CAPÍTULO
6
Como
Deus estabelece o seu Reino
Embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas cousas que sofreu
e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os
que lhe obedecem (Hb. 5:8-9). Ora, nós somos testemunhas destes fatos, e bem
assim o Espírito Santo, que Deus outorgou aos que lhe obedecem (Atos 5:32). Mas
nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na
nossa pregação?" (Rm. 10:16). Tomando vingança contra os que não conhecem
a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus (Ts.
1:8). Tendo purificado as vossas almas, pela vossa obediência à verdade, tendo
em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos de coração uns aos outros
ardentemente (1 Pedro 1:22).
O Senhor aprendeu a obediência
através do sofrimento
Assim como Deus garantiu o princípio da
obediência através da vida de nosso Senhor, Deus também estabeleceu sua
autoridade através do Senhor. Vamos ver agora como Deus estabelece hoje em dia
o seu reino com base nessa autoridade. O Senhor veio a este mundo de mãos
vazias; não trouxe consigo a obediência. Aprendeu a obediência através do que
sofreu e, assim, tornou-se a fonte da salvação eterna a todos os que lhe obedecem.
Passando por sofrimento após sofrimento aprendeu a obedecer até à morte, e
morte de cruz. Quando o Senhor deixou a Divindade para se tornar homem,
verdadeiramente tornou-se um homem — fraco e sofredor. Cada sofrimento pelo
qual passou amadureceu num fruto de obediência. Nenhum sofrimento foi capaz de
incitá-lo à murmuração ou à impaciência. Como diferem disto muitos cristãos que
não conseguem aprender a obedecer mesmo depois de muitos anos. Embora seu
sofrimento aumente, sua obediência não. Quando surge o sofrimento, geralmente
murmuram zangados, indicando novamente que não aprenderam a obedecer. Mas nosso
Senhor, ao passar por toda espécie de sofrimentos, continuamente exibiu o
espírito da obediência; e assim se tornou a fonte de nossa salvação eterna.
Através da obediência de um homem muitos receberam graça. A obediência de nosso
Senhor foi por amor do reino de Deus. O alvo da redenção é promover o reino de
Deus.
Deus estabelecerá o seu reino
Você já notou até que ponto a queda dos anjos e do homem afetou o
universo, que grande problema criou para Deus? Era intenção divina que os seres
por ele criados aceitassem sua autoridade, mas ambos os tipos de seres criados
rejeita-ram-na; Deus não pôde estabelecer sua autoridade nos seres criados;
mesmo assim, não a retirou. Ele poderia retirar sua presença, mas jamais
desistirá da autoridade que iniciou. Onde houver sua autoridade, ali é o seu
lugar de direito. Por isso, de um lado, Deus afirmará sua autoridade e, de
outro, estabelecerá o seu reina Embora Satanás continuamente viole a autoridade
de Deus e os homens diariamente se rebelem contra ele, Deus não permitirá que
tal rebeldia continue para sempre; ele estabelecerá o seu reino. Por que a
Bíblia chama o reino de Deus de o reino dos céus? Porque a rebeldia não se
restringiu simplesmente a esta terra, mas, além dela, alcançou os céus onde os
anjos se rebelaram, Como, então, o Senhor Jesus estabelece o reino de Deus? Ele
o estabelece através de sua obediência. Nunca foi desobediente a Deus; nunca
resistiu à autoridade de Deus enquanto esteve na terra.
Obedecendo perfeitamente e permitindo que a autoridade reinasse
absolutamente, estabeleceu o reino de Deus dentro do reino de sua própria
obediência. Agora, exatamente como fez nosso Senhor, a igreja deveria obedecer
hoje em dia a fim de que a autoridade de Deus pudesse prosperar e o reino de
Deus se manifestar.
Deus ordena que a igreja seja a vanguarda do
seu reino
Depois da queda de Adão Deus escolheu Noé e sua família. Contudo,
eles também falharam — depois do dilúvio. Então Deus chamou Abraão para ser o
pai de uma multidão de nações, tendo a intenção de estabelecer o seu reino
através de Abraão. Abraão foi substituído pela escolha de Isaque e, então, mais
tarde, Jacó. Os descendentes de Jacó multiplicaram-se grandemente sob a
opressão egípcia e, por isso, Deus enviou Moisés para livrá-los do Egito a fim
de que pudessem estabelecer uma nova nação. Mas como havia desobedientes entre
eles, Deus levou os israelitas através do deserto a fim de ensinar-lhes a obediência.
Não obstante, persistiram em sua rebeldia contra Deus, resultando que toda a
geração morreu pelo caminho.
Conquanto a segunda geração conseguisse entrar em Canaã, não deu
ouvidos à palavra de Deus com coração perfeito; por isso não puderam expulsar os
cananeus completamente da terra. Saul tornou-se o primeiro rei, mas devido à
sua rebeldia o reino não pôde ser estabelecido. Só depois que Davi foi
escolhido, Deus encontrou nele o rei que foi segundo o seu próprio coração,
pois Davi obedeceu totalmente à autoridade de Deus. Mesmo assim, traços de
rebeldia ainda permaneceram dentro da nação. Deus indicou Jerusalém como o
lugar onde o seu nome seria estabelecido, mas o povo continuou a sacrificar no
grande lugar alto de Gibeom. Falhou em obedecer. Tinha um rei mas faltava-lhe a
substância espiritual de um reino. Antes de Davi, havia um reino sem um rei
apropriado. No tempo de Davi, ambos, rei e reino, estavam presentes, mas a
substância espiritual do último ainda faltava. O reino de Deus tinha de ser verdadeiramente
estabelecido.
O Senhor veio a este mundo para estabelece o reino de Deus. Seu
evangelho é duplo em natureza: o pessoal e o geral. No que se refere ao
pessoal, o evangelho chama homens para receber vida eterna através da fé;
quanto ao geral convida homens para entrar no reino de Deus; através do
arrependimento.
Os olhos de Deus estão sobre o reino: o "Pai Nosso", por
exemplo, começa e termina com o reino. Começa com "Venha o teu reino,
faça-se tua vontade, assim na terra como no céu". O reino de Deus é aquele
reino dentro do qual a vontade de Deus é executada sem nenhuma interferência. A
oração termina com "Pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre.
Amém". (Mt. 6:13.) O reino e o poder e a glória estão interligados.
"Agora veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do
seu Cristo", (Apocalipse 12:10). Eis por que o reino é o campo de ação da
autoridade. "O reino de Deus está entre vós", diz o Senhor (Lucas
17:21, à margem, na versão usada pelo autor). "Entre vós", não
"dentro de vós". O próprio Senhor é finalmente o reino de Deus.
Quando o Senhor Jesus está entre vós o reino, de Deus está no
vosso meio. Isto acontece porque a autoridade de Deus passa a ser completamente
executada em vossa vida. Pois exatamente como o reino de Deus está no Senhor,
deve também ser encontrado na igreja — porque a vida do Senhor é liberada para
a igreja e assim o reino de Deus também se estende à igreja. Começando com Noé,
Deus conseguiu obter um reino, mas era um reino terreno, não o reino de Deus. O
reino de Deus realmente começa com o Senhor Jesus. Como foi pequena a sua
esfera de ação no começo! Hoje, entretanto, este grão de trigo já deu muito
fruto. Seu campo de ação abrange não só o Senhor mas também muitos santos. Deus
tem o propósito de que sejamos o seu reino e a sua igreja, uma vez que a igreja
tem ordens de constituir o terreno onde a autoridade de Deus é exercida. Ele
deseja ter o seu lugar de direito em mais do que apenas alguns indivíduos; ele
deseja que toda a igreja lhe conceda preeminência absoluta a fim de que sua
autoridade prevaleça e não haja rebeldia. Assim Deus há de estabelecer sua
autoridade no meio dos seres que criou. Quer que sejamos obedientes não apenas
à autoridade direta que ele mesmo exerce mas também às autoridades delegadas
que ele estabelece. O que ele espera é obediência total, não parcial.
O evangelho não só convoca o povo a crer mas
também a obedecer
A Bíblia menciona a obediência além da fé, pois não somos apenas
pecadores, mas também filhos da desobediência. O que Romanos 10:16 quer dizer
com "acreditou na nossa pregação" de Isaías 53:1 é "obedeceu às
boas novas" (Darby). A natureza da crença no evangelho é a obediência.
"Tomando vingança contra os que não conhecem a Deus e contra os que não
obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus" (2 Ts. 1:8). Aqueles que não
obedecem são os rebeldes: "Ira e indignação aos facciosos que desobedecem
à verdade" (Rm. 2:8). Os desobedientes são os rebeldes. "Tendo
purificado as vossas almas, pela vossa obediência à verdade" (1 Pedro
1:22). Isto indica claramente que a purificação é através da obediência à
verdade. A fé é obediência.
Os crentes deveriam ser antes chamados de
"obedecedores", pois devem ficar sujeitos à autoridade do Senhor além
de crer nele. Depois que Paulo foi iluminado, perguntou: "Que farei,
Senhor?" (Atos 22:10). Não só creu, mas também se submeteu ao Senhor.
Seu arrependimento foi causado pela compreensão da graça e pela
obediência à autoridade. Quando foi movido pelo Espírito Santo para ver a
autoridade do evangelho, chamou Jesus de Senhor.
Deus não nos chama só para receber sua vida através da fé, mas
também para manter sua autoridade através da obediência. Ele aconselha--nos,
aos que estamos na igreja, a obedecer às autoridades que ele estabeleceu — no
lar, na escola, na sociedade e na igreja — como também a obedecer à sua
autoridade direta. Não é necessário destacar especificamente a que pessoa seria
preciso obedecer. Simplesmente significa que sempre quando nos encontramos com
a autora dade de Deus, direta ou indiretamente, devemos; aprender a obedecer.
Muitos são capazes de dar ouvidos e obedecer somente a uma
determinada pessoa. Isto indica que ainda não descobriram a autoridade. De nada
adianta obedecer ao homem; é à autoridade que devemos obedecer. Para aqueles
que conhecem a autoridade, até a mais leve desobediência fá-los sentir que
foram rebeldes. Mas aqueles que não conhecem a autoridade não têm ideia de como
são os rebeldes. Antes de ser iluminado, Paulo recalcitrava contra os aguilhões
sem perceber o que estava fazendo. Depois da iluminação, entretanto, a primeira
coisa que aconteceu foi que os olhos de Paulo se abriram para ver a autoridade
e essa visão continuou a se desenvolver mesmo depois. Embora Paulo se
encontrasse apenas com um humilde irmão chamado Ananias, jamais perguntou que
espécie de homem era ele — culto ou ignorante — porque não olhava para o homem
Paulo reconheceu que Ananias era enviado por Deus, por conseguinte, sujeitou-se
àquela autoridade delegada. Como é fácil obedecer quando se reconhece a
autoridade.
