muitas provações e foi moldado por Deus, só depois que se tornou muito manso — mais do que todos os homens da terra — Deus o usou como autoridade. A pessoa menos provável de receber autoridade é geralmente aquela que se les que ele estabelece como autoridades são os mansos e sensíveis — e não se trata de uma mansidão comum, é a mansidão divina. Não devemos nunca tentar estabelecer nossa própria autoridade. Quanto mais tentamos, menos autoridade temos.
 Não são os violentos ou os fortes, mas um homem como Paulo — cuja presença física é fraca e cujas palavras não impressionam — que Deus coloca em posição de autoridade. Senhor disse que o seu reino não é deste mundo e portanto os seus servos não precisam lutar por ele. Autoridade obtida através de lutas não é concedida por Deus. As pessoas geralmente presumem que estas coisas são requisitos necessários para ter-se autoridade: esplendor ou magnificência; força de personalidade, boa aparência; e poder. Para se colocar em posição de autoridade, raciocinam, é preciso que a pessoa tenha forte determinação, idéias inteligentes e lábios eloquentes. Mas não são estes que representam a autoridade; pelo contrário, são carnais. Ninguém no Velho Testamento ultrapassou Moisés em autoridade concedida por Deus, mas ele foi o mais manso de todos os homens. Enquanto estava no Egito foi bastante violento, matando o egípcio o repreendendo os hebreus. Lidou com as pessoas com sua própria mão carnal. Por isso, naquela ocasião, Deus não o designou como autoridade. Só depois que passou por muitas provações e foi moldado por Deus, só depois que se tornou muito manso — mais do que todos os homens da terra — Deus o usou como autoridade. A pessoa menos provável de receber autoridade é geralmente aquela que se considera uma autoridade. Do mesmo modo, quanto mais autoridade uma pessoa pensa que tem, menos a possui na realidade.

Revelação: uma credencial de autoridade
"Logo o Senhor disse a Moisés, e a Arão, e a Miriã: Vós três saí à tenda da congregação." "Logo" significa "inesperadamente". Arão e Miriã devem ter falado contra Moisés muitas vezes, mas agora Deus abruptamente convocou os três à tenda da congregação. Muitos que se rebelam contra a autoridade fazem-no fora da tenda. É muito fácil e conveniente criticar em casa; mesmo assim, tudo será esclarecido na tenda da congregação. Quando os três se apresentaram na tenda, o Senhor disse a Arão e Miriã: "Ouvi-agora as minhas palavras." No passado murmuraram: "Porventura tem o Senhor falado somente por Moisés?" Agora o Senhor lhes pediu que viessem e ouvissem suas palavras, revelando o fato de que nunca tinham ouvido antes as palavras divinas. Arão e Miriã jamais souberam o que Deus dizia. Foi a primeira vez em que o Senhor lhes falou — e não foi em revelação mas em repreensão, não a manifestação da glória de Deus mas o julgamento de sua conduta. "Ouvi agora as minhas palavras" significa não só que o Senhor não tinha falado antes, mas também indica que desejava permissão para falar desta vez considerando que eles já tinham falado tanto. "Vocês que falam tanto, ouçam agora as minhas palavras!" Disto concluímos claramente que as pessoas que falam muito não podem ouvir a palavra de Deus; só os mansos podem. Moisés não era pessoa de falar muito mas fazia o que lhe mandavam. Não lhe fazia diferença avançar ou retroceder contanto que fosse ordem de Deus.
Arão e Miriã, entretanto, eram diferentes; eram duros e obstinados. Assim Deus chegou a dizer: "Se entre vós há profeta", como se tivesse esquecido que eles eram profetas. Embora Arão e Miriã fossem profetas, o Senhor só se lhes revelava em sonhos e visões. Com Moisés era diferente, porque Deus falava com ele boca a boca, claramente, e não por meio de enigmas. Foi a vingança divina. Moisés recebeu revelação, não Arão e Miriã; pois são aqueles que se encontram face a face com Deus que ele estabelece como autoridades. Estabelecer autoridades pertence à jurisdição de Deus; o homem não tem permissão de se intrometer, nem pode a calúnia humana repudiar qualquer autoridade. Fora Deus quem estabelecera a Moisés e só Deus poderia rejeitá-lo. Era negócio de Deus; nenhuma pessoa podia interferir, portanto, com o que Deus tinha estabelecido.
O valor de um homem diante de Deus não se decide pelo julgamento dos outros ou do próprio homem. Ele é medido pela revelação que recebe de Deus. A revelação é a avaliação e a medida divinas. A autoridade se estabelece sobre a revelação de Deus, e sua estimativa de uma pessoa de acordo com essa revelação. Se Deus concede revelação, estabelece-se autoridade; mas quando sua revelação é retirada, o homem é rejeitado. Se quisermos aprender a ter autoridade temos de prestar atenção ao nosso estado diante de Deus Se Deus está pronto a nos conceder revelação e a nos falar claramente, se temos com ele comunhão face a face, então ninguém pode nos eliminar.
 Mas se essa nossa comunicação acima for interrompida e os céus se fecharem, e apesar disso continuarmos prosperando na terra, tudo resultará em nada. O céu aberto é o selo de Deus e o testemunho da filiação. Depois que o Senhor Jesus foi batizado, os céus se abriram para ele.
O batismo simboliza morte. Foi quando ele entrou na morte e nos maiores sofrimentos, quando tudo escureceu à sua volta e não havia nenhuma saída, que os céus se abriram. A revelação portanto é evidência de autoridade. Precisamos aprender a não lutar e falar por nós mesmos. Não devemos nos alistar nas fileiras de Arão e Miriã na luta pela autoridade. Na verdade, se lutarmos, só provaremos que nossa autoridade é totalmente carnal, das trevas, e desprovida de visão celestial. Moisés "é fiel em toda a minha casa" (Nm. 12: 7). Moisés, um tipo de Cristo, foi fiel na casa de Israel. Deus o chamou de "meu servo". Ser servo de Deus simplesmente significa que pertenço a Deus, que sou sua propriedade, que fui comprado por ele e que, portanto, perdi a minha liberdade. Isto explica por que Deus não pode permanecer quieto mas fala quando seus servos são caluniados. Não temos necessidade de nos vindicarmos a nós mesmos. Que bem recebo se falo, quando Deus não se adianta para fazê-lo? Se nossa autoridade for de Deus não necessitamos fortalecê-la. A revelação será a prova. Se existem aqueles que falam contra nós, que Deus desvie seus suprimentos e encerre suas revelações para eles, provando assim que fomos por ele designados. Qualquer um que ofenda as autoridades delegadas por Deus ofende àquele que representam. Se pertence ao Senhor, descobrirá que os céus estão fechados acima dele e terá que humildemente reconhecer aquelas autoridades que Deus estabeleceu. Portanto, ninguém precisa fortalecer sua própria autoridade; tudo depende da prova divina. Cancelando a revelação aos outros, Deus lhes prova a quem ele designou como sua autoridade delegada.

