CAPÍTULO 16
Abuso de autoridade e a disciplina
governamental de Deus
Não
havia água para o povo; então se ajuntaram contra Moisés e contra Arão. E o
povo contendeu com Moisés, e disseram: Oxalá tivéssemos perecido quando
expiraram nossos irmãos perante o Senhor!...Disse o Senhor a Moisés: Toma a
vara, ajunta o povo, tu e Arão teu irmão, e, diante dele, falai à rocha, e dará
a sua água; assim lhe tirareis água da rocha, e dareis a beber à congregação e
aos seus animais. Então Moisés tomou a vara de diante do Senhor, como lhe tinha
ordenado. Moisés e Arão reuniram o povo diante da rocha, e lhe disseram: Ouvi,
agora, rebeldes, porventura faremos sair água desta rocha para vós outros?
Moisés levantou a mão, e feriu a rocha duas vezes com a sua vara, e saíram
muitas águas; e bebeu a congregação e os seus animais. Mas o Senhor disse a
Moisés e a Arão: Visto que não crestes em mim, para me santificardes diante dos
filhos de Israel, por isso não fareis entrar este povo na terra que lhe dei.
São estas as águas de Meribá, porque os filhos de Israel contenderam com o
Senhor; e se santificou neles (Nm. 20:2-3, 7-13).
Disse
o Senhor a Moisés e a Arão no monte de Hor, nos confins da terra de Edom: Arão
será recolhido a seu povo, porque não entrará na terra que dei aos filhos de
Israel, pois fostes rebeldes à minha palavra, nas águas de Meribá. Toma a Arão
e a Eleazar, seu filho, e faze-os subir ao monte Hor; depois despe a Arão das
suas vestes, e veste com elas a Eleazar, seu filho; porque Arão será recolhido
a seu povo, e aí morrerá. Fez Moisés como o Senhor lhe ordenara; subiram ao
monte Hor perante os olhos de toda a congregação. Moisés, pois, despiu a Arão
de suas vestes, e vestiu com elas a Eleazar, seu filho; morreu Arão ali sobre o
cume do monte; e dali desceram Moisés e Eleazar (Nm. 20:23-28). Naquele mesmo
dia falou o Senhor a Moisés, dizendo: Sobe a este monte de Abarim, ao monte
Nebo, que está na terra de Moabe, defronte de Jericó, e vê a terra de Canaã,
que aos filhos de Israel dou em possessão. E morrerás no monte, ao qual terás
subido, e te recolherás ao teu povo, como Arão, teu irmão, morreu no monte Hor,
e se recolheu ao seu povo, porquanto prevaricastes contra mim no meio dos
filhos de Israel, nas águas de Meribá de Cades, no deserto de Zim, pois me não
santificastes no meio dos filhos de Israel. Pelo que verás a terra defronte de
ti, porém, não entrarás nela, na terra que dou aos filhos de Israel (Dt.
32:48-52).
Autoridade
delegada deve santificar a Deus
Depois de mais de trinta anos vagando
pelo deserto o povo de Israel tornou a esquecer as lições aprendidas na
rebelião. Quando chegaram ao deserto de Zim e não acharam água tornaram a
discutir com Moisés e Arão, pronunciando muitas palavras desagradáveis. Deus,
não obstante, não se zangou com eles. Simplesmente ordenou que se pegasse a
vara e falasse à rocha para que pudesse dar água. Moisés pegou a vara, um
símbolo da autoridade de Deus, em suas mãos. Contudo, estava tão tomado de ira
que chamou o povo de rebelde e, então, ignorando a ordem de Deus, bateu na
rocha duas vezes com a vara. Errou, mas mesmo assim a água jorrou da rocha. Por
causa disto, Deus repreendeu o seu servo, dizendo: "Não crestes em mim,
para me santificardes diante dos filhos de Israel." Significava que Moisés
não colocara Deus à parte de si mesmo e de Arão. Representara mal a Deus, pois
agira seguindo o seu próprio espírito e assim falara de maneira errada e ferira
a rocha erradamente. Parece que Deus repreendeu Moisés deste modo: "Vi meu
povo com sede e quis lhe dar água para beber, por que você os repreendeu?"
Deus não reprovou o povo, mas Moisés, sim. E assim deu ao povo de Israel uma
impressão errada de Deus, como se Deus fosse violento, vingativo e desprovido
de graça. Ser autoridade é representar Deus. Seja na ira ou na misericórdia,
uma autoridade sempre tem de ser como Deus. Se, numa tal posição, fizermos
alguma coisa errada, temos de reconhecer que é atitude nossa. Não devemos
jamais colocar Deus em nossos próprios erros. Tendo Moisés representado mal a
Deus, tinha de ser julgado. Se uma pessoa em posição de autoridade representa
mal a Deus e não o confessa, Deus tem de se vingar. Assim, mostrou ao povo de
Israel que fora atitude do próprio Moisés, não dele. É verdade que o povo tinha
murmurado e talvez sua atitude fosse rebelde, não obstante Deus não os julgara.
Como pôde Moisés ser tão impaciente julgando-os antes que Deus fizesse, e
falando colericamente sem controle? Foi atitude sua e sua ira, mas com toda
probabilidade o povo de Israel ficou com a impressão que foi atitude de Deus e
ira de Deus. Por isso Deus precisou inocentar-se se-parando-se de Moisés e
Arão. Vamos tomar o cuidado de jamais responsabilizar Deus pelo fracasso
humano, dando a impressão errada de que ele está expressando sua atitude
através de nós. No caso de uma tal atitude errada, Deus terá de se inocentar.
Se ficarmos zangados, vamos confessar que esta ira é nossa e não de Deus. É
preciso haver separação. É coisa terrível misturar as nossas atitudes com as de
Deus. Somos propensos demais para o erro. Por causa disto, sempre que errarmos
reconheçamos imediatamente que é nosso próprio erro. Assim não representaremos
mal a Deus e não concederemos nenhum terreno ao mal, nem cairemos nas trevas.
Se confessarmos logo, então Deus não precisará se defender e seremos libertados
de cair sob sua mão governamental.
Ser
autoridade delegada é um assunto sério
Em consequência do incidente acima,
Deus anunciou que tanto Moisés como Arão não teriam permissão de entrar em
Canaã. Se uma pessoa falar descuidadamente e fizer algo de maneira que não
santifique a Deus, então, no momento em que Deus tiver de se manifestar
justificando-se, não há mais jeito de pedir perdão. Devemos temer e tremer
quando dirigimos os negócios divinos. Tomemos o cuidado de não nos tornarmos
negligentes e imprudentes quando ficarmos mais velhos. Tempos atrás, quando a
ira de Moisés se inflamou e ele quebrou em pedaços as tábuas em que Deus
escrevera a lei, Deus não o acusou. Com seu zelo, tocara o coração de Deus e
por isso sua ira foi justificada. Agora, depois de seguir o Senhor por muitos
anos mais e ainda assim falhando em obedecer quando bateu na rocha duas vezes e
pronunciou palavras apressadas, Moisés deturpou a pessoa divina. Por isto, não
teve permissão de entrar em Canã.
O povo de Israel rebelou-se contra
Deus muitas vezes, mas ele teve paciência. Moisés e Arão, pelo contrário,
cometeram um erro e não tiveram permissão de entrar em Canaã. Isto é prova da
seriedade da autoridade delegada. Deus é mais severo com aqueles que o
representam. Em Números 18 o Senhor disse a Arão: "Tu e teus filhos, e a
casa de teu pai contigo, levareis sobre vós a iniquidade relativamente ao
santuário" (versículo 1). Quanto mais autoridade for delegada, mais severa
é a atitude de Deus. O Senhor também disse: "Mas àquele a quem muito foi
dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe
pedirão" (Lucas 12:48). Realmente foi um quadro lindo ver Moisés, Arão e
Eleazar, seu filho, subindo juntos ao Monte Hor. Todos foram obedientes a Deus,
aceitando humildemente o julgamento divino. Nem sequer oraram, pois conheciam a
Deus.
Arão sabia que o seu dia tinha
chegado, e Moisés também estava cônscio de seu próprio futuro. Deus ordenou a
Moisés que realizasse a troca, uma vez que junto às águas de Meribá Moisés
também foi o personagem principal. Vendo como Arão partia, Moisés ficou sabendo
como ele também partiria. Quando Arão foi despido de suas roupas santas,
morreu. Pessoas comuns não morrem só porque se lhes tiram as roupas, mas Arão
sim, porque sua vida era mantida pelo serviço isto dá a idéia de que a vida da
pessoa que serve a Deus acaba quando acaba o serviço. Muitos anos se passaram
depois do acontecido acima, mas o juízo de Deus não passou. Finalmente ele agiu
com Moisés da mesma maneira que tinha agido com Arão. Convocou Moisés ao Monte
Nebo para morrer, mesmo que durante os anos sucessivos Moisés tivesse
permanecido fiel. Antes de sua morte Moisés abençoou o povo de Israel com um
hino, mas não pediu que fosse poupado de sua própria sentença: (Veja
Deutero-nômio 33). Ele também se humilhou sob a poderosa mão de Deus. Ele que
representara a autoridade de Deus e que o tinha obedecido toda a sua vida
exceto naquela vez quando já era idoso, não teve permissão de entrar em Canaã.
Que tremenda perda para Moisés! Não pôde participar da promessa que Deus fez a
Abraão seiscentos anos antes! Nada é mais sério nem considerado com maior
severidade do que a autoridade delegada que age erradamente. Toda a vez em que
exercemos autoridade devemos pedir para ficar unidos a Deus. Se houver um erro,
vamos nos separar rapidamente de Deus, para não incorrermos em seu julgamento.
Antes de decidirmos qualquer coisa, vamos procurar saber o que ele pensa. Só
depois de tomar conhecimento do que ele pensa podemos fazê-lo em seu nome.
Moisés não podia declarar que aquilo que fez junto às águas de Meribá foi feito
em nome do Senhor. Não sejamos tolos, mas aprendamos a temer e tremer diante de
Deus. Não julgue com leviandade; antes, controle seu espírito e sua boca,
especialmente no momento de provocação. Quanto mais alguém conhece a Deus,
menos descuidado é. Às vezes uma pessoa pode receber perdão depois de ter caído
sob a mão governamental de Deus, mas isto não acontece sempre. O governo de
Deus não deve ser ofendido. Vamos ser claros a respeito disto.