Através da igreja as nações se tornam o reino
de Deus
Se a igreja se recusa a aceitar a autoridade divina, Deus não tem
meios de estabelecer o seu reino. A maneira de Deus obter o seu reino é, em
primeiro lugar, no Senhor Jesus, depois na igreja, e, finalmente, em todo o
mundo. Um dia se fará uma proclamação anunciando que "o reino do mundo se
tornou de nosso Senhor e do seu Cristo" (Ap. 11:15). A igreja ocupa o
lugar entre o reino que se encontra na pessoa do Senhor Jesus, e sua mais ampla
extensão se verá quando o mundo se transformar no reino do Senhor e do seu
Cristo. O reino tem de ser encontrado no Senhor Jesus antes que seja
estabelecido na igreja; tem de ser implantado na igreja antes que seja
assegurado entre as nações. Não pode haver igreja sem o Senhor Jesus, e não
pode haver uma extensão maior do reino de Deus sem a igreja. Quando se
encontrava na terra, o Senhor obedeceu em todos os menores detalhes. Por
exempio, pagou o imposto devido ao templo. Não tendo dinheiro, arranjou a moeda
na boca de um peixe Novamente, quando interrogado em outra ocasião sobre o
pagamento dos impostos civis, afirmou: "Dai, pois, a César o que é de
César, e a Deus o que é de Deus" (Mt. 22:21). Embora: César fosse uma
pessoa rebelde, fora estabelecido por Deus; consequentemente, tinha de ser
obedecido) Depois de obedecermos totalmente, nosso Senhor se levantará e
tratará daqueles que desobedecem.
Através de nossa obediência o reino será estendido por toda a
terra. Hoje, entretanto, muitos têm consciência de pecado, mas não de rebeldia.
Os homens precisam de um senso de autoridade, além do senso do pecado. Não ser
sensível ao pecado prejudica a vida cristã; falta de sensibilidade diante da
autoridade desqualifica a pessoa.
A igreja tem de obedecer à autoridade de Deus
Temos de saber como obedecer na igreja. Não existe autoridade
dentro da igreja que não exija obediência. Deus pretende que sua autoridade se
manifeste totalmente na igreja e que seu reino se estenda através da igreja.
Quando a igreja tiver obedecido totalmente, toda a terra ficará sob a
autoridade de Deus. Se a igreja falhar em permitir que a autoridade de Deus
prevaleça dentro dela, o reino de Deus será desviado do seu alvo de cobrir toda
a terra. A igreja é, portanto, o caminho para o reino; mas pode igualmente
frustrar o reino. Como pode o reino de Deus se manifestar se não somos capazes
de nos sujeitar a pequenas dificuldades dentro da igreja? Como pode o reino de
Deus prevalecer se sempre discutimos e argumentamos entre nós? Temos
grandemente atrasado o horário divino. Todos os rebeldes têm de ser expulsos
para que o caminho de Deus seja desobstruído. Quando a igreja obedecer
verdadeiramente, todas as nações lhe seguirão. A responsabilidade da igreja é
imensa. Quando a vontade e a ordem de Deus encontrar livre acesso na igreja;
seu reino certamente virá.
CAPÍTULO 7
Os homens devem obedecer à autoridade delegada
Autoridades
instituídas por Deus
1.
NO MUNDO
Todo homem esteja sujeito às
autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as
autoridades que existem \ foram por ele instituídas (Rm 18:1).
Sujeitai-vos a toda instituição
humana por causa do Senhor; quer seja ao rei, como soberano; quer às
autoridades como enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores, como
para louvor dos que praticam o bem (1 Pedro 2:13-14).
Deus
é a fonte de toda a autoridade no universo. Considerando que todas as
autoridades governantes foram por ele instituídas, então toda a autoridade é
delegada por ele e representa a sua autoridade. O próprio Deus estabeleceu este
sistema de autoridade a fim de se manifestar. Onde quer que as pessoas
encontrem autoridade encontram Deus. Os homens podem vir a conhecer Deus
através de sua presença; mas mesmo sem ela podem vir a conhecê-lo através de
sua autoridade.
No
jardim do Éden o homem conhecia Deus através de sua presença, ou, durante a sua
ausência, lembrando-se de suas ordens. Hoje, entretanto, os homens raramente
encontram Deus diretamente neste mundo. Isto, naturalmente, não se aplica
àqueles que, na igreja, vivem constantemente em espírito, pois eles geralmente
vêem Deus face a face. Hoje em dia o lugar onde ele mais se manifesta é nos
seus mandamentos. Somente aqueles que são tolos como os lavradores da parábola
de Marcos 12:1-9, precisam da presença pessoal do Proprietário da vinha para
obedecer, pois na história não foram os servos e o seu Filho enviados antes
dele como seus representantes? Aqueles que são estabelecidos por Deus devem
exercer autoridade em lugar dele Considerando que todas as autoridades
governantes foram instituídas e ordenadas por Deus, devem ser obedecidas.
Se
nós realmente aprendêssemos a obedecer a Deus, não teríamos nenhum problema em
reconhecer sobre quem repousa a autoridade de Deus. Mas se nós conhecemos
apenas a autoridade direta de Deus, possivelmente violamos mais da metade de
sua autoridade. Sobre quantas vidas podemos identificar a autoridade de Deus?
Podemos escolher entre a autoridade direta de Deus e sua autoridade delegada?
Não, temos de nos submeter à autoridade delegada como também à autoridade
direta de Deus, pois "não há autoridade que não proceda de Deus". No
que se refere às autoridades terrenas, Paulo não só exorta positivamente para
que haja sujeição, mas também adverte negativamente contra a resistência.
Aquele que resiste à autoridade resiste à lei do próprio Deus; aquele que
rejeita a autoridade delegada por Deus rejeita a autoridade do próprio Deus. A
autoridade, de acordo com a Bíblia, caracteriza-se por uma natureza única: não
existe autoridade exceto a que vem de Deus. Aquele que resiste à autoridade
resiste a Deus e aquele que resiste incorrerá em julgamento. Não há
possibilidades de rebeldia sem julgamento. A consequência da resistência à
autoridade é morte. O homem não tem escolha na questão da autoridade.
No
tempo de Adão Deus deu aos homens domínio sobre toda a terra.
O
que eles deveriam - governar era, entretanto, as criaturas viventes Depois do
dilúvio, Deus concedeu a Noé o poder de governar os outros homens, declarando que
"se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu"
(Gn. 9:6). A partir daí, a autoridade de governar o homem foi concedida aos
homens. Desde então tem havido governo humano sob o qual os homens são
colocados. Depois de tirar o seu povo do Egito levando-o para o deserto, Deus
lhe deu os Dez Mandamentos e muitas ordenanças. Entre estas, havia uma que
declarava: "Contra Deus não blasfemarás, nem amaldiçoarás o príncipe do
teu povo" (Êx. 22:28). Isto prova que Deus os colocou sob governantes. Já
no tempo de Moisés, os israelitas que resistiam à autoridade, na verdade
resistiam a Deus. Embora os governantes das nações não creiam em Deus e seus
países estejam sob o domínio de Satanás, o princípio da autoridade ficou
imutável. Exatamente como Israel era o reino de Deus e o Rei Davi foi escolhido
por Deus, assim o Imperador Persa foi declarado estabelecido por Deus. Quando
nosso Senhor estava na terra, su-jeitava-se às autoridades do governo como
também à autoridade do sumo sacerdote. Pagou impostos e ensinou aos homens a
dar a César o que é de. César (Mt. 22:21). Durante o interroga-tório, quando o
sumo sacerdote o conjurou pelo Deus vivo para que dissesse se era o Cristo, o
Filho de Deus, o Senhor imediatamente obedeceu (Mt. 26:63-64), reconhecendo
assim em todas essas ocasiões que eles eram autoridades na terra. Nosso Senhor
jamais tomou parte em qualquer rebelião.
Paulo
mostra-nos em Romanos 13 que todos os que se encontram em posição de autoridade
são servos de Deus. Temos de nos sujeitar à autoridade local sob a qual
vivemos, como também à autoridade de nosso próprio país e raça. Não deveríamos
desobedecer à autoridade local simplesmente porque somos de uma nacionalidade
diferente. A lei não constitui terror para a boa conduta, mas para a má. Embora
diferentes as leis das nações, todas elas derivam da lei de Deus; o princípio
básico de todas as leis de Deus é punir o mal e recompensar o bem. Todos os
poderes têm suas próprias leis. Sua função é manter e executar suas leis para
que o bem seja aprovado e o mal disciplinado. Eles não empunham a espada em
vão. Apesar do fato de alguns poderes exaltarem o mal e sufocarem o bem, têm de
recorrer à distorção para chamar o mal de bem e o bem de mal. Não se atrevem a
apresentarem-se francamente declarando que uma pessoa má seja exaltada por
causa de sua maldade enquanto a boa é castigada por causa de sua bondade. Até o
presente momento, todos os poderes ainda seguem pelo menos em princípio — a
regra da recompensa do bem e castigo do mal. Este princípio não mudou; portanto
a lei de Deus permanece em vigor virá o dia em que o iníquo anticristo subirá
ao poder; então ele distorcerá todo o sistema da lei e francamente declarará
que o bem é mal e vice-versa. Então os bons serão mortos e os maus exaltados.
Os símbolos
da sujeição às autoridades terrenas são quatro: imposto a quem se deve imposto,
tributo a quem se deve tributo, respeito a quem se deve respeito, e honra a
quem se deve honra. O cristão obedece à lei não só para fugir à ira de Deus mas
também por causa de sua consciência. Sua consciência o reprova se for
desobediente. Por isso temos de aprender a sujeição às autoridades locais. Os
filhos de Deus não deveriam levianamente criticar ou acusar o governo. Até a
polícia nas ruas foi instituída por Deus pois foi comissionada para uma tarefa
específica. Quando os cobradores de impostos e taxas nos procuram, qual a nossa
atitude para com eles? Será que os atendemos como autoridades delegadas por
Deus? Somo-lhes sujeitos?
Como
é difícil obedecer se não percebemos a autoridade de Deus. Quanto mais tentamos
obedecer mais difícil fica. "Especialmente aqueles que, seguindo a carne,
andam em imundas paixões e menosprezam qualquer governo. Atrevidos, arrogantes,
não temem difamar autoridades superiores" (2 Pedro 2:10). Quantos perdem o
seu poder e desperdiçam a sua vida por causa de injúrias. Os homens não
deveriam cair em um estado de anarquia. Temos de nos preocupar sobremaneira com
o modo pelo qual Deus vai resolver aquilo que é injusto, embora devamos orar
para que Deus discipline com base na justiça. Em qualquer circunstância, a
insubordinação à autoridade é motim contra Deus. Se somos insubordinados,
estaremos ajudando o princípio do anticristo. Vamos nos fazer a pergunta:
Quando o mistério da anarquia está operando, somos um impedimento ou uma ajuda?
2.
NA FAMÍLIA
As
mulheres sejam submissas a seus próprios maridos, como ao Senhor; porque o
marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça ... Como, porém, a
igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo submissas
a seus maridos (Ef. 5:22-24).
Filhos,
obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo. Honra a teu pai e a tua
mãe (que é o primeiro mandamento com promessa), para que te vá bem, e sejas de
longa vida sobre a terra (Ef. 6:11-3).
Esposas,
sede submissas aos próprios maridos, como convém no Senhor.. . Filhos, em tudo
obedecei a vossos pais; pois fazê-lo é grato diante do Senhor... Servos,
obedecei em tudo aos vossos senhores segundo a carne, não servindo apenas sob
vigilância, visando tão-só agradar homens, mas em singeleza de coração, temendo
ao Senhor (Cl. 3:18, 20, 22).