Nenhum sentimento pessoal
"Como pois, não temestes falar contra o meu servo, contra Moisés?" perguntou Deus. Para ele, tal calúnia foi simplesmente terrível. Deus, sendo Deus, sabe o que é amor, o que é luz, e o que é glória. Mas será que sabe o que é o medo? Sem dúvida sabe, pois aqui ele temeu por Arão e Miriã. Na qualidade de Deus, nada tinha a temer; não obstante, declarou àquelas duas pessoas que coisa terrível tinham feito. Por causa disso deixou de falar com elas e afastou-se irado. É assim que Deus manteve sua autoridade, não a autoridade de Moisés. Ele não disse: — Por que vocês falaram contra Moisés?, mas: — Por que vocês falaram contra o meu servo Moisés? Ele não permite que alguém prejudique sua autoridade. Se a sua autoridade é desafiada, afas-ta-se irado. Assim, a nuvem, que representava a presença de Deus, afastou-se da tenda; e eis que Miriã ficou leprosa. Arão o viu e ficou com medo, pois ele também participara da rebelião, embora Miriã sem dúvida assumisse a liderança.
A tenda recusou-se dar revelação e Moisés não abriu a sua boca. Embora Moisés fosse um homem eloquente, manteve-se em silêncio. Aqueles que não sabem como controlar seus corações e lábios não servem como autoridade. Mas quando Arão rogou a Moisés, este clamou ao Senhor. Durante todo o caso Moisés agiu como se não fosse mais que um espectador. Não tinha interesse pessoal; não murmurou nem reprovou. Não tinha intenções de julgar ou punir. Mas tão-logo o propósito de Deus se realizou, rapidamente perdoou.