Autoridades
delegadas não devem errar
Para que o nosso trabalho seja
aprovado por Deus não devemos servir com nossas próprias forças mas com base na
ressurreição. Nós mesmos não temos autoridade, estamos apenas representando
autoridade. Assim, a carne não tem lugar. Só causamos problemas se fazemos algo
de acordo com nossas próprias inclinações. A igreja não só teme a ausência de
autoridade, mas também teme a autoridade errada. Deus tem um pensamento e é o
de estabelecer a sua própria autoridade. Na igreja, a submissão à autoridade
deve ser absoluta. Sem submissão não pode haver igreja. Do mesmo modo, a
atitude de temor e tremor naqueles que representam a autoridade também deve ser
absoluta. Há duas dificuldades na igreja: a falta de submissão absoluta e a
presença de autoridade errada. Temos de aprender a não falar inadvertidamente,
a não dar opinião levianamente. Nosso espírito deve sempre se manter aberto
para com o Senhor, esperando sua luz disponível. Caso contrário, seremos
arrastados aos nossos erros e faremos coisas em seu nome que não são dele. Por
isto, temos de aprender, de um lado, como nos submeter e, de outro, como
representar Deus. Isto significa que temos de conhecer a cruz e a ressurreição.
Se a igreja tem um futuro, isto depende muitíssimo de como aprendermos nossas
lições.
A
autoridade vem do ministério; o ministério, da ressurreição
A autoridade de uma pessoa se baseia
em seu ministério, e o seu ministério por sua vez na ressurreição. Se não
houver ressurreição não pode haver ministério; e se não houver ministério, não
há autoridade. O ministério de Arão veio da ressurreição; sem esta, não poderia
nem ter servido. Deus jamais estabeleceu como autoridade alguém que não tem
ministério. Atualmente autoridade não é uma questão de posição. Onde falta
ministério espiritual, não pode haver posição de autoridade. Quem tem trabalho
espiritual diante de Deus tem autoridade diante dos homens. Justo significa que
o ministério espiritual de uma pessoa concede autoridade à pessoa entre os
filhos de Deus. Quem, então, pode lutar por esta autoridade, considerando que
não há jeito de se lutar pelo ministério? Exatamente como o ministério é
concedido pelo Senhor, a autoridade também é decidida por ele. Toda autoridade
se baseia no ministério. Arão possuía autoridade porque tinha serviço a prestar
diante de Deus. Seu incensário devia fazer expiação pelo povo e fazer parar a
praga, quando os incensários dos duzentos e cinquenta líderes foram
amaldiçoados por Deus. A rebelião de Números 16 não foi dirigida somente contra
a autoridade mas também contra o ministério. Arão estava em posição de
autoridade pois possuía ministério. A autoridade de uma pessoa não pode
ultrapassar ao seu ministério Não deveríamos tentar ultrapassar a autoridade de
nosso ministério Nossa atitude sempre deveria ser a de não nos atrevermos a
fazer coisas grandes demais e maravilhosas demais para nós (veja SI 131:1)
Sejamos, pelo contrário, fiéis diante de Deus de acordo com nossa posição.
Muitos irmãos imaginam erradamente que podem assumir autoridade ao acaso, não
sabendo que a autoridade que vem do ministério jamais se impõe aos filhos de
Deus. A autoridade de uma pessoa diante dos homens e igual ao ministério dela
diante de Deus. A medida do ministério determina a proporção da autoridade. Se
a autoridade excede o ministério, torna-se posicional e portanto já não é mais
espiritual. Se uma autoridade delegada erra, Deus irá julgar O mais alto
princípio no governo divino é sua própria vindicação. Considerando que Deus
está pronto a nos dar o seu nome e permite que o usemos —exatamente como alguém
nos confia o seu selo para nosso uso — então ele deve exonerar-se quando o
representamos mal. Ele dirá ao povo que a falta é nossa e não dele.
Arão morreu e Moisés também. Não tiveram
permissão de entrar em Canaã. Lutaram contra Deus? Não, porque estavam cônscios
de que a justificação de Deus era muito mais importante que sua entrada em
Canaã. Eles preferiram deixar de entrar em Canaã para que Deus pudesse
inocentarse. Como se pode ver em Deuteronômio 32, Moisés se esforçou para
explicar ao povo que fora falta de Israel, não de Deus. Portanto devemos manter
a incondicionalidade da verdade. Nenhum servo do Senhor deveria procurar uma
saída fácil ou conveniente. A vindicação divina é muito mais importante do que
o prestígio do homem. Embora Moisés e Arão tivessem algumas desculpas, não
argumentaram nem intercederam por si mesmos. Muitas vezes no passado eles
tinham intercedido pelo povo de Israel, mas agora nada pediram para si mesmos.
Esse silêncio é preciosíssimo. De preferência enfrentariam a dificuldade se com
isto proporcionassem a Deus a oportunidade de absolver-se. A autoridade vem do
ministério; flui para os corações das pessoas e as torna cônscias de Deus. O
ministério brota da vida da ressurreição e está enraizado em Deus. Quando um
ministro representa mal a autoridade de Deus seu ministério cessa, exatamente
como aconteceu com Moisés e Arão. Aprendamos, portanto, a manter o testemunho
do Senhor. Não ofereçamos conselhos levianamente, para não cairmos em juízo.
Que o Senhor nos conceda a graça de sermos instruídos por Deus. Que conceda
graça à sua igreja neste final dos tempos. Como é necessário que oremos: ó
Senhor, que a tua autoridade se manifeste na igreja; Senhor, leva cada irmão e
irmã a reconhecer o que é autoridade. A igreja local se revelará quando Deus
for capaz de expressar sua autoridade através dos homens. Aqueles que estão em
responsabilidade não representarão mal e o povo não os interpretará mal. Todos
e cada um saberão qual é o seu lugar e assim o Senhor poderá operar.
CAPÍTULO 17
As autoridades delegadas têm de
Permanecer sob autoridade
Tendo
Saul voltado de perseguir os filisteus, foi-lhe dito: Eis que Davi está no
deserto de En-Gedi. Tomou então Saul três mil homens, escolhidos dentre todo o
Israel, e foi ao encalço de Davi e dos seus homens, nas faldas das penhas das
cabras monteses. Chegou a uns currais de ovelhas no caminho, onde havia uma
caverna; entrou nela Saul, a aliviar o ventre. Ora Davi e os seus homens
estavam assentados no mais interior da mesma. Então os homens de Davi lhe
disseram: Hoje é o dia, do qual o Senhor te disse: Eis que te entrego nas mãos
o teu inimigo e far-lhe-ás o que bem te parecer. Levantou-se Davi, e
furtivamente cortou a orla do manto de Saul. Sucedeu, porém, que, depois sentiu
Davi ba-ter-lhe o coração, por ter cortado a orla do manto de Saul; e disse aos
seus homens: O Senhor me guarde de que eu faça tal cousa ao meu senhor, isto é,
que eu estenda a mão contra ele, pois é o ungido do Senhor (1 Sm. 24:1-6).
Vieram,
pois, Davi e Abisai de noite ao povo, e eis que Saul estava deitado, dormindo
no acampamento, e a sua lança fincada na terra à sua cabeceira; Abner e o povo
estavam deitados ao redor dele. Então disse Abisai a Davi: Deus te entregou
hoje nas mãos o teu inimigo; deixa-me, pois, agora, encravá-lo com a lança, ao
chão, de um só golpe; não será preciso segundo. Davi, porém, respondeu a Abisai:
Não o mates, pois quem haverá que estenda a mão contra o ungido do Senhor, e
fique inocente? Acrescentou Davi: Tão certo como vive o Senhor, este o ferirá,
ou o seu dia chegará em que morra, ou em que, descendo à batalha, seja morto. O
Senhor me guarde, de que eu estenda a mão contra o seu ungido; agora, porém,
toma a lança que está à sua cabeceira, e a bilha da água, e vamo-nos. Tomou,
pois, Davi a lança e a bilha da água, da cabeceira de Saul, e foram-se; ninguém
o viu, nem o soube, nem se despertou, pois todos dormiam, porquanto da parte do
Senhor lhes havia caído profundo sono (1 Sm. 26:7-12).
Disse
Davi ao moço que lhe dava as novas: Como sabes tu que Saul e Jôanatas, seu
filho são mortos? Então disse o moço portador das notícias: Cheguei por acaso à
montanha de Gilboa, e eis que Saul estava apoiado sobre a sua lança, e os
carros e a cavalaria apertavam com ele. Olhando ele para trás, viu-me e
chamou-me. Eu disse: Eis-me aqui. Ele me perguntou: Quem és tu? Eu respondi:
Sou amalequita. Então me disse: Arremete contra mim, e mata-me, pois me sinto
vencido de cãibra, mas o tino se acha ainda todo em mim. Arremessei-me, pois,
sobre ele, e o matei, porque bem sabia eu que ele não viveria depois de ter
caído. Tomei-Ihe a coroa que trazia na cabeça e o bracelete, e os trouxe aqui
ao meu senhor. Então apanhou Davi as suas próprias vestes e as rasgou, e assim
fizeram todos os homens que estavam com ele. Prantearam, choraram e jejuaram
até à tarde por Saul, e por Jônatas, seu filho, e pelo povo do Senhor, e pela
casa de Israel, porque tinham caído à espada. Então perguntou Davi ao moço
portador das notícias: Donde és tu? Ele respondeu: Sou filho de um homem
estrangeiro, amalequita. Davi lhe disse: Como não temeste estender a mão para
matares o ungido do Senhor? Então chamou Davi a um dos moços, e lhe disse: Vem,
lança-te sobre esse homem. Ele o feriu, de sorte que morreu (2 Sm. 1:5-15).
Depois
disto consultou Davi ao Senhor, dizendo: Subirei a alguma das cidades de Judá?
(2 Sm. 2:1).