Deus
estabelece sua autoridade no lar, mas muitos dos seus filhos não prestam
suficiente atenção a este setor da família. Mas as epístolas, tais como Efésios
e Colossenses que são consideradas as epístolas mais espirituais, não ignoram
este assunto. Especificamente mencionam a sujeição no lar, pois sem ela será
difícil servir a Deus. As cartas de l Timóteo e Tito tratam da questão do
trabalho, mas também falam do problema familiar como algo que poderia afetar o
trabalho, A primeira carta de Pedro focaliza o reino, mas também considera a
rebeldia contra a autoridade familiar como rebeldia contra o reino. Quando os
membros de uma família entendem a autoridade muitas dificuldades no lar
desaparecem.
Deus
estabeleceu o marido como autoridade delegada de Cristo, com a esposa no papel
de representante da igreja. Seria difícil para a esposa ficar sujeita ao seu
marido se não visse a autoridade delegada que lhe foi concedida por Deus. Ela
tem de entender que o ponto principal é a autoridade divina, não o seu marido.
"A fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem a seus maridos e a
seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas-de-casa, bondosas, sujeitas
a seus próprios maridos, para que a palavra de Deus não seja difamada"
(Tito 2:4-5). "Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vossos próprios
maridos, para que, se alguns deles ainda não obedecem à palavra, sejam ganhos,
sem palavra alguma, por meio do procedimento de suas esposas" (1 Pedro
3:1). "Pois foi assim também que a si mesmas se ataviaram outrora as
santas mulheres que esperavam em Deus, estando submissas a seus próprios
maridos, como fazia Sara, que obedeceu a Abraão, chamando-lhe senhor" (1
Pedro 3:5-6).
"Filhos,
obedecei a vossos pais no Senhor" (Ef. 6:1), porque Deus estabeleceu os
pais como autoridade. "Honra a teu pai e a tua mãe ... para que te vá bem,
e sejas de longa vida sobre a terra" (Ef. 6:2-3). Dos Dez Mandamentos este
é o primeiro com promessa específica. Alguns morrem cedo por causa de sua falta
em prestar honra filial enquanto que outros podem ser curados quando o seu
relacionamento com os pais é normalizado. "Filhos, em tudo obedecei a
vossos pais; pois fazêlo é grato diante do Senhor" (Cl. 3:20). Estar
sujeito aos pais requer percepção da autoridade divina. *
Quanto a vós outros, servos, obedecei a vossos senhores segundo a
carne com temor e tremor, na sinceridade do vosso coração, como a Cristo, não
servindo à vista, como para agradar a homens, mas como servos de Cristo,
fazendo de coração a vontade de Deus; servindo de boa vontade, como ao Senhor,
e não como a homens (Ef. 6:5-7),
Todos
os servos que estão debaixo de jugo considerem dignos de toda honra os próprios
senhores, para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados (1 Tm.
6:1).
Quanto
aos servos, que sejam, em tudo, obedientes aos seus próprios senhores,
dando-lhes motivo de satisfação; não sejam respondões, não furtem; pelo
contrário, dêem prova de toda a fidelidade, a fim de ornarem, em todas as
cousas, a doutrina de Deus, nosso Salvador (Tito 2:9-10) Se honramos a
autoridade do Senhor em nossas vidas, os outros respeitarão a autoridade do
Senhor em nós.
Quando
Pedro e Paulo disseram essas palavras, a escravidão se encontrava no auge no
Império Romano. Se a escravidão é coisa certa ou errada não é um problema que
vamos considerar agora, mas precisamos entender que Deus ordenou que os servos
obedecessem a seus senhores.
3.
NA IGREJA
Agora
vos rogamos, irmãos, que acateis com apreço os que trabalham entre vós, e os
que vos presidem no Senhor e vos admoestam; e que os tenhais com amor em máxima
consideração, por causa do trabalho que realizam. Vivei em paz uns com os
outros. (1 Ts. 5:12-13).
Devem
ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem
bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino (1 Tm. 5:17).
E,
agora, irmãos, eu vos peço o seguinte (sabeis que a casa de Estéfanas é as
primícias da Acaia, e que se consagraram ao serviço dos santos): que também vos
sujeiteis a esses tais, como também a todo aquele que é cooperador e obreiro (1
Co. 16:15-16).
Deus
estabeleceu autoridades na igreja tais como os "presbíteros que presidem
bem" e "os que se afadigam na palavra e no ensino". São aqueles
a quem todos deveriam obedecer. Os mais jovens também devem aprender a
sujeitar-se aos mais velhos. O apóstolo exortou os crentes coríntios a honrar
especialmente homens como Estéfanas cuja família foi a primeira que se converteu
na Acaia e que desejava servir os santos com grande humildade.
Na
igreja as mulheres devem ficar sujeitas aos homens. Quero, entretanto, que
saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem o cabeça da mulher, e Deus
o cabeça de Cristo" (1 Co. 11:3). Deus estabeleceu que os homens
representassem Cristo como autoridade, e as mulheres, a igreja em sujeição.
Portanto, as mulheres deveriam usar um véu (no grego: autoridade) sobre a
cabeça por causa dos anjos (1 Co. 11:10), e deveriam ficar sujeitas a seus
próprios maridos.
"Como
em todas as igrejas dos santos, conser-vem-se as mulheres caladas nas igrejas,
porque não lhes é permitido falar, mas estejam submissas como também a lei o
determina. Se, porém, querem aprender alguma cousa, interroguem, em casa, a
seus próprios maridos" (1 Co. 14:33-35). Algumas irmãs perguntam: — E se
nossos maridos não souberem responder? — Bem, Deus manda perguntar; façam-no.
Depois de algum tempo seu marido saberá, considerando que sendo repetidas vezes
interrogado ver-se-á forçado a procurar entendimento. E assim você ajudará a
seu marido e a si mesma também. "A mulher aprenda em silêncio, com toda a
submissão. E não permito que a mulher ensine, nem que exerça autoridade sobre o
marido; esteja, porém, em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois
Eva" (1 Tm. 2:11-13).
"Outrossim,
no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade" (1 Pedro
5:5). É coisa muito vergonhosa que alguém conscientemente exiba sua posição e
autoridade. Deus também instituiu autoridades no mundo espiritual.
"Especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em imundas paixões e
menosprezam qualquer governo. Atrevidos, arrogantes, não temem difamar
autoridades superiores, ao passo que anjos, embora maiores em força e poder,
não proferem contra elas juízo infamante na presença do Senhor" (2 Pedro
2:10-11). Somos informados aqui de um fato muitíssimo significativo: que há
autoridades e posições gloriosas no mundo espiritual sob as quais os anjos são
colocados, Embora algumas tenham fracassado, os anjos não se atrevem a
injuriá-las uma vez que são superiores. Depois de sua queda, embora você possa
falar sobre o fato da queda, você não pode acrescentar o seu juízo, pois o fato
mais o juízo é coisa injuriosa.
"Contudo,
o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo
de Moisés, não se atreveu a proferir juízo infamatório contra ele; pelo
contrário, disser o Senhor te repreenda" (Judas 9).
Por quê? Porque numa certa ocasião Deus estabeleceu Lúcifer como o chefe dos
arcanjos; e Miguel, sendo um arcanjo, estivera sob sua autoridade. Mais tarde
Miguel, em obediência a Deus, procurou o corpo de Moisés porque um dia Moisés
teria de ressuscitar dos mortos (possivelmente no Monte da Transfiguração).
Quando Miguel foi impedido por Satanás, ele poderia, com espírito de rebeldia,
ter-se havido com esse rebelde, Satanás, abrindo a sua boca e injuriando-o. Mas
ele não se atreveu. Tudo o que disse foi: "O Senhor te repreenda."
(Com os homens o caso é diferente, uma vez que Deus nunca colocou os homens sob
a autoridade de Satanás. Embora tenhamos caído sob o seu governo, jamais fomos
colocados sob a sua autoridade.) Dentro do mesmo princípio, Davi durante um
determinado período submeteu-se à autoridade delegada a Saul. Consequentemente,
ele não se atreveu a contrariar a desvanecente autoridade de Saul. Que coisa
dignificante é a autoridade delegada no reino espiritual! Não deve ser
desprezada; qualquer injúria contra ela resultará em perda de poder espiritual.
Se
você já tomou conhecimento da autoridade em sua vida então você terá capacidade
de perceber a autoridade de Deus em toda parte. Aonde quer que você vá, sua
primeira pergunta será: A quem devo obedecer, a quem devo atender? Um cristão
deve ser sensível em dois pontos: para com o pecado e para com a autoridade.
Mesmo quando dois irmãos se consultam mutuamente, embora cada um possa
apresentar a sua opinião, só um deles toma a decisão final. Em Atos 15 houve um
concílio. Os jovens também, além dos velhos, puderam levantar-se para falar.
Cada irmão pôde apresentar a sua opinião. Mas depois que Pedro e Paulo
terminaram de falar, Tiago levantou-se para apresentar a decisão. Pedro e Paulo
só relataram fatos, mas Tiago fez o julgamento. Mesmo entre os anciãos ou
apóstolos havia uma ordem. "Porque eu sou o menor dos apóstolos",
disse Paulo (1 Co. 15:9). Alguns apóstolos são maiores, outros menores. Esta
ordem não foi estabelecida pelo homem; todavia, cada um precisa saber onde foi
colocado. Que maravilhoso testemunho e que lindo quadro! É disso que Satanás
tem medo, pois é o que finalmente provocará a queda do seu reino. Pois quando
todos nós estivermos no caminho da obediência, Deus virá julgar o mundo.
Seja
destemidamente sujeito à autoridade delegada
Que
risco foi para Deus instituir autoridades! Que perda Deus sofre quando as
autoridades delegadas que instituiu não o representam devidamente! Contudo,
indômito, Deus estabeleceu tais autoridades. É muito mais fácil para nós
destemidamente obedecer às autoridades do que para Deus instituí-las. Não
poderíamos, portanto, obedecê-las sem temor, uma vez que o próprio Deus não
teve receio de confiar autoridade aos homens? Assim como Deus ousadamente
estabeleceu autoridades, vamos corajosamente obedecê-las. Se algo ficar
faltando, a falta não estará conosco mas com as autoridades, pois o Senhor
declara: "Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores" (Rm.
13:1).
"Quem
receber esta criança em meu nome, a mim me recebe" (Lucas 9:48). Para o
Senhor representar o Pai não há problema. O Pai tem confiança nele e nos pede
que confiemos nele como confiaríamos no Pai. Mas aos olhos do Senhor estas
crianças também o representam. Ele tem fé nestas crianças e nos exorta a que as
recebamos como o recebemos. Quando enviou seus discípulos, o Senhor lhes disse
que "quem vos der ouvidos, ouve-me a mim, e, quem vos rejeitar, a mim me
rejeita" (Lucas10:16). O que quer que aqueles discípulos dissessem ou
decidissem seria reconhecido como representando o Senhor. Como o Senhor foi
destemido quando lhes delegou sua autoridade!
Ele
reconheceu cada palavra que enunciaram em seu nome. Portanto aqueles que os
rejeitaram, rejeitaram o Senhor. Ele
não preveniu os discípulos a não falar levianamente. Não ficou nem um pouco
apreensivo de que errassem. Teve a fé e a ousadia de lhes confiar a sua
autoridade. Os judeus, entretanto, eram diferentes. Duvidaram e perguntaram:
"Como isto pode acontecer? Como podemos ter certeza de que será assim?
Precisamos de tempo para pensar." Não tiveram coragem para crer e tiveram
muito medo. Imaginemos que você é o diretor de uma instituição. Enviando um
representante, você lhe diz que reconhecerá tudo o que fizer de acordo com o
que achar melhor e que as pessoas que o ouvirem estarão ouvindo a você mesmo.