Autoridade se estabelece para executar ordens de Deus, não para edificação pessoal. Dá aos filhos de Deus consciência dele, não da própria pessoa. O que importa é ajudar as pessoas a se sujeitarem à autoridade de Deus; era portanto um assunto sem importância para Moisés o ser rejeitado. Por isso Moisés clamou ao Senhor: "ó Deus, rogo-te que a cures." Vamos nós também nos libertar de sentimentos pessoais, pois sua presença prejudica os negócios divinos e impede a mão de Deus.
 Se Moisés não conhecesse a graça de Deus, certamente teria dito a Arão: "Por que você mesmo não ora a Deus uma vez que insiste que Deus também lhe fala?" E Moisés poderia também ter dito a Deus: "Vinga-me ou eu pedirei demissão!" Mas Moisés nem se defendeu nem procurou vin-gar-se de Arão e Miriã, nem aproveitou-se da vigança divina. Não tinha sentimentos pessoais, porque não vivia para si mesmo. Sua vida natural já fora resolvida; e assim prontamente rogou pela saúde de Miriã. Sua atitude foi como a de Cristo quando pediu a Deus que perdoasse àqueles que o crucificaram.
 Assim Moisés provou ser autoridade delegada por Deus, pois foi capaz de representar Deus. Não foi prejudicado pela vida natural, nem se protegeu procurando defesa ou vingança. A autoridade de Deus podia ser propagada através dele sem nenhum impedimento. Na verdade, as pessoas encontravam nele a autoridade de Deus. Ser autoridade delegada não é de modo nenhum uma coisa fácil, porque exige um esvaziamento do ego.

CAPÍTULO 14
O caráter da autoridade delegada: Benevolência
A primeira reação de Moisés para com a rebelião: prostrou-se

Não houve nenhuma rebelião, da parte dos israelitas, mais séria do que a registrada em Números, capítulo 16. O líder da rebelião foi Core, filho de Levi, com Datã e Abirão, filhos de Rúben, apoiados por duzentos e cinquenta líderes da congregação. Reuniram-se e com palavras fortes atacaram Moisés e Arão (versículo 3). A calúnia de Números 12 foi apenas da parte de Arão e Miriã, e ainda assim foi mais oculta. Mas aqui a rebelião foi coletiva e o ataque contra Moisés e Arão foi franco e direto. Portanto, nesta situação, vamos prestar especial atenção a: 1) Qual foi a posição e atitude pessoal de Moisés? e 2) Como Moisés reagiu diante da crise, como respondeu aos rebeldes?
A primeira reação de Moisés foi esta: "caiu sobre o seu rosto" (versículo 4). Esta é a atitude exata que todo servo de Deus deveria ter. O povo estava nervoso e muitos falavam, mas só Moisés se prostrou ao chão. Aqui novamente colocamo-nos diante de alguém que conhece a autoridade. Sendo verdadeiramente dócil, não tinha nenhum sentimento pessoal. Nem se defendeu nem ficou irritado. A primeira coisa que fez foi cair sobre o seu rosto. Então lhes disse: "O Senhor fará saber quem é dele, e quem o santo que ele fará chegar a si: aquele a quem escolher fará chegar a si" (versículo 5). Não foi necessário lutar. Moisés não se atreveu a dizer algo de si mesmo, porque sabia que o Senhor mostraria quem era dele. Seria melhor permitir que Deus fizesse a distinção. Moisés tinha fé e assim atreveu-se a confiar tudo a Deus. O Senhor faria o seu julgamento na manhã seguinte quando todos comparecessem diante dele com incenso. As palavras de Moisés foram mansas mas de peso: "Basta-vos, filhos de Levi." Foi o suspiro de um velho que conhecia Deus muito bem (versículo 7).