Indo
Recabe e Baaná, filhos de Rimom beerotita, chegaram à casa de Is-Bosete, no
maior calor do dia, estando este a dormir, ao meio-dia. Ali entraram para o
interior da casa, como que vindo buscar trigo, e o feriram no abdómen; Recabe e
Baaná, seu irmão escaparam. Tendo eles entrado na casa, estando ele no seu
leito, no quarto de dormir, feriram-no, e o mataram. Cortaram-lhe depois a
cabeça e a levaram, andando toda a noite pelo caminho da planície. Trouxeram a
cabeça de IsBosete ao rei Davi, a Hebrom, e lhe disseram: Eis aqui a cabeça de
Is-Bosete, filho de Saul, teu inimigo, que procurava tirar-te a vida; assim o
Senhor vingou hoje ao rei meu senhor, de Saul e da sua descendência. Porém Davi
respondendo a Recabe e a Baaná, seu irmão, filhos de Rimom, o beerotita,
disse-lhes: Tão certo como vive o Senhor, que remiu a minha alma de toda a
angústia, se eu logo lancei mão daquele que me trouxe notícia dizendo: Eis que
Saul é morto, parecendo-lhe porém aos seus olhos que era quem trazia boas
novas, e como recompensa o matei em Ziclague, muito mais a perversos, que
mataram a um homem justo em sua casa, no seu leito; agora, pois, não requereria
eu o seu sangue de vossas mãos, e não vos exterminaria da terra? Deu Davi ordem
aos seus moços; eles, pois, os mataram e, tendo-lhes cortado as mãos e os pés,
os penduraram junto ao açude em Hebrom; tomaram, porém, a cabeça de Is-Bosete,
e a enterraram na sepultura de Abner, em Hebrom (2 Sm. 4:5-12).
Então
todas as tribos de Israel vieram a Davi, a Hebrom, e falaram, dizendo: Somos do
mesmo povo de que tu és. Outrora, sendo Saul ainda rei sobre nós, eras tu que
fazias entradas e saídas militares com Israel; também o Senhor te disse: Tu
apascentarás o meu povo de Israel, e serás chefe sobre Israel. Assim, pois,
todos os anciãos de Israel vieram ter com o rei em Hebrom; e o rei Davi fez com
eles aliança em Hebrom, perante o Senhor. Ungiram a Davi, rei sobre Israel (2
Sm. 5:1-3).
Ao
entrar a arca do Senhor na cidade de Davi, Mical, filha de Saul, estava olhando
pela janela, e, vendo ao rei Davi, que ia saltando e dançando diante do Senhor,
o desprezou no seu coração. Introduziram a arca do Senhor, e puseram-na no seu
lugar, na tenda que lhe armara Davi; e este trouxe holocaustos e ofertas
pacíficas perante o Senhor. Tendo Davi trazido holocaustos e ofertas pacíficas,
abençoou o povo em nome do Senhor dos Exércitos. E repartiu a todo o povo, e a
toda a multidão de Israel, assim a homens como a mulheres, a cada um, um bolo
de pão, um bom pedaço de carne e passas. Então se retirou todo o povo, cada um para
sua casa. Voltando Davi para abençoar a sua casa, Mical, a filha de Saul, saiu
a encontrar-se com ele, e lhe disse: Que bela figura fez o rei de Israel,
descobrindo-se hoje aos olhos das servas de seus servos, como sem pejo se
descobre um vadio qualquer! Disse, porém, Davi a Mical: Perante o Senhor, que
me escolheu a mim antes do que a teu pai, e a toda a sua casa, mandando-me que
fosse chefe sobre o povo do Senhor, sobre Israel, perante o Senhor me tenho
alegrado. Ainda mais desprezível me farei, e me humilharei aos meus olhos;
quanto às servas, de quem falaste, delas serei honrado. Mical, filha de Saul,
não teve filhos, até ao dia da sua morte (2 Sm. 6:16-23).
Então
entrou o rei Davi na casa do Senhor, ficou perante ele, e disse: Quem sou eu,
Senhor Deus, e qual é a minha casa, para que me tenhas trazido até aqui? (2 Sm.
7:18).
Disse, pois, o rei a Itai, o geteu: Por que
irias também tu conosco? Volta, e fica-te com quem vier a ser o rei, porque és
estrangeiro e desterrado de tua pátria. Chegaste ontem e já te levaria eu hoje
conosco a vaguear, quando eu mesmo não sei para onde vou? Volta, pois, e faze
voltar a teus irmãos contigo. E contigo sejam misericórdia e fidelidade (2 Sm.
15:19, 20).
Eis
que Abiatar subiu, e também Zadoque e com este todos os levitas que levavam a
arca da aliança de Deus; puseram ali a arca de Deus, até que todo o povo acabou
de sair da cidade. Então disse o rei a Zadoque: Torna a levar a arca de Deus à
cidade. Se achar eu graça aos olhos do Senhor, ele me fará voltar para lá, e me
deixará ver assim a arca como a sua habitação. Se ele, porém, disser: Não tenho
prazer em ti; eis-me aqui, faça de mim como melhor lhe parecer (2 Sm.
15:24-26).
Tendo
chegado o rei Davi a Baurim, eis que dali saiu um homem da família da casa, de
Saul, cujo nome era Simei, filho de Gera; saiu, e ia amaldiçoando. Atirava
pedras contra Davi e contra todos os seus servos; ainda que todo o povo e todos
os valentes estavam à direita e à esquerda do rei. Amaldiçoando-o dizia Simei:
Fora daqui, fora, homem de sangue, homem de Belial; o Senhor te deu agora a
paga de todo o sangue da casa de Saul, cujo reino usurpaste, já o entregou nas
mãos de teu filho Absalão; eis-te agora na tua desgraça, porque és homem de
sangue. Então Abisai, filho de Zeruvia, disse ao rei: Por que amaldiçoaria este
cão morto ao rei meu senhor? Deixa-me passar, e lhe tirarei a cabeça. Respondeu
o rei: Que tenho eu convosco, filhos de Zeruia? Ora deixai-o amaldiçoar; pois
se o Senhor lhe disse: Amaldiçoa a Davi, quem diria: Por que assim fizeste?
Disse mais Davi a Abisai, e a todos os seus servos: Eis que meu próprio filho
procura tirar-me a vida, quanto mais ainda este benjamita? Deixai-o, que
amaldiçoe, pois o Senhor lhe ordenou. Talvez o Senhor olhará para a minha
aflição e me pagará com bem a sua maldição deste dia. Prosseguiam, pois, o seu
caminho, Davi e os seus homens; também Simei ia ao longo do monte, ao lado
dele, caminhando e amaldiçoando, e atirava pedras e terra contra ele. O rei e
todo o povo que ia com ele chegaram exaustos ao Jordão, e ali descansaram (2
Sm. 16:5-14).
Todo
o povo, em todas as tribos de Israel, andava altercando entre si, dizendo: O
rei nos tirou das mãos de nossos inimigos, livrou--nos das mãos dos filisteus,
e agora fugiu da terra por causa de Absalão. Absalão, a quem ungimos sobre nós,
já morreu na peleja; agora, pois, por que vos calais, e não fazeis voltar o
rei? Então o rei Davi mandou dizer a Zadoque e a Abiatar, sacerdotes: Falai aos
anciãos de Judá: Por que seríeis vós os últimos em tornar a trazer o rei para a
sua casa? visto que aquilo que todo o Israel dizia já chegou ao rei, até à sua
casa. Vós sois meus irmãos, sois meu osso e minha carne; por que, pois, seríeis
os últimos em tornar a trazer o rei? Dizei a Amasa: Não és tu meu osso e minha
carne? Deus me faça o que lhe aprouver se não vieres a ser para sempre
comandante do meu exército, em lugar de Joabe. Com isto, moveu o rei o coração
de todos os homens de Judá, como se fora um só homem, e mandaram dizer-lhe:
Volta, ó rei, tu e todos os teus servos. Então o rei voltou, e chegou ao
Jordão; Judá foi a Gilgal, para encontrar-se com o rei, a fim de fazê-lo passar
o Jordão (2 Sm. 19:9-15).
Nos tempos do Velho Testamento Davi foi o
segundo a quem Deus fez rei; o primeiro rei, Saul, também foi estabelecido por
ele. Davi era a nova autoridade estabelecida por Deus, o novo ungido do Senhor;
enquanto Saul era a autoridade rejeitada, aquele cuja unção era coisa do
passado, pois o Espírito de Deus já o tinha deixado. Vamos observar agora como
Davi estava sujeito à autoridade, não se esforçando em estabelecer a sua
própria autoridade.
Esperando
que Deus garantisse a autoridade
1 Samuel 24 apresenta o que aconteceu em
En-Gedi. Davi cortou um pedaço do manto de Saul e o seu coração o acusou porque
sua consciência era extremamente sensível. O capítulo 26 conta como Davi tomou
a lança e o cantil de Saul. Provavelmente pensava que tirando essas coisas que
pertenciam a Saul daria provas de sua presença e seria assim mais atendido.
Isto, entretanto, é o modo de agir de um advogado e não de um cristão. Um
cristão se preocupa com os sentimentos, não com o raciocínio; lida com fatos,
não com evidências. É verdade que Davi, no princípio, agiu como um advogado,
mas tendo os sentimentos de um cristão, seu coração podia imediatamente ser
tocado. Diante de Deus somos pessoas que se preocupam com atos e não com a
política, por isso não enfatizamos processos. Embora o cortar do manto e o
tirar de uma espada e um cantil nos tornassem mais conspícuos, nosso coração
haveria de nos acusar. Davi era capaz de se sujeitar à autoridade. Jamais
anulou a autoridade de Saul; simplesmente aguardava que Deus garantisse a sua
autoridade. Não ajudaria Deus a fazê-lo; pelo contrário, prontamente aguardaria
que Deus agisse. Qualquer pessoa para ser autoridade delegada por Deus tem de
aprender a não tentar estabelecer sua própria autoridade.
As
autoridades precisam ser escolhidas por Deus e pela igreja
O primeiro capítulo de 2 Samuel conta como um
homem matou Saul, mas Davi então, por sua vez, julgou o assassino. Por quê?
Porque o homicida violou a autoridade. Embora a violação não se dirigisse
contra Davi, ele julgou o assunto porque foi uma violação de autoridade.
Depois da morte de Saul, Davi perguntou a
Deus a que cidade devia ir. Humanamente falando, Davi com o seu exército
deveria descer rapidamente a Jerusalém, pois ali estava o palácio. Era uma
oportunidade que não deveria ser perdida. Mas ele perguntou a Deus e Deus lhe
disse que fosse a Hebrom. Hebrom era apenas uma cidade pequena e sem importância.
A ida de Davi para lá provou que ele não estava tentando usurpar a autoridade
por sua própria iniciativa. Esperou para ser ungido pelo povo de Deus. Samuel
já o tinha ungido porque era o escolhido por Deus. Agora Judá o ungiu, porque
era o escolhido do povo. Esta atitude tipifica a igreja fazendo suas escolhas.