Naturalmente você exigirá dele que lhe preste um relatório diário para que não
cometa nenhum erro. Mas o Senhor nos fez representantes plenipotenciários. Que
confiança teve em nós! Será que podemos confiar menos quando o Senhor
demonstrou tal confiança na autoridade que delegou?
Talvez
as pessoas argumentem: "E se a autoridade estiver errada?" A resposta
é: Se Deus teve coragem de confiar sua autoridade aos homens, então precisamos
de coragem para obedecer. Se a pessoa com autoridade está certa ou errada não
nos diz respeito, uma vez que é diretamente responsável para com Deus. Os
obedientes só precisam obedecer; o Senhor não nos considerará responsáveis por
qualquer erro devido à obediência, mas, antes, considerará responsável a
autoridade delegada pelo erro cometido. A insubordinação, entretanto, é
rebeldia, e, por esta, aquele que se encontra debaixo da autoridade terá de
responder a Deus. Fica portanto explícito que nenhum elemento humano está
envolvido nesta questão da autoridade. Se a nossa sujeição for simplesmente
dirigida a um homem todo o significado da autoridade fica perdido. Quando Deus
institui sua autoridade delegada ele fica obrigado por sua honra a manter essa
autoridade. Cada um de nós é responsável diante de Deus nessa questão. Vamos
tomar o cuidado de não cometer erros.
Rejeitar
a autoridade delegada é uma afronta a Deus
Toda
a parábola registrada em Lucas 20:9-16 focaliza a questão da autoridade
delegada. Deus não veio pessoalmente para receber o que lhe era devido depois
que arrendou a vinha aos lavradores. Três vezes enviou seus servos e na quarta
vez enviou o seu próprio Filho. Todos foram seus delegados. Queria ver se os
lavradores se sujeitariam às autoridades por ele delegadas, Ele poderia ter
vindo pessoalmente, mas enviou representantes. Aos olhos de Deus aqueles que
rejeitam seus servos rejeitam-no pessoalmente. É impossível que ouçamos a
palavra de Deus e não as palavras dos seus delegados. Se estamos sujeitos à
autoridade de Deus, então também devemos ficar sujeitos à sua autoridade
delegada. Noutras passagens, além de Atos 9:4-15 que exemplifica a autoridade
direta do Senhor, o restante da Bíblia demonstra a autoridade que ele delegou
aos homens. Pode-se dizer que ele concedeu quase toda a sua autoridade aos
homens. Os homens podem frequentemente pensar que são simplesmente sujeitos a
outros homens, mas aqueles que conhecem a autoridade percebem que estes outros
homens são autoridades delegadas por Deus. Não é preciso humildade para ser
obediente à autoridade direta de Deus, mas é preciso modéstia e quebrantamento
para ficar sujeito à autoridade delegada. Se uma pessoa não se despojar
completamente da carne não será capaz de aceitar e atender à autoridade
delegada. Vamos tomar consciência de que, em vez de vir pessoalmente, ele
enviou seus delegados para recolher aquilo que lhe é devido. Qual, então,
deveria ser a nossa atitude para com Deus? Deveríamos esperar que Deus viesse
pessoalmente? Lembre-se de que quando ele aparecer virá para julgar, não para
recolher!
O SENHOR mostrou a Paulo como ele
tinha recalcitrado contra os aguilhões quando resistiu ao SENHOR. Quando Paulo
viu a luz e a autoridade, entretanto, perguntou: "Que queres que eu faça,
Senhor?" Com esta atitude colocou-se sob a autoridade direta do Senhor.
Não obstante, o Senhor imediatamente desviou Paulo para sua autoridade
delegada. "Levanta-te, e entra na cidade, onde te dirão o que te convém
fazer"
(Atos 9:6).
Dali
em diante Paulo reconheceu a autoridade. Não se considerou tão excepcional que
só ouviria se o próprio Senhor lhe dissesse o que fazer. Durante seu primeiro
encontro o Senhor colocou Paulo sob sua autoridade delegada. E nós?
Considerando que cremos no Senhor, até que ponto estivemos sujeitos à
autoridade delegada? A quantas autoridades delegadas temo-nos sujeitado? No
passado Deus ignorou nossas transgressões porque éramos ignorantes, mas agora
temos de pensar seriamente nas autoridades delegadas por Deus. O que Deus
enfatiza não é a sua própria autoridade mas as autoridades indiretas que ele
estabeleceu, todos aqueles que são insubordinados às autoridades indiretas de
Deus não estão sujeitos à autoridade direta de Deus. Para conveniência da
explanação, fazemos distinção entre autoridade direta e autoridade delegada;
para Deus, entretanto, só existe uma única autoridade. Não desprezemos as autoridades
no lar e na igreja; não negligenciemos todas aquelas autoridades delegadas.
Embora Paulo ficasse tomado pela cegueira, esperou por Ananias com seus olhos
interiores bem abertos. Ver Ananias foi como ver o Senhor; ouvi-lo foi como
ouvir o Senhor.
A
autoridade delegada é tão séria que se alguém a ofende fica em desacordo com
Deus. Ninguém pode esperar obter luz diretamente do Senhor se recusar-se a
receber luz da autoridade delegada. Paulo não raciocinou: "Uma vez que
Cornélio pediu para falar com Pedro, eu vou procurar Pedro ou Tiago; eu não vou
aceitar que este humilde irmão Ananias exerça autoridade sobre mim." É
absolutamente impossível rejeitar a autoridade delegada e continuar sujeito
diretamente a Deus; rejeitar o primeiro é o mesmo que rejeitar o segundo. Só um
louco tem prazer em falhar diante da autoridade delegada. Aquele que não gosta
dos delegados divinos não gosta do próprio Deus. É a natureza rebelde do homem
que fá-lo desejar obedecer à autoridade direta de Deus sem ficar sujeito às autoridades
delegadas que Deus estabeleceu.
Deus respeita sua autoridade delegada
Números
30 trata da questão do voto ou promessa feita por uma mulher. Enquanto
estivesse na casa de seu pai durante a sua mocidade o voto ou promessa feita
por uma mulher seria válido só se o pai não tivesse nada contra ele. Se ela
fosse casada, seu voto teria de ser aprovado ou desaprovado por seu marido. A
autoridade direta agiria sobre o que a autoridade delegada consentisse ou
anularia aquilo que esta cancelasse. Deus gosta de delegar sua autoridade e
também respeita seus delegados. Considerando que a mulher se encontrava sob a
autoridade do marido, Deus preferia que ela obedecesse à autoridade a que
cumprisse o seu voto. Mas se o marido como autoridade delegada errasse, Deus
certamente lidaria com ele, pois ele levaria a iniquidade dela. A mulher não
era considerada responsável. Assim, esta passagem das Escrituras nos mostra
como não podemos ignorar a autoridade delegada para nos sujeitarmos à
autoridade de Deus. Tendo delegado sua autoridade aos homens, o próprio Deus
não suplanta a autoridade delegada; antes ele se restringe pela autoridade que
delegou. Ele confirma o que a autoridade delegada confirmou e anula o que
também foi anulado. Deus sempre mantém a autoridade que delegou. Ficamos,
portanto, sem outra escolha a não ser sujeitarmo-nos às autoridades
governantes. Todo o Novo Testamento se apóia na autoridade delegada. A única
exceção se encontra em Atos 5:29 quando Pedro e os apóstolos responderam ao
concílio judeu que lhes proibia ensinar em nome do Senhor Jesus. Pedro
respondeu dizendo: "Antes importa obedecer a Deus do que aos homens."
Isto porque a autoridade delegada, neste caso, transgrediu distintamente a
ordem de Deus e pecou contra a Pessoa do Senhor. Uma resposta como essa de
Pedro só poderia ser dada nesta situação particular. Em todas as outras
circunstâncias temos de aprender a nos sujeitarmos às autoridades delegadas.
Jamais deveríamos produzir obediência através da rebeldia.
CAPÍTULO 8
A autoridade do
corpo (a Igreja)
Porque,
assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo
muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo. Pois, em um
só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos,
quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.
Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Se disser o pé: Porque
não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de ser do corpo. Se o ouvido
disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por isso deixa de o ser. Se
todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde o
olfato? Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe
aprouve. Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo? O certo é
que há muitos membros, mas um só corpo. Não podem os olhos dizer à mão: Não
precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós (1 Co.
12:12-21).
Se
teu irmão pecar (contra ti), vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir,
ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas
pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se
estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir
também a igreja, considera-o como gentio e publicano. Em verdade vos digo que
tudo o que ligardes na terra, terá sido ligado no céu, e tudo o que desligardes
na terra, terá sido desligado no céu (Mt. 18:15-18).
A autoridade se expressa de maneira mais
completa no corpo
A
mais ampla expressão da autoridade de Deus se encontra no corpo de Cristo, sua
Igreja. Embora Deus tenha estabelecido o procedimento da autoridade neste
mundo, nenhum daqueles relacionamentos (governantes e povo, pais e filhos,
maridos a esposas, senhores e servos), pode dar à autoridade sua expressão mais
ampla. Considerando que as muitas autoridades governantes na terra são todas
institucionais, sempre há a possibilidade da aparência de subordinação sem que
haja realmente sujeição do coração. Não há modo de averiguar se as pessoas
estão seguindo uma ordem do governante com sinceridade ou simplesmente estão
prestando obediência de boca. Também é difícil dizer se os filhos estão
atendendo aos pais de todo o coração ou não. Por isso a sujeição à autoridade
não pode ser exemplificada pelo modo como os filhos estão sujeitos aos pais, os
servos aos sem: senhores, ou o povo aos governantes. Contudo a autoridade de
Deus não pode ser estabelecida sem sujeição, nem poderia se a sujeição não
fosse do coração. Então, novamente, todos esses exemplos de sujeição ficam
dentro do raio de ação dos relacionamentos humanos; consequentemente são
temporais e estão sujeitos à separação. Portanto fica claro que a sujeição
absoluta e perfeita não se pode encontrar neles.
Só
o relacionamento entre Cristo e a igreja pode expressar totalmente a autoridade
e a obediência. Pois Deus não chamou a igreja para ser uma instituição; ordenou
que fosse o corpo de Cristo. Frequentemente pensamos que a igreja é uma reunião
de crentes com a mesma fé ou um ajuntamento de corações amorosos, mas Deus a vê
de maneira diferente. Ela não representa só a mesma fé e o amor unido, mas
muito mais, como se fosse um só corpo. A igreja é o corpo de Cristo, enquanto
Cristo é o Cabeça da igreja. Os relacionamentos de pais e filhos, senhores e
servos, e até mesmo maridos e esposas, todos podem ser interrompidos, mas o
corpo físico não pode ser separado de sua cabeça; são um para sempre. Do mesmo
modo, Cristo e a igreja também não podem nunca ser separados. A autoridade e a
obediência encontradas em Cristo e na igreja são de uma natureza tão perfeita
que ultrapassam todas as outras expressões de autoridade e obediência.
Apesar
do amor que os pais têm para com seus filhos, estão sujeitos ao uso ilegal de
sua autoridade. Semelhantemente, os governos podem emitir ordens erradas ou os
senhores podem abusar de sua autoridade. Neste mundo, a autoridade, assim como
a obediência, são todas imperfeitas. Isto explica por que Deus desejou
estabelecer uma autoridade perfeita e uma obediência perfeita em Cristo e na
igreja, sendo ele o Cabeça e ela o corpo. Os pais podem às vezes magoar seus
filhos, os maridos às esposas, os senhores aos servos, e os governos ao povo.