Exortação e Restauração
Moisés exortou a Coré com palavras para restaurá-lo. Ele sabia a seriedade do assunto e realmente estava preocupado com os rebeldes. Não só suspirou mas exortou-os também, dizendo: "Ouvi agora, filhos de Levi: Acaso é para vós outros cousa de somenos que o Deus de Israel vos separou da congregação de Israel, para vos fazer chegar a si, a fim de cumprirdes o serviço do tabernáculo do Senhor e estar perante a congregação para ministrar-lhe . .. Ainda também procurais o sacerdócio? Pelo que tu e todo o teu grupo juntos estais contra o Senhor; e Arão, que é ele, para que murmureis contra ele?" (versículos 8-11).
Exortação não e uma expressão de senhorio; antes, exibe mansidão. Aquele que persuade diante de ataques é verdadeiramente uma pessoa mansa. Mas aquele que permite que as pessoas permaneçam no erro sem nenhuma intenção de restaurá-las mostra que tem um coração duro. Não exortar numa situação dessas seria falta de humildade; obviamente daria idéia de orgulho. Moisés estava pronto a exortá-los quando atacado e, então depois, deu aos seus caluniadores toda uma noite para que se arrependessem.
Moisés lidou com os rebeldes separadamente. Primeiro com Coré, o levita, depois com Datã e Abirão. Enviou alguém para buscar Datã e Abi-rão mas eles recusaram-se, claramente indicando que nada mais tinham a ver com Moisés (versículo 12). Na atitude de Moisés vemos que aqueles que representam autoridade procuram a restauração, não a divisão, mesmo depois de serem rejeitados. Aqueles homens rebeldes acusaram Moisés de tê-los tirado de uma terra que manava leite e mel (versículo 13). Que acusação absurda. Já tinham se esquecido de que em vez de leite e mel no Egito eram forçados a fazer tijolos e às vezes até mesmo sem o fornecimento de palha. Aqueles rebeldes não foram diferentes dos dez espias que, depois de ver claramente a abundância de Canaã, recusaram-se a entrar nela, e ainda acusaram Moisés. Sua rebeldia atingiu o ponto que não tem retorno. Nada restava além do julgamento. Por isso Moisés ficou muito zangado e procurou o Senhor para uma revelação de fatos (versículo 15).
 Deus veio para julgar. Não só consumiria Core, que era o principal instigador, mas também a congregação que seguira a Core. Mas Moisés caiu com o rosto em terra e rogou pela congregação (versículo 22). Deus atendeu sua oração e poupou a congregação mas ordenou que todos se afastassem das tendas dos culpados. Então julgou Core, Data e Abirão.

      Nenhum espírito de julgamento
Enquanto Deus se preparava para julgar os rebeldes, Moisés declarou: "...o Senhor me enviou a realizar todas estas obras, que não procedem de mim mesmo" (versículo 28). Até onde iam seus próprios sentimentos, não tinha intenção de julgar ninguém que se rebelara contra ele. Provou ser o verdadeiro servo de Deus quando insistiu que aquelas pessoas não tinham pecado contra ele mas contra Deus. Que possamos aprender como tocar o espírito do homem. Vemos que em Moisés não havia a menor intenção de julgar. Agiu em obediência a Deus porque era o servo de Deus. Não tinha sentimentos pessoais exceto que achava que tinham pecado contra Deus. Além disso explicou que o Senhor o comprovaria através de uma coisa nova (versículo 30). Assim Deus executou um grande julgamento para estabelecer a autoridade de Moisés. Três famílias foram destruídas e duzentos e cinquenta e seis líderes foram consumidos pelo fogo (versículos 27-35).

O caminho da rebeldia leva ao Seol; rebelião e morte estão ligadas. Autoridade é algo que Deus estabelece; todos aqueles que ofendem suas autoridades estabelecidas desprezam a Deus Mas em Moisés encontramos uma autoridade delegada que nunca tinha sua própria opinião nem um espírito julgador.