Davi não podia nem se opor nem recusar a unção do povo; ele não podia dizer:
"Uma vez que já tenho a unção de Deus sobre mim não preciso da unção de
vocês." Ser ungido por Deus é uma coisa; ser ungido por seu povo é outra
coisa. É preciso que haja a escolha da igreja e a escolha de Deus Ninguém pode
se impor aos outros. Davi não subiu a Jerusalém, porque esperava que o povo de
Deus o ungisse. Permaneceu em Hebrom por sete anos. Embora não fosse um período
curto, Davi não ficou impaciente. Deus jamais escolhe alguém para ser
autoridade que esteja cheio de egoísmo e que procure a sua própria glória. Deus
ungira Davi para ser rei sobre toda a nação de Israel como também sobre Judá,
mas o povo de Deus ainda não o tinha aceito totalmente.
Quando a casa de Judá o ungiu, tornou-se rei
sobre aquela casa primeiro. Pelo resto, não estava ansioso; podia esperar.
Depois de reinar sobre Judá em Hebrom durante sete anos, todas as tribos de
Israel ungiram Davi seu rei; assim foi rei em Jerusalém durante trinta e três
anos. Por sua própria natureza, a
autoridade não pode promover-se nem impor-se aos outros; deve ser estabelecida
por Deus e ungida pelos homens.
Para estar em autoridade sobre os
filhos de Deus, é necessário que haja as duas coisas, a unção do Senhor e a
unção do povo. Jamais durante aqueles sete anos desde os trinta até os trinta e
sete, Davi duvidou que seria ungido pelo povo de Israel. Submeteu este assunto
nas mãos de Deus. Todos aqueles que conhecem a Deus podem esperar. Se a
condição de uma pessoa está correta, será reconhecida não só pelo Senhor como
seu representante mas também pela igreja como representante de Deus Jamais
lutemos com a carne, nem mesmo para levantar um dedo.
Ninguém pode se levantar e afirmar:
"Sou autoridade estabelecida por Deus, vocês todos têm de submeterse a
mim." Primeiro temos de aprender a ter ministério espiritual diante do
Senhor e então, na hora designada por Deus, entraremos no meio dos seus filhos
para servi-los. Por que Davi teve de esperar em Hebrom? Porque depois da morte
de Saul, seu filho Is-Bosete, sucedeu-o como rei em Jerusalém.
Mais tarde, Recabe e Baaná
assassinaram Is-Bosete e trouxeram sua cabeça a Hebrom, pensando que traziam
boas notícias. Pelo contrário, Davi mandou matá-los. Davi os julgou porque se
rebelaram contra a autoridade. Quanto mais uma pessoa aprender a ser
autoridade, mais capaz será de manter a autoridade. Ninguém jamais deveria
permitir que a autoridade de outra pessoa fosse prejudicada a fim de
estabelecer a sua própria. Sempre que há rebelião contra a autoridade — e mesmo
que não seja diretamente contra você — tem de ser julgada. Não aja com as
pessoas só quando elas infringirem a sua autoridade.
Nenhuma
autoridade diante de Deus
2 Samuel 6 conta como, quando já era
rei sobre todo o Israel, Davi dançou diante da arca. Mical, sua esposa, a filha
de Saul, viu-o e desprezou-o em seu coração. Mical achava que, sendo rei, ele
deveria se santificar diante do povo de Israel; isto é, deveria manter sua
dignidade exatamente como seu pai Saul fizera. Davi entendia a coisa de maneira
diferente. Ele achava que na presença de Deus não tinha autoridade nenhuma,
pois era vil e desprezível. Em pensamento Mical cometeu a mesma falta de seu pai
que, mesmo depois que Deus o rejeitou por ter-se rebelado poupando o que havia
de melhor entre o gado e as ovelhas, ainda assim quis salvar o seu prestígio
pedindo a Samuel que o honrasse diante do povo de Israel. Mical estava
familiarizada com esse jeito de fazer as coisas, mas era diferente com Davi. o
resultado foi que Deus aceitou Davi, mas julgou Mical fechando o seu ventre.
Até o dia de hoje, todos aqueles que andam pelo caminho de Mical, serão
privados de descendência.
Qualquer um que representa autoridade deveria
ser manso e humilde diante de Deus e do seu povo. Não deveria ser presunçoso;
não deveria também procurar manter a sua própria autoridade entre os homens.
Embora Davi fosse o rei sobre o trono, diante da arca de Deus era igual ao seu
povo. Mical achava que Davi também era rei na presença de Deus. Não aguentou a
visão de Davi dançando diante da arca, por isso caçoou dele, dizendo: "Que
bela figura fez o rei de Israel hoje!" Embora alguns sejam escolhidos para
ficar em posição de autoridade na igreja, todos são iguais diante de Deus. Eis
aí a base e o segredo da autoridade.
Sem
consciência de autoridade
Gosto de maneira especial das
palavras de 2 Samuel 7:18: "Então entrou o rei Davi na casa do Senhor,
ficou perante ele." O templo ainda não fora construído, portanto a arca se
encontrava numa tenda; e Davi se sentou no chão. Ali Deus fez uma aliança com
Davi, e ali Davi ofereceu uma oração maravilhosa. Nesta oração descobrimos um
espírito terno e sensível. Antes de se tornar rei, Davi foi um poderoso
guerreiro; ninguém podia enfrentá-lo. Agora que era rei, assentou-se
humildemente sobre o chão. Continuou sendo um homem humilde. Mical, que tinha
nascido no palácio, quis reter a sua majestade, exatamente como seu pai. Não
via a diferença entre o homem entrando na presença de Deus e saindo de sua
presença. Sair é falar e agir em nome de Deus com autoridade, mas entrar é
prostrar-se aos pés do Senhor, reconhecendo sua própria indignidade. Davi foi
verdadeiramente um rei estabelecido por Deus, pois tinha a autoridade de Deus.
Cristo não só era filho de Abraão, mas também filho de Davi. O nome do último
rei mencionado em toda a Bíblia é o nome de Davi. Portanto não nos surpreende
que Davi, mesmo sendo rei, não tivesse consciência de sua realeza, só de sua
indignidade? Não, qualquer um que pensa e sente que é uma autoridade não é
digno dessa autoridade. Quanto mais autoridade alguém possui, menos consciência
tem dela. Aquele que representa a autoridade de Deus deve ter em si esta
bendita tolice: ter autoridade mas não ter consciência de ser uma autoridade.
A
autoridade não precisa ser automantida
A rebelião de Absalão foi dupla: como
filho rebelou-se contra o seu pai, e como cidadão revoltouse contra o seu
soberano. Quando Davi fugiu da cidade tinha terrível necessidade de seguidores.
Mesmo assim pôde dizer de Itai: "Volta, e fica-te com quem vier a ser o
rei, porque és estrangeiro e desterrado de tua pátria' (2 Sm. 15:19). Como o
coração de Davi era sensível! Mesmo em seu desespero não queria levar homens
consigo.
Não é fácil conhecer-se uma pessoa de
verdade dentro de um palácio, mas na provação ela se revela claramente.
Então os sacerdotes vieram com a
arca. Se a arca fosse com Davi, muitos dentre o povo de Israel certamente o
teriam seguido. Mas Davi elevou-se acima de sua aflição. Não permitiria que a
arca o seguisse; preferia deixar que Deus fizesse com ele o que julgasse bom.
Sua atitude foi de absoluta sujeição sob a poderosa mão de Deus. Ele disse:
"Se achar eu graça aos olhos do Senhor, ele me fará voltar para lá, e me
deixará ver assim a arca como a sua habitação. Se ele, porém, disser: Não tenho
prazer em ti; eis-me aqui, faça de mim como melhor lhe parecer" (2 Sm.
15:25-26). Persuadiu Zadoque e todos os sacerdotes que carregavam a arca a
voltar. Essas palavras parecem fáceis de dizer, mas num momento de fuga são
extremamente difíceis de enunciar. Aqueles que fugiram da cidade eram poucos em
número, e Jerusalém estava cheia de gente rebelde. Não obstante Davi pôde
mandar seus bons amigos de volta. Como o coração de Davi era puro! Subiu ao
Monte das Oliveiras, chorando pelo caminho, descalço e com a cabeça coberta.
Como era manso e humilde!
Tal, realmente, é a condição da
autoridade estabelecida por Deus. Por que lutar com os homens? Deus é que decide
se uma pessoa é rei ou não; não depende das multidões de seguidores, nem mesmo
da presença da arca. Davi não sentiu necessidade de tentar estabelecer sua
autoridade.
A
autoridade suporta a provocação
Um espírito rebelde é contagioso. Pelo
caminho, apareceu Simei que amaldiçoava Davi sem parar e atirava pedras nele
acusando-o: "O Senhor te deu agora a paga de todo o sangue da casa de
Saul" (2 Sm. 16:8). Nada podia estar mais longe da verdade, uma vez que
Davi não derramou nenhum sangue da casa de Saul. Não obstante Davi nem
argumentou nem procurou vingar-se ou resistir. Tinha ainda seus homens de
guerra ao seu lado, e tinha poder para matar aquele homem. Mas impediu-os de
matar Simei, dizendo: "Deixai-o, que amaldiçoe, pois o Senhor lhe ordenou"
(2 Sm. 16:11)
Que homem quebrantado e manso era
Davi! Lendo a Bíblia precisamos captar o espírito de Davi nesta hora.
Desesperado e solitário como se encontrava naquela ocasião, certamente poderia
pelo menos desabafar um pouco sobre Simei. Mas Davi era homem de obediência
absoluta. Submetiase a Deus e aceitava qualquer coisa que viesse de Deus. Que
todos os irmãos aprendam esta lição: o homem de autoridade que Deus estabelece
é capaz de suportar provocação. Se a autoridade que você possui é incapaz de
ofender-se você está qualificado para ficar em autoridade. Não imagine que você
pode exercer autoridade livremente porque foi escolhido por Deus. Só os
obedientes têm capacidade para ficar em autoridade.