Mas nenhuma cabeça fará mal ao seu próprio corpo; a autoridade da cabeça não
está sujeita a erro, mas é perfeita. Do mesmo modo, a obediência do corpo à
cabeça é perfeita. Logo que a cabeça concebe uma idéia, os dedos se movem
naturalmente, harmoniosamente, silenciosamente. A intenção de Deus para nós é
que prestemos obediência completa; ele não se satisfará até que sejamos
colocados no mesmo grau de obediência do corpo para com a sua cabeça. Isto vai
muito além do que pode ser representado pelo relacionamento entre marido e
esposas, uma vez que maridos e esposas são entidades separadas. Mas em Cristo
os dois são um: Ele é a obediência e também a autoridade. São um nele. Isto
difere do mundo, porque nesse campo de ação a autoridade e a obediência são
duas coisas separadas. Isto não acontece com o corpo e a cabeça; os movimentos
do corpo exigem pouco esforço da cabeça; o corpo se movimenta com graça ao
menor impulso da cabeça. Este é o tipo de obediência que satisfaz a Deus, não a
sujeição que os filhos têm aos pais ou esposas aos maridos, mas como o corpo
tem para com a cabeça. Como isto difere da sujeição pela subjugação!
Depois
que uma pessoa aprende mais sobre a obediência, verá a diferença entre a ordem
de Deus e a vontade de Deus. A primeira é uma palavra enunciada por Deus
enquanto a última é uma idéia concebida pela mente de Deus. A ordem tem de ser
enunciada mas a vontade pode silenciar. O Senhor Jesus agia de acordo com
ambas, a vontade e a palavra de Deus. Do mesmo modo Deus vai operar em seu povo
até que o relacionamento entre Cristo e a igreja siga o mesmo padrão do
relacionamento entre Deus e o seu Cristo. Deus deve continuar trabalhando até
que obedeçamos a Cristo assim como Cristo obedece a Deus. A primeira fase do
trabalho divino é fazer-se ele mesmo o Cabeça de Cristo. A segunda fase é
tornar Cristo o Cabeça da igreja. Deus vai trabalhar até que obedeçamos à sua
vontade instantaneamente sem mesmo haver necessidade de sermos disciplinados
pelo Espírito Santo. A terceira fase é tornar o reino deste mundo no reino de
nosso Senhor e do seu Cristo. A primeira fase já foi realizada, a terceira está
por vir. Atualmente nos encontramos na fase do meio. Seu cumprimento é
absolutamente essencial para a vinda da terceira fase. Estamos aqui para
obedecer a fim de que Deus possa realizar sua vontade, ou para desobedecer e
assim atrapalhar a obra de Deus? Deus tem procurado estabelecer sua autoridade
no universo, e a chave disso é a igreja. A igreja está no meio, servindo de
pivô. Nisto, Deus nos reveste com muito maior glória. Sobre os nossos ombros
está a responsabilidade de manifestar autoridade.
Resistir à autoridade dos membros é
resistir à cabeça
Embora a autoridade do corpo às vezes seja
manifestada diretamente, muitas vezes ela se manifesta de maneira indireta. O
corpo não está apenas sujeito à cabeça; além disso, seus diversos membros
ajudam-se mutuamente e estão sujeitos uns aos outros. As mãos direita e
esquerda não têm comunicação direta; é a cabeça que as movimenta. A mão
esquerda não tem capacidade de orientar a mão direita, e vice-versa. A mão
também não tem capacidade de ordenar aos olhos que olhem, mas simplesmente
notifica à cabeça e deixa que a cabeça ordene aos olhos. Por isso, todos os
diversos membros estão igualmente ligados à cabeça. Faça o que fizer um membro,
tudo se atribui à cabeça. Quando meus olhos olham, sou eu que estou olhando; e
o mesmo acontece com o andar e o trabalhar. Podemos, portanto, concluir que
frequentemente julgar o membro é julgar a cabeça. A mão não pode ver; tem de
aceitar o julgamento do olho. Se a mão pedir à cabeça para olhar, ou se a mão
pedir para ver por si mesma, seria pedir de maneira errada. Mas é justamente aí
que jaz a falta comum dos filhos de Deus. Precisamos reconhecer nos outros
membros a autoridade da Cabeça. A função de cada membro é limitada; o olho vê,
a mão trabalha, e o pé caminha; devemos, portanto, aprender a aceitar as
funções dos outros membros. Não devemos recusar a função de qualquer membro. Se
o pé rejeitasse a mão, seria o mesmo que rejeitar a Cabeça. Mas se aceitamos a
autoridade de um membro, é o mesmo que aceitar a autoridade da Cabeça. Através
da comunhão todos os outros membros podem constituir a minha autoridade. Embora
a função da mão no corpo físico seja tremenda, ela tem de aceitar a função do
pé no momento em que precisar andar. A mão não pode ver cores, por isso tem de
aceitar a autoridade do olho. A função de cada membro constitui a sua
autoridade.
As riquezas de Cristo são autoridade
É
impossível fazer de cada membro um corpo completo; cada um de nós tem de
aprender a permanecer na posição de membro e aceitar as operações dos outros
membros. O que os outros vêem e ouvem é como se eu visse e ouvisse. Aceitar as
operações dos outros membros é aceitar as riquezas da Cabeça. Nenhum membro
pode dar-se ao luxo de ser independente, uma vez que cada um é membro do corpo;
tudo o que fizerem os outros membros é considerado como operação de todos os
membros e portanto operação do corpo. O problema de hoje é que a mão insiste em
ver, mesmo depois que o olho já viu. Cada um deseja ter tudo em si mesmo,
recusando aceitar a provisão dos outros membros. Isto cria pobreza para o
próprio membro e também para a igreja.
A autoridade é apenas uma outra expressão das
riquezas de Cristo. Só aceitando as funções dos outros — aceitando sua
autoridade — recebe-se a riqueza de todo o corpo. Submeter-se à autoridade dos
outros membros é possuir suas riquezas. A insubordinação cria pobreza. "Se
os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso" (Mt. 6:22); se o
teu ouvido é bom, todo o corpo ouvirá. Geralmente interpretamos mal a
autoridade como algo que nos oprime, nos magoa, nos perturba. Deus não tem um
conceito assim. Ele usa autoridade para suprir nossas falhas. Sua motivação
para instituição da autoridade é conceder--nos suas riquezas e suprir as
necessidades dos fracos. Ele não quer que você fique anos a fio esperando e
atravesse muitos dias negros e cheios de sofrimento antes que seja capaz de ver
por si mesmo.
A
essa altura você poderá ter levado muitos para as trevas. Na verdade, você se
transformaria num cego guiando cegos. Que prejuízos Deus sofreria por seu
intermédio! Não, primeiro ele opera na vida de outro, e opera de maneira total,
para poder colocar essa pessoa como autoridade sobre você para que você aprenda
a obediência e possua o que nunca possuiu antes. A riqueza dessa pessoa se
torna sua riqueza. Se você fizer vista grossa a este procedimento divino, ainda
que viva cinquenta anos ficará muito atrás do que aquela pessoa alcançou. A maneira
pela qual Deus nos garante a sua graça é dupla; às vezes, embora seja raro,
concede-nos a sua graça diretamente; na maioria das vezes ele no-la concede
indiretamente — isto é, Deus coloca sobre nós irmãos e irmãs na igreja que são
mais desenvolvidos espiritualmente para que aceitemos o julgamento deles como
nosso. Com isto nos tornamos aptos a possuir as riquezas deles sem que passemos
por dolorosas experiências. Deus depositou muita graça na igreja, mas ele
dispensa a cada membro alguma graça em particular, tal como cada estrela tem a
sua própria glória. Assim, a autoridade apresenta as riquezas da igreja. A
riqueza de cada membro é a riqueza de todos. Rebelar-se é preferir o caminho da
pobreza. Resistir à autoridade é rejeitar os meios da graça e da riqueza.
Distribuição de funções também é uma
delegação de autoridade
Quem
se atreveria a desobedecer à autoridade do Senhor? Mas vamos nos lembrar de que
a autoridade dos membros que Deus coordenou no corpo também precisa ser
atendida. Deus reuniu muitos membros, e é rebeldia total alguém re-cusar-se a
ajudar os outros membros. Às vezes o Senhor usa um membro de maneira direta,
mas em outras ocasiões ele usa outro membro para suprir a necessidade daquele
membro. Quando a cabeça orienta o olho para olhar, todo o corpo tem de aceitar
a visão daquele olho como sua visão. Tal distribuição de funções é uma
delegação de autoridade; isto também representa a autoridade da cabeça. Se os
outros membros tiverem a presunção de ver por si mesmos, estarão sendo rebeldes.
Jamais seja tolo a ponto de imaginar-se todo-poderoso. Lembre-se sempre que
você não passa de um membro; você tem de aceitar as operações dos outros
membros. Quando você se submete a uma autoridade visível está em perfeita
harmonia com a Cabeça, uma vez que o fato de alguém ter o que você precisa
constitui sua autoridade. Todo aquele que tem um talento tem um ministério, e
todo aquele que tem um ministério tem autoridade. Só o olho pode ver; portanto,
quando houver necessidade de visão, você tem de se submeter à autoridade do
olho e receber o que ele tem para dar. 0 ministério concedido por Deus é
autoridade; ninguém pode rejeitá-lo. A maior parte das pessoas quer receber
autoridade direta de Deus, porém Deus mais frequentemente estabelece autoridades
indiretas ou delegadas para obedecermos. Através delas recebemos suprimento
espiritual.
A vida torna fácil a obediência
Para o mundo, assim como foi para os
israelitas, é difícil obedecer, porque não há um elo de vida. Mas para nós que
temos um relacionamento vital, desobedecer é que é difícil. Há uma unidade
interna — uma vida e um Espírito, o Espírito Santo orientando e controlando
tudo. Sentimo-nos felizes e em paz quando nos sujeitamos uns aos outros. Se
tentamos colocar todo o fardo sobre os nossos próprios ombros, ficamos
cansados. Mas se o fardo é distribuído entre os diversos membros, sentimo-nos
em paz. Que tranquilidade é aceitar as restrições do Senhor. Ficando sujeitos à
autoridade dos outros membros, experimentamos uma grande emancipação. Mas
colocarmo-nos no lugar de outros faz com que nos sintamos muito artificiais. A
obediência é natural; desobedecer é difícil.
O
Senhor chamou-nos para aprender a obediência no corpo, na igreja, como também
no lar e no mundo. Temos de aprender bem no corpo, para não encontrarmos
dificuldades em outros setores. A igreja é o lugar onde temos de começar a
aprender obediência. É o lugar do cumprimento como também o lugar da provação.
Se fracassarmos ali, fracassaremos em qualquer lugar. Se aprendemos bem na
igreja, os problemas do reino, do mundo, e do universo poderão ser resolvidos.
No passado, tanto a autoridade como a obediência eram objetivas, isto é, uma
sujeição externa a um poder externo. Hoje a autoridade tornou-se uma coisa
viva, algo interno. Autoridade e obediência encontram-se no corpo de Cristo.
Instantaneamente ambos se tornam subjetivos e as duas se mesclam numa só.