      Intercessão e expiação
 Embora toda a congregação de Israel testemunhasse que a terra se abriu e engoliu as famílias rebeldes, e embora fugissem aterrorizados, seu medo era apenas quanto ao castigo, não de Deus. Falharam em compreender Moisés; seus corações permaneceram intocados. Por isso, após uma noite de reflexão, rebelaram-se outra vez no dia seguinte (versículo 41). Se a pessoa não tem um encontro com a graça de Deus, sua condição interior permanece a mesma. Toda a congregação murmurou contra Moisés e Arão, declarando: "Vós matastes o povo do Senhor" (versículo 41).
Vamos agora observar toda a história de como essas autoridades delegadas reagiram diante de tal atitude contra elas. Humanamente falando, Moisés deveria ficar zangado com o ataque. Claramente, o acontecido fora obra de Deus; por que murmuravam contra ele? Por que não murmuraram contra Deus em lugar de se voltarem contra sua autoridade delegada? Mas a reação de Deus foi mais rápida do que a de Moisés e Arão. Eis que a nuvem cobriu a tenda e a glória do Senhor apareceu (versículo 42).
Deus veio para julgar a congregação, e assim ele disse a Moisés e Arão que se afastassem do meio do povo. Foi como se Deus dissesse a Moisés e Arão: sua oração de ontem foi um erro, hoje vou aniquilar toda a congregação. Não obstante Moisés e Arão caíram sobre seus rostos pela terceira vez (versículo 45). O senso espiritual de Moisés era tão aguçado que percebeu imediatamente que este problema poderia ser solucionado só pela oração. O pecado de ontem não fora tão declarado como o de hoje. Rapidamente disse a Arão que pegasse o seu incensário, fosse à congregação e fizesse expiação por eles (versículo 46). Moisés certamente era a pessoa indicada para autoridade delegada.
Ele sabia que consequências trágicas poderiam advir ao povo de Israel, e ainda esperava que Deus fosse gracioso em perdoar. Seu coração estava cheio de amor e compaixão, o anseio de alguém que verdadeiramente conhece a Deus. Moisés não era sacerdote, por isso pediu a Arão que fosse rapidamente fazer expiação pelo povo. Eis aí intercessão mais expiação. A praga já tinha começado entre o povo; Arão agora se colocou entre os mortos e vivos; o resultado foi que a praga foi interrompida. Aqueles que morreram da praga foram quatorze mil e setecentas pessoas (versículo 49). Se Moisés e Arão estivessem menos alertas, certamente muito mais gente teria morrido.
A graça expiadora que vemos em Moisés foi admiravelmente semelhante à que vemos no seu Senhor. Preocupou-se com o povo de Deus e assumiu a responsabilidade pelos obedientes e rebeldes. Uma pessoa que só se preocupa consigo mesma e que geralmente se queixa da responsabilidade que tem pelos outros, não serve para representar autoridade! O modo pelo qual uma pessoa reage mostra o tipo de pessoa que é. Muitos pensam em apenas salvar as aparências e são extremamene sensíveis à crítica dos outros. Todos os seus pensamentos são egocentralizados. Moisés, entretanto, era fiel em toda a casa de Deus. Possivelmente se a casa de Deus sofresse, Moisés, na sua carne ficaria satisfeito; mas ele não teria sido um servo fiel.
 Um servo fiel, embora pessoalmente rejeitado e desprezado, carrega o fardo de muitos. Os israelitas rebelaram-se contra Moisés, mas Moisés assumiu seus pecados; eles se lhe opuseram e rejeitaram, mas ainda assim intercedeu por eles. Se nos preocuparmos apenas com nossos próprios sentimentos não seremos capazes de assumir os problemas dos filhos de Deus. Portanto, confessemos nosso pecado, reconhecendo que somos demasiadamente pequenos e duros. O desejo de Deus para nós é que tenhamos graça em nós. Sejamos tais que Deus tenha permissão de julgar em todas as coisas. A graça para com os outros é o caráter de todo aquele que está em posição de autoridade.


CAPÍTULO 15
A base para a delegação de autoridade: Ressurreição

Disse o Senhor a Moisés: Fala aos filhos de Israel, e recebe deles varas, uma pela casa de cada pai de todos os seus príncipes segundo as casas de seus pais, isto é, doze varas; escreve o nome de cada um sobre a sua vara. Porém o nome de Arão escreverá sobre a vara de Levi; porque cada cabeça da casa de seus pais terá uma vara. E as porás na tenda da congregação, perante o testemunho, onde eu vos encontrarei. A vara do homem que eu escolher, essa florescerá; assim farei cessar de sobre mim as murmurações que os filhos de Israel proferem contra vós. Falou, pois, Moisés aos filhos de Israel, e todos os seus príncipes lhe deram varas, cada um lhe deu uma, segundo as casas de seus pais: doze varas; e entre elas a vara de Arão. Moisés pôs estas varas perante o Senhor na tenda do testemunho. No dia seguinte Moisés entrou na tenda do testemunho, e eis que a vara de Arão, pela casa de Levi, brotara, e, tendo inchado os gomos, produzira flores, e dava amêndoas. Então Moisés trouxe todas as varas de diante do Senhor a todos os filhos de Israel; e eles o viram, e tomaram cada um a sua vara. Disse o Senhor a Moisés: Torna a pôr a vara de Arão perante o Testemunho, para que se guarde por sinal para os filhos rebeldes; assim farás acabar as suas murmurações contra mim, para que não morram. E Moisés fez assim; como lhe ordenara o Senhor, assim fez (Nm. 17:1-11).

O propósito do incidente em Números 17 é o de resolver a rebelião do povo de Israel. No capítulo precedente testemunhamos uma rebelião que sobrepujou todas as outras; no capítulo que temos diante de nós, veremos como Deus acaba com tal rebelião, libertando o seu povo dela e de suas consequências, a morte. Deus provaria a Israel que a autoridade procede dele e que ele tem uma base e uma razão para estabelecê-la. Cada pessoa à qual Deus garante autoridade, deve ter esta experiência básica. Caso contrário não pode ser designada por Deus.