Aprenda
a humilhar-se sob a poderosa mão de Deus
Davi não retornou ao palácio imediatamente
após a morte de Absalão. Por quê? Porque Absalão também já fora ungido rei pelo
povo. Portanto Davi tinha de aguardar. Então as onze tribos vieram ao rei e lhe
pediram que voltasse, mas a tribo de Judá permaneceu em silêncio. Então Davi, a
fim de animar seus corações, enviou uma mensagem a Judá porque ele mesmo era
daquela tribo, embora, estivesse agora expulso por eles. Devia esperar que todo
o seu povo lhe pedisse para voltar. É verdade que Davi foi originalmente
estabelecido por Deus; não obstante, quando surgiram as provações, ele aprendeu
a humilhar-se sob a poderosa mão de Deus. Não se sentia ansioso, nem lutou por
si mesmo. Todas as suas batalhas foram pelo povo de Deus. Todos os que são
usados por Deus em posição de autoridade devem ter o espírito de Davi. Que
ninguém se defenda nem fale por si mesmo. Aprendamos a esperar e a humilhar-nos
diante de Deus. Aquele que sabe como obedecer melhor, é aquele que é melhor
qualificado para ficar em posição de autoridade. Quanto mais alguém se prostra
diante de Deus mais depressa o Senhor o vinga.
CAPÍTULO 18
A vida diária e a motivação interior
Das autoridades delegadas
Então
se aproximaram dele Tiago e João, filhos de Zebedeu, dizendo-lhe: Mestre,
queremos que nos concedas o que te vamos pedir. E ele lhes perguntou: Que
quereis que vos faça? Responderam-lhe: Permite-nos que na tua glória nos
assentemos um à tua direita e o outro à tua esquerda. Mas Jesus lhes disse: Não
sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu bebo, ou receber o batismo
com que eu sou batizado? Disseram-Ihe: Podemos. Tornou-lhes Jesus: Bebereis o
cálice que eu bebo e recebereis o batismo com que eu sou batizado; quanto,
porém, ao assentar-se à minha direita ou à minha esquerda, não me compete
concedê-lo; porque é para aqueles a quem está preparado. Ouvindo isto,
indignavam-se os dez contra Tiago e João. Mas Jesus, chamando-os para junto de
si, disselhes: Sabeis que os que são considerados governadores dos povos,
têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. Mas
entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós,
será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será servo
de todos. Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para
servir e dar a sua vida em resgate por muitos. (Marcos 10:35-45).
Beber
o cálice do Senhor e ser batizado com o batismo do Senhor
Quando esteve aqui sobre a face da
terra, nosso Senhor raramente ensinou às pessoas como exercer autoridade, pois
não era o seu propósito ao vir ao mundo. A passagem mais clara em que o Senhor
instrui sobre autoridade é esta que encontramos em Marcos 10. Se alguém deseja
saber como exercer autoridade deve ler esta passagem. O Senhor nos mostra aqui
o caminho da autoridade. Tudo começou com Tiago e João. Desejavam assentar-se
um de cada lado do Senhor em sua glória. Conhecendo a impropriedade de tal
pedido, não se atreveram a fazê-lo diretamente, mas sutilmente sugeriram que o
Senhor lhes prometesse qualquer coisa que pedissem. Quiseram antes obter uma
promessa do Senhor. Mas o Senhor não aquiesceu prontamente; pelo contrário,
perguntou o que desejavam que fizesse por eles. Por isso responderam:
"Permite-nos que na tua glória nos assentemos um à tua direita e o outro à
tua esquerda." Tal pedido encerrava dois significados: primeiro, ficar
perto do Senhor; segundo, ter mais autoridade. Estava certo que desejassem
ficar mais perto do Senhor, mas o pedido deles foi muito além disso quando
desejaram ter mais autoridade na glória do que os outros dez discípulos. Como
respondeu o Senhor? Como antes havia perguntado que queriam que lhes fizesse,
agora ele declara que eles mesmos não sabiam o que estavam pedindo. O Senhor
não rejeitou o desejo que tinham de ficar perto dele ou de ficar em posição de
autoridade, nem os culpou porque desejassem sentar-se à sua direita e esquerda.
Simplesmente respondeu que teriam de beber o seu cálice e ser batizados com o
seu batismo antes que pudessem assentar-se à sua direita ou esquerda. Tiago e
João pensaram que poderiam obter o que desejavam apenas pedindo, mas o Senhor
replicou que não era pedindo, mas bebendo o cálice e recebendo o batismo.
Portanto, fica evidente que se os homens não beberem o cálice do Senhor e não
receberem o seu batismo não podem se aproximar dele nem possuir autoridade.
O
que é o cálice e o batismo do Senhor?
Qual é o significado do cálice do
Senhor? No Jardim do Getsêmani um cálice foi colocado diante do Senhor, e ele
orou: "Meu Pai: Se possível, passa de mim este cálice! Todavia, não seja
como eu quero, e, sim, como tu queres" (Mt. 26: 39). Naquele momento o
cálice e a vontade de Deus não eram uma só coisa. O cálice podia ser removido,
mas a vontade não podia ser modificada. O Senhor ainda poderia não precisar
beber o cálice, embora desejasse fazer a vontade de Deus de maneira absoluta.
Sua atitude foi, que se fosse a vontade de Deus que bebesse, então ele beberia;
mas se não fosse a vontade de Deus, ele não beberia. Tais palavras despertam
nossa adoração. O que ele destacou no jardim foi se o cálice era ou não a
vontade de Deus. Depois de orar assim três vezes ele ficou sabendo que o cálice
e a vontade de Deus eram uma coisa só. Portanto acrescentou rapidamente:
"Não beberei, porventura, o cálice que o Pai me deu?" (João 18: 11).
No jardim havia ainda a possibilidade
do cálice passar dele porque o cálice e a vontade de Deus ainda não tinham se
tornado a mesma coisa. Depois desta experiência no jardim, entretanto, o Senhor
sabia que o cálice e a vontade de Deus eram uma só coisa. Portanto, fora do
jardim, o cálice já fazia parte da vontade de Deus. Era um cálice dado pelo Pai
que ele tinha de beber. Esta é uma lição espiritual muito profunda. O Senhor
não se preocupou principalmente com a cruz; estava ocupado, em vez disso, em
fazer a vontade de Deus. Embora sua crucificação fosse tremendamente
importante, não poderia contudo substituir a vontade de Deus. A cruz sobre a
qual morreu em resgate por muitos não podia sobrepujar a vontade de Deus.
Ele não veio para ser crucificado mas para
fazer a vontade de Deus. Por amor ao Pai foi crucificado. Não tinha
relacionamento direto com a cruz; só estava diretamente relacionado com a
vontade de Deus. Sua escolha era a vontade de Deus, não a cruz. De acordo com
isso, o beber o cálice significava sua sujeição à enorme autoridade de Deus em
obedecer à vontade deste. Por isso perguntou a Tiago e João: "Podeis vós
beber o cálice que eu bebo?" Muitos são capazes de se relacionarem à
consagração, ou ao sofrimento ou ao trabalho, mas devemos manter relacionamento
direto só com a vontade de Deus. Algumas pessoas quando ocupadas no trabalho
não servem para mais nada. Ficam tão tomadas pelo que estão fazendo que se
afogam naquilo.
Não podem nem sequer aceitar dali em
diante a vontade de Deus. Insistem em ir até o fim, uma vez que não estão
trabalhando por causa da vontade de Deus mas por amor ao trabalho. Isto não
aconteceu com o Senhor. Estava tão ansioso em fazer a vontade de Deus que lhe
seria possível não ser crucificado. Contudo, uma vez claro que a vontade de
Deus para ele era a cruz, imediatamente a aceitou, apesar de seus sofrimentos
indizíveis. Por isso a pergunta que fez a Tiago e João foi: Vocês estão prontos
a se submeter à vontade de Deus como eu me submeto? Este é o cálice do Senhor.
Aqueles que são obedientes a Deus estão ligados apenas ã vontade de Deus; tudo
mais fica sujeito a mudanças. Antes de fazer a vontade de Deus devem primeiro
submeter-se à autoridade de Deus. No Jardim do Getsêmani o Senhor atingiu o
cume de sua obediência. Não misturou o cálice com a vontade de Deus.
O objeto de sua obediência é a
vontade de Deus; o cálice não é o seu objetivo. Sempre obedece à vontade de
Deus porque a considera acima de tudo. Não é o trabalho, nem o sofrimento, nem
mesmo a cruz, mas a vontade de Deus! O Senhor parecia dizer a Tiago e João:
assentar-se ou não à minha direita e à minha esquerda depende de vocês beberem
o meu cálice, que neste caso é absoluta obediência à vontade de Deus. Qual é,
então, o significado do batismo do Senhor? Não se refere ao batismo no rio
Jordão uma vez que era um acontecimento passado. Não, aponta para o futuro,
para a sua morte na cruz: "Tenho, porém, um batismo com o qual hei de ser
batizado", disse o Senhor, "e quanto me angustio até que o mesmo se
realize!" (Lucas 12:50). Ele antecipava a sua libertação. A plenitude da
glória de Deus estava tolhida em seu corpo encarnado. Como se sentia preso e
angustiado! Que bênção quando fosse libertado! A cruz é portanto a libertação
da vida além da expiação pelo pecado.
Deus liberta sua vida através da
cruz. Logo que a vida de Deus é liberada acende-se como um fogo lançado sobre a
terra. Causará divisão em lugar de paz. Tudo o que é tocado pelo fogo, queima,
Casas serão divididas; os crentes e os incrédulos entrarão em conflito; aqueles
que têm vida e aqueles que não têm vida lutarão uns contra os outros; e o
queimado entrará em conflito com o que não está queimado.
Isto chama-se de batismo do Senhor.
Onde há vida, há luta, não paz. Aqueles que receberam este batismo estão
separados daqueles que não o receberam. Portanto parece que o Senhor aqui está
dizendo: Eu vou para a cruz a fim de libertar a vida para que as pessoas possam
lutar umas com as outras; vocês são capazes de fazer a mesma coisa? O batismo
em si mesmo é primeiramente morte e então vida liberada; sendo que a
consequência do batismo é dividir as pessoas. Isto se parece com a declaração
de Paulo que disse: "em nós opera a morte; mas em vós, a vida." (2
Co. 4:12).
No batismo o Senhor desfaz sua casca
pela morte e assim libera a vida. Temos de fazer o mesmo hoje. Temos de
quebrantar o homem exterior para que a vida interior possa fluir. Quando a
casca de um homem se quebra ele se aproxima muito dos outros e a vida pode
fluir facilmente. Caso contrário a vida ficará presa, o espírito terá
dificuldade de sair, e assim o caminho da vida aos outros ficará bloqueado. É
quando o grão de trigo cai sobre a terra e sua casca se rompe que a vida começa
a fluir. Por isso o Senhor disse: "Quem perder a vida por minha causa,
achá-la-á" (Mt. 16:25). O Senhor não diz "morrer" mas "ser
batizado" — para que ninguém entenda mal e imagine que Tiago e João
participaram da expiação. Na questão da expiação, Cristo, na qualidade de nosso
sumo sacerdote, expia sozinho os nossos pecados. Não há ninguém mais que possa
expiar ou participar da expiação.