Eis aí a mais alta expressão da autoridade de
Deus. Autoridade e obediência atingem sua consumação no corpo. Vamos nos edificar
aqui; não podemos de outro modo. O lugar onde entramos em contato com a
autoridade é o corpo. A Cabeça (a fonte da autoridade) e os membros (cada um
com sua função, ministrando mutuamente como autoridade delegada além de
obedecer à autoridade) tudo se encontra na igreja. Se fracassarmos em
reconhecer a autoridade aqui, não há outra saída.
CAPÍTULO 9
As
manifestações da rebeldia do homem
Em que setores particulares a rebeldia do
homem se manifesta mais obviamente? Em palavras, razão e pensamentos. Se não
tratarmos esses setores de maneira prática, a esperança de livramento da
rebeldia é muito obscura.
1.
PALAVRAS
Especialmente
aqueles que, seguindo a carne, andam em imundas paixões e menosprezam qualquer
governo. Atrevidos, arrogantes, não temem difamar autoridades superiores, ao
passo que anjos, embora maiores em força e poder, não proferem contra eles
juízo infamante na presença do Senhor. Esses, todavia, como brutos irracionais,
naturalmente feitos para presa e destruição, falando mal daquilo em que são
ignorantes, na sua destruição também hão de ser destruídos (2 Pedro 2:10-12).
Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas cousas vem a ira de Deus
sobre os filhos da desobediência (Ef. 5:6). Ora, estes, da mesma sorte, quais
sonhadores alucinados, não só contaminam a carne, como rejeitam governo, e
difamam autoridades superiores. Contudo, o arcanjo Miguel, quando contendia com
o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não se atreveu a proferir
juízo infamatório contra ele; pelo contrário; disse: O Senhor te repreenda.
Estes, porém, quanto a tudo o que não entendem, difamam; e, quanto a tudo o que
compreendem por instinto natural, como brutos sem razão, até nessas cousas se
corrompem (Judas 8-10). Raça de víboras, como podeis falar cousas boas, sendo
maus? porque a boca fala do que está cheio o coração (Mt. 12:34).
As palavras são o escoadouro do coração
Um homem rebelde de coração acabará
proferindo palavras rebeldes, pois do que está cheio o coração a boca fala.
Para reconhecer a autoridade, é preciso que primeiro se entre em con-tato com a
autoridade; caso contrário, jamais se obedecerá. O simples ouvir uma mensagem
sobre obediência é totalmente ineficaz. É preciso que haja um encontro com
Deus; então o fundamento da autoridade de Deus será estabelecido em sua vida.
Depois disso, sempre que proferir uma palavra rebelde — não, antes mesmo que a
profira — tomará consciência de sua transgressão e assim ficará internamente
impedido. Se alguém pode livremente pronunciar palavras de rebeldia sem
qualquer sentimento interno de restrição, certamente jamais teve contato com a
autoridade. É muito mais fácil pronunciar palavras rebeldes do que efetuar atos
de rebeldia. A língua é difícil de ser domada. Muito rapidamente a rebeldia de
um homem se expressa através de sua língua. Ele pode concordar com uma pessoa
diante dela mas injuriá-la pelas costas; pode manter silêncio diante de um
homem mas tem muito a dizer em altas vozes depois. Não é difícil usar a boca em
atitude de rebeldia. Os componentes da sociedade de hoje são todos rebeldes; só
prestam culto de boca e sujeição externa. A igreja tem de ser diferente; na
igreja deveria haver obediência do coração. Se há ou não obediência do coração
é fácil de perceber pelas palavras que saem da boca de uma pessoa. Deus quer
obediência de coração.
Eva levianamente acrescentou algo à palavra de
Deus
Quando Eva foi tentada, ela acrescentou
"nem tocareis nele" à palavra de Deus (Gn. 3:3). Vamos tomar
consciência da seriedade disto. Se alguém conhece a autoridade de Deus jamais
ousará acrescentar uma sílaba. A palavra de Deus é bastante clara: "De
toda árvore do jardim comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente
morrerás" (Gn. 2:16-17). Deus jamais disse "nem tocareis"; isto
foi acrescentado por Eva. Todos aqueles que levianamente mudam a palavra de
Deus, acrescentando ou omitindo, dão evidência de que não conhecem a
autoridade; portanto são rebeldes e ignorantes. Imaginem alguém que foi enviado
pelo governo a algum lugar como representante ou por-ta-voz; certamente a
pessoa se esforçará muito tentando memorizar o que foi encarregada de dizer;
não se atreveria a acrescentar qualquer palavra sua. Embora Eva visse Deus
diariamente, não reconheceu a autoridade; portanto, levianamente, acrescentou
suas próprias palavras. Talvez imaginasse que não havia muita diferença numas
poucas palavras a mais ou a menos. Não, mesmo uma pessoa deste mundo, servindo
um senhor deste mundo, não se atreveria a mudar livremente as palavras do seu
senhor. Como, então, nos atreveríamos nós que servimos ao Deus vivo?
Cão publicou o fracasso de seu pai
Vamos ver o que Cão fez quando viu a
nudez de seu pai. Saiu para contá-lo a seus irmãos, Sem e Jafé. Aquele que é
insubordinado de coração sempre espera que a autoridade fracasse. Assim Cão
teve a sua oportunidade de revelar a falta de seu pai. Fazendo assim comprovou
plenamente que não estava de todo sujeito à autoridade dele. Geralmente
submetia-se a seu pai por fora, mas não de todo coração. Agora, porém, quando
descobriu a fraqueza de seu pai, aproveitou a oportunidade para publicá-la aos
irmãos. Hoje em dia, muitos irmãos, devido a uma falta de amor, sentem prazer
em criticar pessoas e deleitam-se grandemente em revelar as faltas dos
outros.Cão não tinha nem amor nem submissão. É uma manifestação de rebeldia.
Miriã e Arão injuriaram Moisés
Números 12 registra como
Miriã e Arão falaram contra Moisés e introduziram problemas familiares no
trabalho. Moisés ocupava uma posição única na vocação divina; Miriã e Arão eram
simples subordinados. Era a ordem de Deus. Não obstante, os dois se rebelaram
contra aquela ordem e expressaram seus sentimentos falando contra Moisés. Não
conheciam a autoridade, uma vez que o reconhecimento da autoridade sela bocas e
resolve muitos problemas. Dificuldades naturais são resolvidas logo que se
coloquem diante da autoridade. Miriã simplesmente disse: "Porventura tem
falado o Senhor somente por Moisés? não tem falado também por nós?"
(versículo 2). Ela não parece ter dito muita coisa, mas Deus percebeu que era
injurioso. Provavelmente ela tinha muitas outras palavras que não foram
proferidas, exatamente como um "iceberg" tem visível sobre a
superfície apenas um décimo de sua massa, enquanto os outros nove décimos
permanecem escondidos na água. Por mais inconsequentes que as palavras sejam,
se houver um espírito rebelde na pessoa, será imediatamente descoberto por
Deus. A rebeldia geralmente se manifesta em palavras. Não importa se sejam
frívolas ou sérias, são rebeldia.
Core a seu grupo atacaram Moisés
Em Números 16, Core e seu
grupo de duzentos e cinquenta líderes da congregação reuniram-se para atacar
Mosiés. Atacaram-no com palavras. Disseram tudo o que estava em seus corações.
Reclamaram de Moisés. Embora Miriã falasse contra ele, suas palavras foram
reprimidas; por isso ela pôde ser restaurada. Mas Core e seu grupo, como uma
torrente incontrolável, desligou-se de toda restrição. Vemos aí dois diferentes
graus de rebeldia: alguns caem em desgraça mas são finalmente restaurados,
enquanto outros devem ser engolidos pelo Seol, pois não têm nenhuma repressão.
Esses de Números 16, além de falarem contra Moisés, também o censuraram aberta
e severamente. A situação foi tão séria que Moisés nada pôde fazer a não ser se
prostrar ao chão. Como foram graves suas acusações! Disseram a Moisés:
"Basta! ... por que, pois, vos exaltais sobre a congregação do
Senhor?" (versículo 3). Era como se dissessem: "Reconhecemos que Deus
está no meio da congregação, pois a congregação é santa, mas não reconhecemos
sua autoridade pois você é um usurpador."
Aprendemos neste exemplo que todo
aquele que atende à autoridade direta de Deus mas rejeita a autoridade delegada
continua, não obstante, sob o princípio da rebeldia. Se uma pessoa fosse
submissa à autoridade, certamente controlaria sua boca não ousaria falar tão
livremente Quando Paulo foi julgado pelo concílio falou como profeta ao sumo
sacerdote dizendo: "Deus há de ferir-te parede branqueada" (Atos
23:3). Mas ele também era judeu, por isso tão-logo foi informado que Ananias
era o sumo sacerdote voltou atrás, dizendo: "Não sabia, irmãos, que ele é
sumo sacerdote; porque está escrito: Não falarás mal de uma autoridade do teu
povo" (versículo 5). Que cuidado teve com suas palavras e com que
escrúpulo controlou sua boca.
A rebeldia está ligada à indulgência da
carne
O
apóstolo Paulo mencionou aqueles que desprezam a autoridade imediatamente
depois de falar daqueles que são indulgentes na concupiscência das paixões que
corrompem. O sintoma daqueles que desprezam a autoridade é resposta pronta,
isto é, a enunciação das palavras rebeldes. Os semelhantes se atraem. Uma
pessoa naturalmente se ligará àqueles que são iguais a ela e se comunicará com
aqueles que têm a mesma natureza. O rebelde e o carnal andam juntos. Deus os
considera iguais. O rebelde e o carnal são tão maus e obstinados que não têm
medo de injuriar os gloriosos. Aqueles que conhecem Deus tremem ao fazê-lo. É
concupiscência da boca falar palavras injuriosas. Se tal pessoa conhecesse a
Deus, ficaria arrependida e se odiaria porque saberia o quanto Deus odeia uma
atitude assim. Os anjos antes se encontravam sob a jurisdição desses seres
gloriosos, por isso não se atreveram a pronunciar um julgamento injurioso sobre
estes diante do Senhor. Tiveram a cautela de não armazenar uma atitude rebelde
em se tratando daqueles espíritos que não permaneceram em sua antiga posição.
Pelo mesmo motivo, não deveríamos injuriar aos outros, falando
contra eles diante de Deus, nem mesmo em nossas orações. Davi provou ser pessoa
que manteve sua posição reconhecendo que Saul era o ungido do Senhor. O poder
de Satanás é estabelecido por aqueles que não ficam no seu lugar, enquanto os
anjos permanecem no seu lugar. Pedro usa os anjos para exemplificar este
princípio do lugar de cada um para que sejamos mais cuidadosos nesse aspecto.
Há duas coisas que levam os cristãos a perder o seu poder: 1) pecado, 2)
injúria à autoridade. Sempre que uma pessoa fala contra outra, significa perda
de poder) Perda de poder é maior quando a desobediência é expressa em palavras
do que quando parmenece escondida no coração. 0 efeito das palavras sobre o
poder excede muito aquilo que percebemos comumente. É verdade que diante de
Deus o pensamento de um homem é julgado como se fosse um ato. Aquele que
concebe o mal já cometeu o mal. Por outro lado o Senhor diz: "Raça de
víboras, como podeis falar cousas boas, sendo maus? porque a boca fala do que
está cheio o coração... Digo-vos que toda palavra frívola que proferirem os homens,
dela darão conta no dia de juízo; porque pelas tuas palavras serás justificado,
e pelas tuas palavras serás condenado" (Mt. 12:34, 36-37). Isto implica
dizer que há uma diferença entre palavras e pensamentos. O pensamento pode
permanecer encoberto, mas uma vez proferida a palavra, tudo fica desnudo. Os
cristãos de hoje perdem o seu poder tanto através da boca quanto dos atos; não,
perdem muito mais através da boca. Todos os rebeldes têm problemas com suas
bocas. Todos aqueles que não podem controlar suas palavras não podem controlar
a si mesmos.