Vida ressurreta é base de autoridade Deus ordenou aos doze líderes das tribos que pegassem doze varas, uma para cada chefe de família, e que as colocassem na tenda da congregação diante do testemunho. A vara do homem que Deus escolhesse brotaria. Uma vara é um pedaço de madeira, um galho de árvore, cortado nas duas pontas. Não tem folhas nem raízes. Já foi vivo mas agora está morto. Antes recebia seiva da árvore e tinha capacidade de brotar e dar frutos, mas agora é uma vara morta. Todas as doze varas foram desprovidas de folhas e raízes, todas eram mortas e secas. Mas Deus disse que se uma brotasse, seria a vara daquele que ele escolhera. Isto dá uma ideia de que a resur-reição é a base para a eleição como também para a autoridade. No capítulo 16 o povo rebelou-se contra a autoridade designada por Deus; no capítulo 17 Deus confirma a autoridade que destacou. Deus determinou que a base para a autoridade fosse a ressurreição, acabando assim com toda murmuração do povo. O povo não tinha o direito de pedir explicações a Deus, mas apesar disso Deus condescendeu em informar qual era a sua base para o estabelecimento de autoridade. A base foi a ressurreição; era uma coisa contra a qual o povo de Israel não poderia argumentar. Naturalmente, Arão e os israelitas descendiam de Adão. Todos eram filhos da ira, de acordo com a vida natural; não havia diferença. Aquelas doze varas eram todas iguais, todas desprovidas de folhas e raízes, mortas e sem vida. A base do ministério está na recepção da vida ressurreta além da vida natural. E isto constitui autoridade. A autoridade depende não da pessoa mas da ressurreição. Arão não era diferente dos outros, exceto que Deus o escolhera e lhe dera vida ressurreta.

O brotar da vara seca mantém os homens humildes
É Deus que faz uma vara brotar. É ele que coloca o poder da vida numa vara morta e seca. A vara que brota torna humilde o dono da vara e aquieta as murmurações dos donos das outras varas. A vara que originalmente pegamos está seca, morta e sem esperanças como a de Arão, mas se ela brota, dá flores e frutos no dia seguinte, devemos chorar diante de Deus dizendo: "Isto é coisa tua; nada tem a ver comigo; é tua glória, não minha." Naturalmente nos humilharemos diante de Deus, pois é verdadeiramente o tesouro em vasos terrenos, demonstrando que o poder transcendente pertence a Deus e não a nós. Só os tolos podem ficar orgulhosos. Aqueles que são favorecidos se prostrarão diante de Deus, dizendo: "Isto foi feito por Deus; não há nada em que o homem possa se gloriar; tudo vem da misericórdia de Deus, não dos esforços humanos. O que há que não seja recebido, pois tudo é escolha de Deus?" Vamos igualmente perceber que a autoridade não se baseia em nós. Na realidade, não se relaciona conosco. Daí em diante, sempre que Arão usava sua autoridade ministrando a Deus ele confessaria: "Minha vara é tão morta quanto as outras. A única razão por que posso servir e eles não, é por que tenho autoridade espiritual e eles não, não está nas varas (pois todas estão igualmente secas), mas deve-se à misericórdia e escolha de Deus." Arão não servia no poder da vara, mas no poder que a vara tinha de brotar.

A pedra de toque do ministério é a ressurreição
A vara indica a posição do homem, mas o brotar indica vida ressurreta. No que se referia à posição, aqueles doze homens estavam todos liderando nas doze tribos de Israel. Arão simplesmente representava a tribo de Levi, uma das doze tribos. Ele não podia servir a Deus com base em sua posição, pois as outras tribos não concordariam com isso. Como Deus resolveu o problema? Ordenou que depositassem doze varas — uma cada um — na tenda da congregação diante do testemunho. As varas deviam ficar ali a noite inteira, e a vara do homem que ele escolhese brotaria. Isto é vida que brota da morte. Só aqueles que passaram pela morte e pela ressurreição são reconhecidos por Deus como seus servos. A pedra de toque do ministério é a ressurreição. Ninguém pode visar tal posição; tem de ser escolha de Deus. Depois que Deus fez brotar, florescer e dar fruto a vara de Arão, e quando os outros líderes todos o viram, nada mais tiveram a dizer. Autoridade, então, não vem pelo esforço. É estabelecida por Deus. Depende não de uma posição de liderança mas da experiência da morte e ressurreição. Os homens são escolhidos para exercer autoridade espiritual não porque são diferentes dos demais mas com base na graça, eleição e ressurreição. É preciso que haja muitas trevas e cegueira para se ter orgulho! No que nos diz respeito, embora possamos depositar nossas varas por toda uma vida, não brotarão. A dificuldade nos dias de hoje é que tão poucos caem sobre os seus rostos reconhecendo que não são diferentes dos outros.