No que se refere à parte expiatória
de sua morte na cruz, não participamos dela; mas quanto à parte de sua morte
que proporciona vida, todos participamos dela. Consequentemente, o Senhor aqui
fala só do aspecto da sua morte que libera vida, nada relacionado com a
expiação. Assim, parece que nos diz: "O batismo que receberei arrebentará
minha casca e libertará vida. Vocês estão prontos a serem assim
batizados?" Se um homem não for quebrantado, a vida não pode ser
libertada. Um homem não quebrantado mantém uma grande distância entre si e os
outros. Embora se assente bem pertinho das pessoas, não pode tocá-las, porque
sua vida interior não pode fluir livremente. Logo que esta vida flui, a terra
perde a sua paz e começa a luta. Muitos serão divididos por causa daqueles que
têm esta vida fluindo. A diferença entre aqueles que pertencem ao Senhor e
aqueles que não pertencem é grande. Muitas dificuldades surgirão entre aqueles
que têm o Senhor e aqueles que não têm, aqueles que conhecem a Deus e aqueles
que não conhecem, aqueles que pagam o preço e aqueles que não pagam, aqueles
que são fiéis e aqueles que são infiéis, aqueles que aceitam as provações e
aqueles que as recusam. O Senhor aparentemente dizia o seguinte a Tiago e João:
"Uma vez que vocês me pedem para serem diferentes dos demais assentando-se
à minha direita e esquerda, são capazes de hoje ser diferentes do restante dos
filhos de Deus? Vocês têm de primeiro beber o cálice e ser batizados com o
batismo para poderem se assentar à minha direita e esquerda na glória.
" Tiago e João responderam
presunçosamente: "Somos capazes!" Mesmo assim, o Senhor não lhes
prometeu os ambicionados lugares ao seu lado. Embora eles pedissem erradamente,
o Senhor tinha de responder corretamente. Seu pensamento é: se um homem não
beber o seu cálice e não for batizado com o seu batismo, não pode sentar à sua
direita ou à sua esquerda; e mesmo se bebe e é batizado, poderá não se sentar
ao seu lado, uma vez que esses lugares se destinam àqueles para os quais foram
preparados por Deus.
Autoridade
não é mandar, mas servir humildemente
O Senhor continuou ensinando sobre a
questão da autoridade. Reuniu seus discípulos e os instruiu sobre as coisas
futuras na glória. Disse que, entre os gentios, os homens buscam autoridade a
fim de poder governar sobre os outros. É bom que nós busquemos a glória futura,
mas não devemos ter o pensamento de governar ou mandar sobre os filhos de Deus.
Fazê-lo nos levaria a cair no estado dos gentios Exercer autoridade e governar
são desejos dos gentios. Um espírito assim deve ser expulso da igreja. Aqueles
a quem o Senhor usa são os que conhecem o cálice do Senhor e o seu batismo.
Quando bebemos o cálice e recebemos o batismo naturalmente teremos autoridade.
Horrenda coisa é procurar governar sobre os homens externamente. Devemos
expulsar de nós este espírito dos gentios. Caso o contrário não seremos aptos a
liderar os outros. Aqueles que procuram exercer autoridade não devem ser postos
em posições de autoridade, pois Deus jamais concede autoridade a tais pessoas.
Quanto mais o espírito dos gentios domina uma pessoa menos Deus pode usá-la.
Mas aquele que sente sua incompetência é aquele a quem Deus concede autoridade.
Este é o caminho do Senhor e este deveria ser o nosso caminho. Jamais
deveríamos ser como os políticos ocupados na arte política da diplomacia. Não
deveríamos conceder uma posição a alguém com medo de que se rebele se não o
fizermos.
O caminho na casa de Deus deve ser
espiritual e não político. Embora nossa atitude deva ser mansa e gentil, temos
de ser fiéis diante de Deus. Um homem necessita prostrar-se diante de Deus para
poder ser usado; sempre que se engrandece é rejeitado por Deus. Que diferença
enorme da autoridade entre os gentios e a igreja! Os primeiros governam por
posição, mas a segunda governa pelo ministério da vida espiritual. É totalmente
ruinoso para a igreja cair no estado dos gentios. Ela deve manter uma separação
restrita deles. Se qualquer um entre nós considera-se qualificado para ser
autoridade, está totalmente desqualificado. Devemos manter esta sensibilidade
em nosso meio.
Para
ser grande, é preciso ser servo
A autoridade que Deus designa precisa de
antecedentes espirituais — deve beber o cálice, isto é, obedecer de maneira
absoluta à vontade de Deus; e deve receber o batismo, isto é, aceitar a morte
para que a vida seja liberada. Também não deve ter nenhuma intenção de exercer
autoridade; pelo contrário, deve estar preparado para servir como servo e escravo
de todos. Em outras palavras, possuir base espiritual de um lado e espírito de
humildade do outro. Porque não procura ser autoridade Deus pode usá-lo como
tal.
É descabido falar sobre autoridade se
o cálice não for bebido e o batismo não for recebido. Para aquele que é
verdadeiramente humilde e que se considera inadequado para qualquer coisa que
não seja servir a todos, a este o Senhor anuncia que pode ser grande. A
condição para a autoridade é consequentemente um senso de incompetência e
indignidade. Da Bíblia podemos concluir que Deus nunca usa uma alma orgulhosa.
No momento em que uma pessoa fica orgulhosa, Deus a deixa de lado. Seu orgulho
escondido, mais cedo ou mais tarde se revelará através de suas palavras, pois
as palavras não cessam de escapar. No futuro tribunal divino até mesmo os
humildes ficarão muito surpresos. E se isso é verdade, quanto maior será o
horror dos orgulhosos naquele dia! Devemos sentir nossa incompetência, porque
Deus só usa os inúteis. Diplomacia polida não se aplica aqui; antes, é preciso
ter um sentimento sincero de que somos servos inúteis. Embora tenhamos cuidado
do rebanho e cultivado o solo, ao voltar ainda nos reconhecemos como servos
inúteis. Não nos esqueçamos de permanecer na posição de servo. Deus jamais
confia sua autoridade aos que têm justiça própria e que são autocompetentes.
Rejeitemos o orgulho, aprendamos a ser humildes e mansos, e a não falar de nós
mesmos.
Aprendamos a nos conhecer à luz de
Deus. Finalmente, o Senhor disse: "Pois o Filho do homem também veio não
para ser servido, mas para servir, e dar a sua vida em resgate de muitos."
O Senhor não veio para exercer autoridade; veio para servir. Quanto menos
convencida e mais humilde for uma pessoa, mais útil será. Quanto mais cheia de
importância e preconceitos uma pessoa for, menos útil será. Nosso Senhor
assumiu a forma de escravo, nascendo em semelhança de homens. Ele jamais
estendeu a mão em busca de autoridade, pois recebeu-a de Deus. O Senhor Jesus
foi exaltado da humildade para as maiores alturas; este foi o seu princípio de
vida. Não vamos estender nossas mãos carnais para agarrar autoridade carnal.
Sejamos escravos de todos até que um dia Deus nos confie uma responsabilidade
particular.
Assim aprenderemos a representar a
Deus. Portanto o ministério é a base da autoridade. O ministério vem da
ressurreição, o serviço vem do ministério, e a autoridade do serviço. Que o
Senhor nos liberte da altivez. Como será sério o juízo sobre aqueles que se
apossam da autoridade de Deus com suas mãos carnais. Temamos a autoridade como
tememos o fogo do inferno. Representar a Deus não é uma coisa fácil; é grande
demais e maravilhosa demais para se tocar. Necessitamos andar estritamente no
caminho da obediência. 0 caminho para nós é a obediência, não a autoridade; é sermos
servos, não cabeças; sermos escravos, não governadores. Moisés e Davi, ambos
foram as maiores autoridades, mas não foram pessoas que tentassem estabelecer
sua própria autoridade. Aqueles que hoje desejam ficar em posição de autoridade
deveriam seguir suas pisadas. Deveria sempre haver temor e tremor nesta questão
de exercer autoridade.
CAPÍTULO 19
As autoridades delegadas devem santificar-se
E a
favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam
santificados na verdade (João 17:19)
Já vimos que a autoridade espiritual
se baseia na espiritualidade. Não é algo concedido por homens nem simplesmente
designado por Deus. Devemos nos lembrar que de um lado baseia-se na
espiritualidade e de outro lado na condição humilde e obediente do homem diante
de Deus. Vamos agora acrescentar mais um ponto, que é, aquele que deve ser
colocado em posição de autoridade precisa ser santificado da multidão. Embora
nosso Senhor fosse enviado de Deus e tivesse comunhão ininterrupta com Deus,
ainda assim declarou: "E a favor deles [dos discípulos], eu me santifico a
mim mesmo."
O
que significa que o Senhor "se santificou a si mesmo"?
"O Senhor santificando-se a si
mesmo" significa que por amor aos seus discípulos o Senhor deixou de fazer
muitas coisas que lhe eram perfeitamente legítimas, de falar muitas palavras
que poderia ter falado licitamente, de assumir muitas atitudes que poderia
justificavelmente assumir, de usar muita espécie de vestuário que seria próprio
usar, e de aceitar muitos alimentos que seria normal aceitar. Sendo o Filho de
Deus que não conheceu o pecado, sua liberdade excedia qualquer outra sobre a
terra. Muitas coisas não podemos fazer
porque temos defeitos; muitas palavras não podemos falar porque somos pessoas
impuras. Mas não havia tal dificuldade na vida de nosso Senhor, uma vez que era
santíssimo. Devemos nos humilhar, pois nossa natureza é cheia de orgulho. Mas
nosso Senhor não foi jamais orgulhoso, não necessitando portanto de humildade.
Mais do que isso, nós precisamos de paciência, porque somos naturalmente
impacientes; nosso Senhor, entretanto, nunca foi impaciente, por isso não
necessitou de paciência. Não precisou se restringir em muitas coisas uma vez
que era absolutamente sem pecado. Até mesmo sua ira foi sem pecado. Apesar de tudo
isto, ele disse: "E a favor deles eu me santifico a mim mesmo." Ele
estava pronto a se restringir em muitas coisas.