Deus repreende fortemente os rebeldes
Leia novamente 2 Pedro 2:12: "Esses, todavia, como brutos
irracionais, naturalmente feitos para presa e destruição." Será que pode
haver palavras de repreensão mais fortes na Bíblia do que estas que se
encontram aqui? Por que repreendê-los como a animais? Porque são tão
insensíveis. Uma vez que a autoridade constitui a coisa mais importante de toda
a Bíblia, rebelar-se contra ela constitui o mais grave dos pecados. Nossa boca
não deveria falar inadvertidamente. Tão-logo travamos conhecimento com Deus
nossa boca deveria sofrer restrições; não deveríamos nos atrever a replicar às
autoridades. O encontro com a autoridade cria em nós uma consciência de
autoridade exatamente como o encontro com o Senhor nos torna conscientes do
pecado.
As dificuldades na igreja geralmente
derivam de palavras injuriosas
Falar inadvertidamente é o grande responsável pela quebra da união
da igreja e pela perda de poder. Provavelmente a maioria das dificuldades na
igreja de hoje se devem principalmente às palavras injuriosas; só uma parte
diminuta das dificuldades são verdadeiros problemas. Na realidade, a maioria
dos problemas deste mundo foram criados através de mentiras. Se na igreja pudermos
deixar de falar mal uns dos outros eliminaremos a maior parte de nossas
dificuldades. Como precisamos confessar nossos pecados diante de Deus e pedir o
seu perdão! Todas as nossas palavras injuriosas devem ser cuidadosas e
totalmente limitadas diante de Deus. "Acaso pode a fonte jorrar do mesmo
lugar o que é doce e o que é amargoso?" (Tiago 3:11) Não deveriam sair dos
mesmos lábios palavras de amor e palavras injuriosas. Que Deus envie um guarda
para os nossos lábios, e não só para os lábios mas também para o nosso coração,
para que sejamos libertados dos pensamentos de rebeldia e das palavras
injuriosas. Que as palavras injuriosas se afastem para sempre de nós!
2. RAZÃO
E
ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para
que o propósito de Deus quanto à eleição prevalecesse, não por obras, mas por
aquele que chama), já lhe fora dito a ela: 0 mais velho será servo do mais
moço. Como está escrito: Amei a Jacó, porém me aborreci de Esaú. Que diremos,
pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum. Pois ele diz a Moisés:
Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de
quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer, ou de
quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia. Porque a Escritura diz a
Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder, e para que
o meu nome seja anunciado por toda a terra. Logo, tem ele misericórdia de quem
quer, e também endurece a quem lhe apraz. Tu, porém, me dirás: De que se queixa
ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade? Quem és tu, ó homem, para
discutires com Deus?! Porventura pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que
me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo
barro fazer um vaso para honra e outro para desonra? Que diremos, pois, se Deus
querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita
longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de que também
desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para
glória preparou de antemão, os quais somos nós, a quem também chamou, não só
dentre os judeus, mas também dentre os gentios? (Rm. 9.11-24).
A
injúria vem da razão
A
rebeldia do homem contra a autoridade se manifesta em palavras, razão e
pensamento. Se não reconhece a autoridade dirá palavras injuriosas; tais
palavras geralmente brotam do seu raciocínio. Cão tinha suas razões para
injuriar seu pai, pois Noé estava nu. Miriã falou contra Moisés com base no
fato de seu irmão ter se casado com a mulher cusita. Aquele que se sujeita à
autoridade, entretanto, vive sob a autoridade não com a razão. Coré e seu grupo
de duzentos e cinquenta líderes rebelaram-se contra Moisés e Arão dizendo:
"Toda a congregação é santa, cada um deles é santo, e o Senhor está no
meio deles; por que, pois, vos exaltais sobre a congregação do Senhor?"
(Nm. 16:13). Eles tinham também suas razões; palavras injuriosas como essas
geralmente são produzidas pelo raciocínio. Datã e Abirão parece que tinham razões
ainda mais fortes; responderam a Moisés dizendo: "Nem tão pouco nos
trouxeste a uma terra que mana leite e mel, nem nos deste campos e vinhas em
herança; pensas que lançarás pó aos olhos destes homens?" (versículo 14).
O que queriam dizer era que seus olhos podiam ver mais claramente a aparência
da terra se estivessem lá. Quanto mais raciocinavam, mais fortes razões tinham
para desconfiar que Moisés não era quem parecia ser. A razão não pode permitir
a reflexão, uma vez que só se agrava mais através desta. As pessoas deste mundo
vivem segundo a razão. Onde está, então, a diferença entre nós e o povo do
mundo se nós também vivemos nesse reino? Seguir o Senhor exige libertação da
razão É a pura verdade que precisamos arrancar os olhos de nossa razão para podermos
seguir o Senhor. O que governa nossas vidas? É a razão, ou a autoridade? Quando
uma pessoa é iluminada pelo Senhor fica cega com a luz, e sua razão é colocada
de lado. Paulo ficou cego sob a grande luz na estrada de Damasco; deixou de se
guiar por sua própria razão.
Moisés
jamais arrancou seus olhos, não obstante agia como se estivesse cego. Ele tinha
seus argumentos a suas razões, mas em obediência a Deus vivia acima da razão.
Aqueles que estão sob a autoridade de Deus não vivem segundo a vista. Os servos
de Deus devem libertar-se da vida da razão. A razão é a primeira causa da
rebeldia; portanto não pode haver nenhum controle sobre nossas palavras se
primeiro não resolvermos totalmente o problema da razão. Se uma pessoa não for
libertada pelo Senhor da escravidão da razão, mais cedo ou mais tarde
pronunciará palavras injuriosas. Parece fácil falar sobre o livramento da vida
da razão. Mas, se somos seres racionais, como podemos evitar discutir com Deus?
Parece muito difícil. Raciocinamos desde a infância até a idade adulta, desde o
nosso estado de incrédulos até o presente momento. O princípio básico de nossa
vida é o raciocínio. Como então acabar com isto? Para acabar é preciso
sacrificar literalmente a própria vida de nossa carne! Por isso há duas categorias
de cristãos: aqueles que vivem no nível da razão e aqueles que vivem no nível
da autoridade.
Vamos
fazer a pergunta: Onde estamos vivendo hoje? Quando recebemos uma ordem de
Deus, será que paramos para examinar a questão e ver se existem motivos
suficientes para fazer aquilo? Oh! Isto não passa de uma manifestação da árvore
do conhecimento do bem e do mal. O fruto dessa árvore governa não só nossos
negócios pessoais, mas até mesmo as coisas resolvidas por Deus têm de passar
através de nossa razão e julgamento. Pensamos por Deus e decidimos o que Deus
deveria pensar. Sem dúvida, este é o princípio de Satanás, pois ele não deseja
ser igual a Deus? Todos aqueles que realmente conhecem a Deus obedecem a ele
sem argumentação; aí não há possibilidade de misturar a razão com a obediência.
Se alguém deseja aprender a obediência tem de deixar de lado a razão. Ou viverá
pela autoridade de Deus ou pela razão humana — é absolutamente impossível viver
através de ambas. A vida terrena do Senhor Jesus foi totalmente acima da razão.
Que razão poderia haver para a desgraça, os açoites e a crucificação que ele
sofreu? Mas ele submeteu-se à autoridade de Deus; ele nem sequer argumentou ou
perguntou; ele só obedeceu! Viver sob o domínio da razão é tão complicado! Pense
nas aves do ar e nos lírios do campo. Com que simplicidade eles vivem! Quanto
mais nos submetemos à autoridade, mais simples nossas vidas se tornam. Em
Romanos 9, Paulo provou aos judeus que Deus também chama os gentios. Ele dá a
entender que dos descendentes de Abraão só Isaque foi escolhido e da semente de
Isaque só Jacó foi escolhido. Tudo está de acordo com a eleição de Deus.
Portanto, por que Deus não deveria escolher os gentios? Ele pode exercer
misericórdia com quem ele quiser e ter compaixão de quem quiser. Ele ama o Jacó
traiçoeiro e odeia o Esaú honesto (pelo menos é o que os homens supõem). Ele
até endurece o coração de Faraó. Será que é injusto por causa disso? Mas Deus
está assentado no trono da glória acima dos homens e estes estão sujeitos à sua
autoridade. Quem é você, partícula de pó, para argumentar com Deus?
Ele
é Deus e tem autoridade para fazer o que deseja. Não podemos segui-lo de um
lado e, do outro, exigir a revelação dos motivos. Se quisermos servi-lo, não
devemos argumentar. Todos aqueles que se encontram com Deus têm de jogar fora o
seu raciocínio. Temos de permanecer tão-somente no solo da obediência. Não
vamos interferir através de nossos argumentos, tentando ser conselheiros de
Deus. Vamos ouvir o que Deus declara: "Terei misericórdia de quem me
aprouver ter misericórdia." Quão preciosa é a palavra "vontade"!
Vamos adorar a Deus. Ele jamais argumenta; ele simplesmente faz o que deseja
fazer. Ele é o Deus da glória. Paulo também atesta: "Assim, pois, não depende
de quem quer, ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia. Porque a
Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu
poder, e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra. Logo, tem ele
misericórdia de quem quer, e também endurece a quem lhe apraz" (Rm.
9:16-18). Endurecer seu coração não significa fazê-lo pecar; simplesmente
significa desistir dele (veja Rm. 1:24, 26, 28). Paulo, prevendo que aqueles
aos quais escrevia poderiam objetar, antecipa-se dizendo: "Tu, porém, me
dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua
vontade?" (versículo 19). Muitos concordariam que o raciocínio acima é
tremendamente forte. Paulo também reconhece a força de tal argumento. Por isso
ele prossegue: "Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura
pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim?"
(versículo 20). Ele não responde ao argumento deles; pelo contrário, faz-lhes
uma pergunta: "Quem és tu?" Ele não diz: "O que tu dizes?"
Só pergunta: "Quem és tu para discutires com Deus?" Quando Deus
exerce autoridade não precisa consultar ninguém nem procurar aprovação.
Simplesmente exige que se obedeça à sua autoridade e se reconheça que, se vem
de Deus, é coisa boa. Os homens sempre gostaram de discutir; mas não poderíamos
perguntar: Há algum bom motivo para sermos salvos? Não existe razão alguma. Eu
nunca desejei nem lutei, mas estou salvo. É a coisa mais irracional que jamais
aconteceu. Mas Deus terá misericórdia de quem quiser. O oleiro tem o direito de
fazer do mesmo bolo de barro um vaso lindo e outro para fins corriqueiros. É
uma questão de autoridade, não uma questão de raciocínio. A dificuldade básica
conosco, os homens de hoje, é que ainda vivemos sob o princípio do bem e do
mal, sob o poder da razão. Se a Bíblia fosse um livro de argumentos, então
certamente poderíamos discutir tudo. Mas em Romanos 9 Deus abre uma janela do
céu e nos ilumina, não argumentando conosco, mas fazendo-nos uma pergunta:
"Quem és tu?