Os tolos são orgulhosos
Quando o Senhor Jesus entrou em Jerusalém montado no jumentinho, as multidões gritaram: "Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas!" (Mt. 21:9). Vamos imaginar por um instante que o jumento, ouvindo as exclamações de hosanas e vendo os galhos pelo caminho, se voltasse para o Senhor e perguntasse: "É para mim ou para você?", ou se voltasse para a jumenta e dissesse: "Afinal, sou mais nobre que você," Seria evidente que o jumentinho não estaria reconhecendo aquele que montava nele. Muitos dos servos de Deus são exatamente tão tolos. Não havia nenhuma diferença entre o jumentinho e a jumenta; era o Senhor sobre o jumento que tinha de ser louvado. As exclamações de hosana não são para você; nem os galhos estendidos pelo chão. Só um tolo diria: "Eu sou melhor do que você." Quando Arão viu pela primeira vez a vara que brotara, sua reação imediata deveria ser a de espanto. Ele deveria cair sobre o seu rosto, dizendo: "Por que minha vara brotou? Não é igual às outras? Por que Deus me concedeu tal glória e poder? Eu mesmo jamais poderia fazê-lo. O que é nascido da carne é carne. Eu sou igual ao povo de Deus." Outros poderiam ficar confusos, mas Arão entendeu. Ele reconheceu que toda sua autoridade espiritual fora dada por Deus. Nenhum de nós tem direito de ficar orgulhoso. Se hoje recebemos misericórdia, é porque Deus assim o quis. Quem é competente para este ministério? Nossa competência vem de Deus. Viver alguém na presença de Deus e não se sentir humilde seria muito estranho. Seria preciso que houvesse uma quantidade tremenda de autoconfiança e tolice da parte do jumento para que imaginasse que o louvor daquele dia lhe fosse dirigido. Um dia ele despertaria e ficaria envergonhado de si mesmo. É verdade que seremos glorificados, mas nossa glória está no futuro, não agora. Irmãos e irmãs mais jovens deveriam aprender a lição da humildade. Todos nós precisamos saber que não depende nem um pouco de nós mesmos o nosso progresso. Não deveríamos nos considerar diferentes dos outros só porque aprendemos algumas lições espirituais. Tudo é graça de Deus, tudo é concedido por Deus, nada vem de nós mesmos. Arão sabia muito bem que fora Deus que fizera sua vara brotar, porque tudo aconteceu através de poder sobrenatural. Deus usou este meio para falar a Arão como também ao povo de Israel. Daquele momento em diante Arão ficou sabendo que todo ministério baseava-se no brotar, não nele mesmo. Hoje, ao servirmos a Deus, nós também devemos reconhecer que o ministério vem da ressurreição e a ressurreição vem de Deus.

O que é a ressurreição?
A ressurreição significa aquilo que não é natural, não vem do ego nem da capacidade da pessoa. É aquilo que eu não posso fazer, pois está além de minha capacidade. Eu posso pintar e e esculpir flores sobre a vara, mas não posso fazê-la brotar. Ninguém jamais ouviu falar de uma vara velha que tivesse brotado, nem de uma mulher idosa que tivesse concebido. Sara deu à luz Isaque: foi obra de Deus. Portanto Sara representa a ressurreição. A ressurreição é aquilo que eu não posso, mas Deus pode; o que eu não sou, mas o que Deus é. Não importa o que eu sou, pois baseia-se em Deus. Não depende de grande inteligência ou muita eloquência. O que eu tenha de espiritualidade deve-se à operação do próprio Deus em mim. Como teria sido absurdo e tolo se Arão insistisse em que sua vara brotou porque era diferente das outras varas, mais polida e mais reta. Se por um momento pensamos que somos melhores do que os outros, fazemos a coisa mais tola deste mundo. Qualquer diferença que haja vem do Senhor. Isaque significa riso. Sara riu porque sabia que era velha demais para conceber. Ela o considerava impossível. Por isso Deus chamou seu filho de Isaque Servindo ao Senhor, nós também precisamos rir e dizer: eu não posso, eu tenho certeza de que não sou capaz, mas isto é obra do Senhor. Se há alguma manifestação de autoridade, temos de confessar que é obra sua, não nossa.