Quanto à santidade, o Senhor não só
tem em vista a sua própria mas também a nossa. Seja qual for a nossa santidade,
ela nos separa do mundo; consequentemente há muitas coisas que não podemos
fazer. Além de sua própria santidade, ele acrescenta a nossa, por isso ele se
santifica. Por nossa causa, ele aceita as restrições que vêm dos homens.
Considerando que ele fala e age de acordo com sua santidade enquanto os homens
sempre falam ou julgam de acordo com os seus pecados, estava pronto a aceitar
restrições para não ser mal-interpretado pelos pensamentos cheios de pecado dos
homens. Deixamos de agir por causa do pecado; mas ele se coloca sob-restrições
devido à santidade. Não fazemos, porque não devemos; mas ele não faz aquilo que
poderia fazer. Por causa da autoridade de Deus ele se restringe de fazer muitas
coisas a fim de manifestar sua separação do mundo. Isto é o que significa o
Senhor santificando-se a si mesmo.
Estar
em autoridade geralmente significa solidão
Quando aprendemos a ficar em posição
de autoridade devemos nos santificar diante de irmãos e irmãs. Muitas coisas
legítimas não podem fazer e muitas palavras lícitas não deveram enunciar.
Devemos ser santificados em palavras e em sentimentos. Segundo nosso ponto de
vista assumimos determinada atitude, mas entre os filhos de Deus devemos ser
santificados. Até mesmo a nossa comunhão com irmãos e irmãs deve ter um limite
além do qual não seremos nem descuidados nem frívolos. Antes devemos perder a
nossa liberdade, ficar sós. A solidão é o sinal da autoridade. Não é devida ao
orgulho mas por causa da autoridade de Deus que representamos.
Aqui não está envolvida a questão do
pecado, só uma questão de santificação. O oposto à santidade é o que é comum,
não o pecado. Ser santificado é ser diferente dos outros. Muitas coisas justas
não deveremos fazer, muitas palavras enunciáveis não deveremos falar. Não é uma
pretensão aparente mas a restrição de Deus no espírito. Só deste modo podemos
constituir autoridade delegada por Deus.
Aquele que se encontra em posição de
autoridade, representa a Deus em cada palavra ou ação. Conforme vemos em
Números 20:12 Moisés falhou em santificar a Deus diante do povo de Israel e não
se santificou diante deles. Interpretou mal a Deus, por isso não poderia entrar
em Canaã. Os pardais voam em bandos, enquanto que as águias voam sozinhas. Se
só podemos voar baixo porque não aguentamos a solidão das alturas, não estamos
capacitados a ficar em autoridade. Estar em posição de autoridade exige
restrição; é preciso santificar-se. Outros podem, mas você não pode; outros
podem falar, mas você não pode. Você tem de obedecer ao Espírito do Senhor
conforme ele ensina dentro de você. Você talvez se sinta abandonado e sinta
falta do fervor da multidão; não obstante, você não se atreve a misturar-se com
os irmãos e irmãs nas brincadeiras e gracejos. Este é o preço da autoridade. Se
não nos santificarmos como nosso Senhor, não estaremos qualificados para ficar
em posição de autoridade.
Mesmo assim, no que se refere a
sermos membros uns dos outros, qualquer um que esteja em posição de autoridade
deve ser perfeitamente normal mantendo a comunhão do corpo com todos os irmãos
e irmãs. Do mesmo modo, representando a Deus, ele deve se santificar sob a
restrição divina para que seja um exemplo a todos; enquanto, na qualidade de
membro do corpo, deve servir com todos os seus irmãos em coordenação, jamais
assumindo a falsa posição de ser de uma categoria especial.
Estar
em posição de autoridade exige restrição nas afeições
Levítico 10:1-7 registra o julgamento de
Nadabe e Abiú porque não se sujeitaram à autoridade de seu pai Arão. No mesmo
dia em que o pai foi ungido, os quatro filhos de Arão também foram ungidos no
santuário como sacerdotes. Não deveriam servir individualmente mas ajudar seu
pai no trabalho de Deus. Portanto não tinham permissão de agir por conta
própria. Pois sem a permissão de seu pai e de acordo com seus próprios pensamentos,
Nadabe e Abiú ofereceram fogo estranho; e consequentemente, foram consumidos
pelo fogo. Então Moisés disse a Arão: "Isto é o que o Senhor disse:
Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim." Neste
incidente. Deus revela uma coisa: aqueles que estão perto dele jamais devem ser
negligentes. Há uma disciplina muito mais severa para lhes ser aplicada do que
ao povo em geral.
O que Arão deveria fazer quando dois de seus
quatro filhos, Nadabe e Abiú, morreram no mesmo dia? Ele tinha um relacionamento
duplo aqui: era sacerdote diante de Deus mas também era o cabeça de sua
família. Pode uma pessoa servir a Deus a ponto de esquecer seu próprio filho?
De acordo com o costume do povo de Israel, quando havia uma morte na família os
membros da família deveriam soltar os cabelos e rasgar suas roupas. Mas, neste
exemplo, Moisés ordenou que os corpos fossem levados para fora e proibiu Arão e
seus dois filhos remanescentes de seguir o costume daquele tempo.
O
pranto é um sentimento humano normal e é perfeitamente legítimo. Mas para
aqueles israelitas que serviam a Deus, como neste caso, era proibido para que
não morressem. Como era sério! Aqueles que serviam a Deus eram julgados de
maneira diferente dos israelitas comuns. O que todos os outros israelitas podiam
fazer, eles não podiam. Um pai chorar o seu filho, os irmãos chorarem seus
irmãos, eram coisas lícitas e naturais; não obstante, aqueles que tinham o óleo
santo sobre eles deviam se santificar. Nenhuma questão de pecado de sua parte
estava envolvida neste caso. Mas nem tudo o que é legítimo, mesmo quando o
pecado não está envolvido, pode ser indiscriminadamente feito. A questão não é
relacionada com o pecado mas com a santificação. Conforme já mencionamos, o
oposto da santidade é o comum . Santidade significa que os outros podem, mas eu
não posso. O que os discípulos podem fazer, o Senhor não pode. O que outros
irmãos podem fazer, aqueles que estão em posição de autoridade não podem. Até
mesmo os afetos lícitos precisam ser colocados sob controle; caso contrário, a
morte pode ser a consequência.
O povo de Israel morreu por causa de
seus pecados, mas os sacerdotes podiam morrer por não se santificarem. Com os
israelitas, o que matava devia morrer; Arão, entretanto, se chorasse por seus
filhos, teria de morrer. As pessoas em posição de autoridade devem pagar o
preço dela.
Arão nem sequer podia sair do
tabernáculo; outros tiveram de enterrar os mortos. O povo de Israel não vivia
no tabernáculo, enquanto Arão e seus filhos não tinham permissão de sair pela
porta dele. Deviam diligentemente guardar os encargos de Deus. O óleo da unção
santifica-nos de nossos afetos naturais como também da conduta costumeira.
Devemos respeitar o óleo da unção que Deus nos concede.
Tenhamos, portanto, uma conduta
íntegra diante de Deus no que se refere à nossa santificação do restante do
povo. O mundo e os irmãos e irmãs comuns podem continuar com seus afetos
familiares, mas as autoridades delegadas por Deus devem manter a glória de
Deus. Não devem dar vazão aos seus próprios afetos nem agir negligentemente ou
com rebeldia; antes, devem louvar o Senhor por ver a sua glória.
Aqueles que servem são ungidos por
Deus. Devem sacrificar seus próprios afetos, negando até mesmo os legítimos.
Todos aqueles que desejam manter a autoridade de Deus devem saber como se opor
a seus próprios sentimentos, como deixar de lado os mais profundos afetos para
com seus parentes, amigos e amados. A exigência de Deus é rigorosa; se uma
pessoa não deixa de lado seus próprios afetos não pode servir a Deus. Aquele
que é santificado é servo de Deus; aquele que não é santificado é uma pessoa
comum.
Santificado
na vida e no prazer
Por que Nadabe e Abiú ofereceram fogo
estranho? Lemos que depois do que lhes aconteceu Deus disse a Arão: "Vinho
nem bebida forte tu e teus filhos não bebereis, quando entrardes na tenda da
congregação" (Lv. 10:9). Todos aqueles que sabem como ler a Bíblia
concordam que aqueles dois homens ofereceram fogo estranho porque estavam
embriagados. O povo de Israel tinha permissão de beber vinho e bebidas fortes,
mas os sacerdotes de Deus estavam absolutamente proibidos de tocar nelas. Eis,
portanto, uma questão de prazer. Outros podem desfrutar, mas nós não. Outros
podem se alegrar com certos prazeres (pois o vinho fala de alegria), mas nós não.
As pessoas que servem a Deus estão sob disciplina e devem ser capazes de fazer
distinção entre o que é santo e o que é comum, entre o puro e o imundo. Embora
realmente precisemos manter a comunhão do corpo com todos os irmãos e irmãs,
não obstante em ocasiões de trabalho especial não devemos ser negligentes.
Qualquer coisa que afrouxe as rédeas da restrição não deve ser feita. Levítico
21 registra as exigências especiais feitas por Deus para com os sacerdotes que
o serviam a fim de que se santificassem. Estas exigências eram as seguintes:
1. Nenhum deles devia se contaminar pelos
mortos entre o povo, exceto pelos parentes mais próximos. (Era uma exigência
comum.)
2. Deviam se santificar na roupa e no corpo.
Não deviam cortar os cabelos, nem rapar os limites das barbas (uma vez que
assim faziam os egípcios na adoração ao sol), nem cortar a própria carne (era
feito pelos africanos).
3.
Deviam se santificar no casamento.
4.
Quanto ao sumo sacerdote, as exigências de Deus eram ainda mais severas. Não
devia tocar em nenhum cadáver, nem mesmo se contaminar por seu próprio pai ou
mãe. Quanto mais alta a posição, mais severa a exigência. Ò grau de proximidade
de Deus torna-se o grau de sua exigência. Daquele a quem Deus mais confia, mais
ele exige. Deus se preocupa especialmente com o fato de seus servos se
santificarem ou não a si mesmos.
Autoridade
se baseia na santificação
A autoridade tem seus fundamentos na
santificação. Sem santificação não pode haver autoridade. Se você deseja viver
com a multidão não pode ocupar posição de autoridade. Você não pode representar
a Deus se mantiver uma comunicação muito liberal e frouxa com as pessoas.