A ressurreição é regra permanente para o serviço
Deus devolveu todas as varas aos seus respectivos donos, exceto a de Arão que brotou. Ela tinha de permanecer na arca como lembrete eterno. Isto sugere que a ressurreição é a regra permanente para o serviço. Se um serviço não passar da morte para a ressurreição, não é aceito por Deus. Aquilo que ressuscita é de Deus; não é de nós mesmos. Todos aqueles que se julgam louváveis não têm conhecimento do que é ressurreição. Aqueles que conhecem a ressurreição já se desiludiram de si mesmos. Enquanto houver poder natural, o poder da ressurreição fica obscurecido. Não é na criação que o poder de Deus se manifesta de maneira mais poderosa; é na ressurreição. O poder de Deus não se manifesta de maneira mais poderosa na criação; aparece na ressurreição. Tudo aquilo que o. homem é capaz de fazer não é da ressurreição Temos de chegar ao ponto de nos considerarmos como nada, como cães mortos; temos de ficar tão completamente arrasados que só possamos dizer a Deus o seguinte: "Haja o que houver, foi dado por ti; qualquer coisa que foi feita, veio toda de ti. De agora em diante não vou me enganar mais a respeito disto, pois estou totalmente persuadido que de mim só vem o que está morto, mas de ti, tudo o que é vivo. Temos, portanto, de tomar consciência desta diferença. O Senhor jamais entende mal, mas nós geralmente interpretamos errado. Era absolutamente impossível para Sara pensar que Isaque nasceu através de suas próprias forças. Deus tem de nos levar ao ponto onde jamais interpretaremos mal as suas obras. A autoridade vem de Deus, não de nós mesmos. Somos simplesmente mordomos de sua autoridade. Uma visão interior assim torna-nos capacitados para recebermos autoridade delegada. Sempre que tentamos exercer autoridade como se fosse nossa, somos imediatamente despojados de qualquer autoridadeJ A vara seca só pode produzir morte. Onde houver ressurreição, há autoridade, porque a autoridade repousa na ressurreição e não é coisa natural. Considerando que aquilo que nós temos é natural, não temos autoridade a não ser no Senhor. O que Paulo diz em 2 Coríntios 4:7 harmoniza com a interpretação acima. Ele se compara a um vaso terreno, e o tesouro, ao poder da ressurreição. Ele percebe muito bem que é meramente um vaso de barro, mas que o tesouro que há nele possui poder transcendente. Quanto a ele mesmo, é afligido de todas as maneiras; mas, através do tesouro, não é esmagado. De um lado há morte, mas ao mesmo tempo manifesta vida. Onde a morte opera, manifesta-se vida. Descobrimos o centro do ministério de Paulo em 2 Coríntios, capítulos 4 e 5; e a regra do seu ministério é a morte e ressurreição. O que há em nós é morte, o que há no Senhor é ressurreição. Não nos enganemos, a autoridade vem de Deus. Cada um de nós deve entender claramente que toda autoridade pertence ao Senhor. Nós meramente mantemos a autoridade do Senhor sobre a terra, mas nós mesmos não somos autoridade. Sempre que dependemos do Senhor temos autoridade. Mas, logo que um pouco do natural se intromete, somos como os outros — sem autoridade. Tudo aquilo que é da ressurreição tem autoridade. A autoridade vem da ressurreição e não de nós mesmos. É mais do que simplesmente depositar a vara diante de Deus; é a vara da ressurreição que permanece na presença de Deus. Ser autoridade delegada por Deus não é simplesmente manifestar um pouco de ressurreição mas é ter a vara brotando, florindo e produzindo frutos, transformando-se assim em vida ressurreta amadurecida.

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 Autor: Watchman Nee

Traduzido por Yolanda M. Krievin
Digitalizado por Luiz Carlos

ISBN 85-7367-136-X Categoria: Crescimento Cristão Este livro foi publicado em inglês com o título Spiritual Authority, por Christian Fellowship Publishers, Inc. © 1972 por Christian Fellowship Publishers, Inc. © 1979 por Editora Vida /" impressão, 1976 IIa impressão, 1993 2 a impressão, 1981 12a impressão, 1996 3 a impressão, 1986 13a impressão, 1997 4 a impressão, 1988 14a impressão, 1998 5 a impressão, 1990 15a impressão, 1999 6 a impressão, 1991 16a impressão, 2000 7" impressão, 1991 17a impressão, 2001 8" impressão, 1991 18a impressão, 2001 9 a impressão, 1992 19a impressão, 2003 10a impressão, 1992 20a impressão, 2004 Todos os direitos reservados na língua portuguesa por Editora Vida, rua Júlio de Castilhos, 280 03059-000 São Paulo, SP— Telefax: (11) 6618-7000 Capa: Valdir Guerra Filiado a: abec SÓCIO Impresso no Brasil, na Imprensa da Fé


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