Quanto mais alta a autoridade maior a separação Deus é a autoridade máxima;
consequentemente está acima de todos. Vamos aprender a nos santificar de coisas
impuras e comuns. O Senhor Jesus podia fazer o que bem quisesse, mas por amor
aos seus discípulos santificou-se a si mesmo. Colocou-se de lado e ficou do
lado da santidade. Que nós desejemos de todo coração agradar a Deus também
buscando assim uma santificação mais profunda. Significa que seremos diferentes
do comum, embora não separados dos filhos de Deus como se fôssemos mais santos
do que eles. Quanto mais nos santificamos e nos sujeitamos à autoridade de
Deus, mais autoridade recebemos. Se aqueles que estão em posição de autoridade
na igreja fracassam, como pode a obediência ser mantida? Se a questão da
autoridade não for resolvida a igreja permanecerá sempre em situação caótica.
Aquele que está em posição de autoridade não se apossa dela; serve a Deus, está
pronto a pagar o preço e não procura nenhum excitamento. Estar em posição de
autoridade requer que se suba alto, que não se tema a solidão, e que haja
santificação. Que nós sejamos aqueles que colocam tudo o que têm sobre o altar
para que a autoridade de Deus seja restaurada. Este é o caminho do Senhor em
sua igreja.
CAPÍTULO 20
As condições para a delegação de autoridade
As
mulheres sejam submissas a seus próprios maridos, como ao Senhor ... Maridos,
amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se
entregou por ela... Assim também os maridos devem amar as suas mulheres como a
seus próprios corpos. Quem ama a sua esposa, a si mesmo se ama ... Não
obstante, vós, cada um de per si, também ame a sua própria esposa como a si
mesmo, e a esposa respeite a seu marido (Ef. 5:22, 25, 28, 33).
Filhos,
obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo .. . E vós, pais, não
provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do
Senhor ... E vós, senhores, de igual modo procedei para com eles, deixando as
ameaças, sabendo que o Senhor, tanto deles como vosso, está nos céus, e que
para com ele não há acepção de pessoas. (Ef. 6:1,4, 9)
Deus
assiste na congregação divina; no meio dos deuses estabelece o seu julgamento.
Até quando julgareis injustamente, e tomareis partido pela causa dos ímpios?
(SI. 82:1-2)
Alguém
que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes que
não são acusados de dissolução, nem são insubordinados. Porque é indispensável
que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus, não arrogante, não
irascível, não dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe ganância,
antes hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio de
si.
(Tito
1:6-8)
E
que governe bem a sua própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo
respeito (pois se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da
igreja de Deus?); não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça, e
incorra na condenação do diabo.(1 Tm. 3:4-6)
Dize
estas cousas; exorta e repreende também com toda a autoridade. Ninguém te
despreze (Tito 2:15). Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te
padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza. (1
Tm. 4:12)
Porquanto
para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar,
deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passo.s (1 Pedro 2:21)
As
autoridades que Deus estabeleceu na família são os pais em relação aos filhos,
os maridos em relação às esposas, e os senhores em relação aos servos. No mundo
as autoridades são os reis em relação aos súditos e os governantes em relação
aos que lhes estão sujeitos. Na igreja são os anciãos em relação ao povo de
Deus e os obreiros em relação ao seu trabalho.
1. Maridos. A Bíblia
ensina que as esposas devem estar sujeitas a seus maridos; mas os maridos devem
exercer autoridade com uma condição. Três vezes em Efésios 5 os maridos são
convocados a amar suas esposas como amam a si mesmos. O amor de Cristo pela
igreja estabelece o exemplo para o amor que os maridos devem dedicar a suas
próprias esposas. Assim como Cristo ama a igreja, os maridos devem amar suas
esposas Se os maridos quiserem representar a autoridade de Deus devem amar suas
próprias esposas.
2.
Pais:
Sem dúvida nenhuma os filhos devem obedecer aos pais; mesmo assim, a autoridade
dos pais tem sua responsabilidade e condições também. As Escrituras dizem:
"Pais, não provoqueis vossos filhos à ira." Apesar do fato de os pais
terem autoridade, devem aprender a se controlar diante de Deus. Não devem
tratar seus filhos de acordo com seus caprichos, pensando que têm direito
absoluto de fazer assim uma vez que os geraram e os estão criando. É sumamente
necessário que os pais se controlem, isto é, sejam capazes de se controlar
através do Espírito Santo. O objetivo de toda a autoridade que os pais têm para
com os seus filhos é instruí-los e criá-los na disciplina e admoestação do
Senhor. Nenhuma ideia de dominação ou castigo está envolvida; a intenção é a
educação e proteção amorosa.
3.
Senhores: Os servos devem ser obedientes aos seus senhores, mas ser senhor
também envolve condições. Os senhores não devem ameaçar nem provocar seus
servos. Deus não permitirá que suas autoridades delegadas ajam com falta de
moderação; devem ter o temor de Deus. Devem saber que aquele que é o Senhor
deles e dos seus servos está no céu e que ele não é parcial (Ef. 6:9).
Lembrem-se bem que os senhores também estão sob autoridade. Embora as pessoas
se encontrem sob sua autoridade, elas também estão sob autoridade — a
autoridade de Deus. Por causa disto não podem ficar sem controle. Quanto mais
uma pessoa reconhece a autoridade, menos arrogante e intimidante se torna.
Atitudes indispensáveis daqueles que se encontram em posição de autoridade são
a gentileza e o amor. Se alguém ameaça e julga os outros, ele mesmo logo será
julgado por Deus. Portanto os senhores deveriam tremer diante de Deus.
4. Governantes:
Devemos nos sujeitar às autoridades governantes. Em nenhum lugar do Novo
Testamento há alguma instrução sobre como governar. O Velho Testamento
descreve-nos as condições para os governantes. As exigências básicas para as
autoridades governantes são a justiça, a imparcialidade, a honestidade e o
cuidado para com os pobres. Estes são os princípios que os governantes devem
seguir. Não devem procurar seu próprio bem-estar mas manter justiça absoluta.
5. Anciãos: Os anciãos são
as autoridades na assembleia local. Os irmãos devem aprender a se sujeitarem
aos anciãos. Uma qualidade essencial dos anciãos, conforme citada em Tito 1, é
o autocontrole. Os anciãos devem em primeiro lugar ser estritamente
autocontrolados. Quando se escolher anciãos, que sejam escolhidos os
especialmente disciplinados. Considerando que os anciãos são escolhidos a fim
de cuidar da igreja, eles mesmos devem, em primeiro lugar, saber como obedecer
e ficar sob controle para que possam ser exemplo para todos os outros. Deus
jamais indica para ser ancião alguém que gosta de ficar em primeiro lugar (tal
como Díótrefes, 3 João 9). Considerando que são a mais alta autoridade dentro
da assembléia local, os anciãos devem ser pessoas autocontroladas. Em 1 Timóteo
3 e 4 menciona-se outra qualidade essencial ao ancião: deve governar bem a sua
própria casa. Esta casa não se refere principalmente aos pais ou esposas mas
especialmente aos filhos. Os filhos devem ser mantidos em submissão e respeito
de todas as maneiras. Aquele que sabe ser um bom pai pode ser escolhido como
ancião. Exercendo a devida autoridade no lar, está qualificado para ser ancião
na igreja. Um ancião não deve ser uma pessoa convencida. Os anciãos de uma
assembléia local não devem ser inclinados à prepotência. Aquele que abusa da
autoridade não serve para ser ancião, nem pode dirigir bem os negócios da
igreja. Só as pessoas mesquinhas são orgulhosas; não podem levar nem usar a
glória de Deus e nem a sua confiança. Por isso, um crente novo não deve ser
escolhido para ancião para que não fique convencido e não caia na condenação do
diabo.
6. Obreiros: Em
Tito 2:15 a condição para os obreiros como autoridades delegadas no trabalho é
específica. Tito servia ao Senhor na base de um apóstolo. Paulo o exortou:
"Dize estas cousas; exorta e repreende também com toda a autoridade.
Ninguém te despreze." Para não ser desprezada a pessoa tem de se
santificar. Se não for diferente dos outros na vida e conduta, se vive
relaxadamente e sem disciplina não pode deixar de ser desprezado, É preciso
auto-disciplina para que outros nos respeitem e para sermos qualificados como
representantes de Deus. Embora seja verdade que um obreiro não procura a glória
e a honra dos homens, não pode permitir-se ser desprezado por causa de sua
falta de santificação. Só dois livros em todo o Novo Testamento foram escritos
para os jovens obreiros. Em ambos, Paulo exorta para que não se deixem
desprezar por causa de sua mocidade; pelo contrário, devem estabelecer um
exemplo para os outros crentes. Ficar em posição de autoridade custa caro:
essas pessoas necessitam santificar-se dentre os demais e ficar preparadas para
uma vida solitária. Aqueles que são exemplos diferem dos demais quando se
santificam. Mas ninguém deve ficar convencido, embora não deva também permitir
que o desprezem. Jamais seja convencido, mas também nunca menosprezado. Quando
uma pessoa se torna muito igual às outras, perde o seu ministério. Sua
utilidade desaparece, e sua autoridade se perde. É extremamente importante que
a autoridade de Deus seja mantida. Representar autoridade é representar a Deus;
estar em posição de autoridade é ser um exemplo para todos.
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Autor: Watchman Nee
Traduzido por Yolanda M. Krievin
Digitalizado por Luiz Carlos
ISBN 85-7367-136-X Categoria: Crescimento Cristão Este livro foi publicado em inglês com o título Spiritual Authority, por Christian Fellowship Publishers, Inc. © 1972 por Christian Fellowship Publishers, Inc. © 1979 por Editora Vida /" impressão, 1976 IIa impressão, 1993 2 a impressão, 1981 12a impressão, 1996 3 a impressão, 1986 13a impressão, 1997 4 a impressão, 1988 14a impressão, 1998 5 a impressão, 1990 15a impressão, 1999 6 a impressão, 1991 16a impressão, 2000 7" impressão, 1991 17a impressão, 2001 8" impressão, 1991 18a impressão, 2001 9 a impressão, 1992 19a impressão, 2003 10a impressão, 1992 20a impressão, 2004 Todos os direitos reservados na língua portuguesa por Editora Vida, rua Júlio de Castilhos, 280 03059-000 São Paulo, SP— Telefax: (11) 6618-7000 Capa: Valdir Guerra Filiado a: abec SÓCIO Impresso no Brasil, na Imprensa da Fé
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