A
glória de Deus liberta da razão
Não
é fácil para os homens libertarem-se das palavras injuriosas; ainda é mais
difícil ver-se livre do raciocínio. Quando eu era jovem, frequentemente me
ofendia pelas coisas exorbitantes que Deus fazia. Mais tarde li Romanos 9 e
pela primeira vez em minha vida percebi um pouco da autoridade de Deus. Comecei
a perceber quem eu era — apenas um ser criado por ele. Como me atrevia a lhe
responder com minhas mais razoáveis palavras? Aquele que está acima de tudo
vive numa glória inatingível. O vislumbre de uma fração de sua glória nos poria
de joelhos e nos levaria a jogar fora nossos argumentos. Só aqueles que vivem
muito distantes podem ser soberbos; aqueles que estão sentados nas trevas podem
viver pelo raciocínio. Mas ninguém em todo o mundo é capaz de se ver verdadeiramente
através da luz de sua própria combustão. Mas logo que o Senhor lhe concede um
pouquinho de luz e permite que veja um pouquinho da glória de Deus, então ele
cai como se estivesse morto — exatamente como o apóstolo João de antigamente.
elimina o conhecimento do bem e do mal que veio através de Adão. Depois disso
torna-se relativamente fácil obedecermos.
"Eu sou o Senhor vosso Deus" —
Eis a razão
Em
Levítico 18-22, cada vez que Deus ordena certas coisas ao povo de Israel,
introduz a frase: "Eu sou o Senhor vosso Deus." Esta nem sequer é
antecedida pela conjunção "pois". Significa: "Falei assim porque
sou o Senhor vosso Deus. Eu não preciso apresentar minhas razões. Eu, o Senhor,
sou a razão." Se você entender isto jamais será capaz de viver novamente
pela razão. Você terá desejo de dizer a Deus: "Ainda que no passado eu
tenha vivido pela mente e pela razão, agora me inclino e te adoro; qualquer
coisa que tenhas feito é suficiente para mim, porque foste tu que o
fizeste." Depois que Paulo caiu na estrada de Damasco, seu raciocínio todo
foi posto de lado. A pergunta que fez foi: "O que queres que eu faça,
Senhor?" Instantaneamente colocou-se em sujeição ao Senhor. Ninguém que
conhece a Deus argumentará, pois a razão é julgada e posta de lado pela luz.
Argumentar com Deus implica que Deus necessita obter nosso consentimento para
tudo o que faz. Isto é loucura consumada. Quando Deus age não tem nenhuma
obrigação de nos contar os motivos, porque os seus caminhos são mais altos que
os nossos caminhos. Se tentamos rebaixar Deus e fazê-lo discutir conosco, nós o
perderemos porque o transformamos num igual. Na argumentação não teremos
adoração. Tão-logo a obediência se ausenta, desaparece a adoração. Julgando
Deus com a nossa razão, nós mesmos nos estabelecemos por deuses. Onde, então,
fica a diferença entre o oleiro e o barro? Será que o oleiro precisa pedir
consentimento ao barro para fazer seu trabalho? Que o glorioso aparecimento do
Senhor ponha um fim a toda nossa argumentação!
CAPÍTULO 10
As manifestações
da rebeldia do homem
(continuação)
2.
PENSAMENTOS
Porque as armas da nossa milícia não são
carnais, e, sim, poderosas em Deus, para destruir fortalezas; anulando sofismas
e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, levando cativo
todo pensamento à obediência de Cristo; e estando prontos para punir toda
desobediência, uma vez completa a vossa submissão (2 Co. 10:b-6).
O
elo entre a razão e o pensamento
O
homem manifesta sua rebeldia não apenas em palavras e raciocínio mas também em
pensamentos. Palavras rebeldes brotam de um raciocínio rebelde, e o raciocínio
por sua vez trama o pensamento. Portanto o pensamento é o fator central na
rebeldia. 2 Coríntios 10:4-6 é uma das mais importantes passagens da Bíblia,
porque, nestes versículos, o setor particular no homem onde se exige obediência
a Cristo tem destaque especial. O versículo 5 diz: "levando cativo todo
pensamento à obediência de Cristo". Isto dá a entender que a rebeldia do
homem jaz basicamente no seu pensamento. Paulo menciona que temos de destruir
argumentações e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus. O
homem gosta de edificar raciocínios como fortalezas à volta do seu pensamento,
mas tais raciocínios têm de ser destruídos e o pensamento tem de ser cativo.
As
argumentações devem ser deixadas de lado, mas o pensamento tem de ser
reconduzido. Na guerra espiritual, as fortalezas têm de ser tomadas de assalto
para que o pensamento seja levado cativo. Se as argumentações não são jogadas
fora, não há possibilidade de reconduzir o pensamento do homem à obediência de
Cristo. A frase "toda altivez", no versículo 5 é "todo edifício
alto" no original. Do ponto de vista de Deus, as argumentações humanas são
como um arranha-céu, obstruindo o seu conhecimento. Logo que o homem começa a
raciocinar, seus pensamentos ficam sitiados e perde a liberdade de obedecer a
Deus, uma vez que a obediência é uma questão de pensamento. A razão expressa
externamente transforma-se em palavras, mas quando as argumentações se escondem
dentro, cercam o pensamento e o paralisam para que não obedeça.
O
hábito do homem de argumentar é tão sério que não pode ser resolvido sem uma
batalha. Mas Paulo não usou a razão para lutar contra a razão. A inclinação
mental para argumentar tem de ser derrotada com armas espirituais, isto é, o
poder de Deus. É Deus que luta contra nós, pois nos tornamos seu inimigo. Nosso
hábito mental de argumentar é algo que herdamos da árvore do conhecimento do
bem e do mal, mas como são poucos os que percebem quanta dificuldade as nossas
mentes proporcionam a Deus! Satanás emprega toda sorte de argumentações para
nos escravizar a fim de que nos tornemos inimigos de Deus, em lugar de sermos
subjugados por ele. Gênesis 3 exemplifica 2 Coríntios 10. Satanás argumentou
com Eva, e Eva, vendo que a árvore era boa para alimento, reagiu com
argumentação. Ela não deu ouvidos a Deus, pois tinha suas razões. Quando a
razão aparece, o pensamento do homem cai numa armadilha. A razão e o pensamento
estão intimamente ligados; o primeiro tende a derrotar o segundo. E uma vez
cativa a mente, o homem encontra-se impossibilitado de obedecer a Cristo.
Segue-se, portanto, que se realmente desejamos obedecer a Deus, temos de saber
como a autoridade de Deus destrói as fortalezas da razão.
Recapturando
a mente cativa
No Novo Testamento grego a palavra
"noema" ("noemata" no plural) foi usada seis vezes:
Filipenses 4:7; 2 Coríntios 2:11, 3:14, 4:4, 10:5 e 11:3. Foi traduzido em
português por "mente", "desígnios", "sentidos",
"entendimento", "pensamento" e "mente",
respectivamente — significando "os desígnios da mente". A
"mente" é a faculdade; o "desígnio" é sua ação — o produto
da mente humana. Através da faculdade da mente o homem pensa e decide
livremente, e isto representa o próprio homem. Assim, se alguém deseja
preservar sua liberdade, tem de dizer que todos os seus pensamentos são bons e
correios. Não se atreve a expô-los à interferência e, portanto, deve cercá-los
com muitas argumentações. Eis por que os homens falham em crer no Senhor: ficam
frequentemente aprisionados na fortaleza de alguma argumentação.
Um
incrédulo pode dizer: "Vou esperar até ficar bem velho"; ou
"Muitos cristãos não se comportam bem. Por isso não posso crer"; ou
"Não agora. Vou esperar até que meus pais morram. Semelhantemente, há
razões que os crentes apresentam para não amar o Senhor: os estudantes dirão
que estão ocupados demais com seus estudos; os homens de negócios ocupados
demais com seus negócios; o doente acha que sua saúde é fraca demais, e assim
por diante. Se Deus não destruir essas fortalezas os homens jamais ficarão
livres.Satanás aprisiona os homens através das fortalezas dos argumentos? A
maioria dos homens está por trás de tantas linhas de defesa que eles são
incapazes de atravessá-las para a liberdade. Só a autoridade de Deus pode levar
cativo cada pensamento para obedecer a Cristo. Para reconhecer a autoridade, as
argumentações humanas têm de ser primeiramente lançadas ao chão. Só depois que
o homem começa a ver que Deus é Deus conforme declarado em Romanos 9 é que suas
argumentações são destruídas. E quando as fortalezas de Satanás são destruídas,
nenhuma argumentação permanece e os pensamentos humanos podem ser então levados
cativos para obedecer a Cristo. Só depois que seus pensamentos são recapturados
é que o homem pode verdadeiramente obedecer a Cristo.
Podemos
perceber se alguém já tomou conhecimento da autoridade observando se as suas
palavras, argumentos e pensamentos já foram devidamente reestruturados. Quando
uma pessoa depara com a autoridade de Deus sua língua não se atreve a agitar-se
livremente, suas argumentações e, mais profundamente, seus pensamentos já não
podem mais ser livremente expressos. Naturalmente, o homem tem numerosos
pensamentos, todos fortalecidos com muitas argumentações.
Mas
tem de vir um dia quando a autoridade de Deus derruba todas as fortalezas da
argumentação que Satanás levantou a recaptura todos os pensamentos do homem
para torná-lo um escravo espontâneo de Deus. Então já não pensa mais
independentemente de Cristo; é totalmente obediente a ele. Isto é libertação
total. Aquele que ainda não tomou conhecimento da autoridade geralmente aspira
a ser conselheiro de Deus. Tal pessoa não tem os seus pensamentos recapturados
por Deus. Aonde quer que vá, seu primeiro pensamento é como melhorar a
situação. Seus pensamentos jamais foram disciplinados, pois suas argumentações
são tantas e tão incessantes. Temos de permitir que o Senhor faça em nós uma
operação de corte, penetrando nas profundezas íntimas de nossos pensamentos até
que sejam todos tomados cativos por Deus. Depois reconheceremos a autoridade de
Deus e não nos atreveremos a livremente argumentar ou aconselhar. Agimos como
se existissem duas pessoas no universo que são oniscientes: Deus e eu. Eu sou
um conselheiro que sabe tudo! Tal atitude indica claramente que meus
pensamentos precisam ser recapturados, que não sei nada sobre a autoridade. Se
eu fosse alguém cujas fortalezas da argumentação estivessem realmente tomadas
pela autoridade de Deus, não ofereceria mais conselhos, nem teria interesse em
fazê-lo. Meus pensamentos ficariam subordinados a Deus, e eu já não seria mais
uma pessoa livre. (A liberdade natural é o solo para o ataque de Satanás; tem
de ser renunciada.) Eu deveria estar pronto a ouvir.
Os pensamentos do homem são controlados por
um de dois poderes: pela argumentação ou pela autoridade de Cristo. Na
verdade, ninguém neste universo pode exercer livremente sua vontade, porque ou
é cativo das argumentações ou tomado por Cristo. Consequentemente, ou serve a
Satanás ou serve a Deus.
Se
um irmão reconhece ou não a autoridade, pode ser facilmente percebido
observando-se o seguinte:
1)
se pronuncia palavras rebeldes,
2)
se argumenta diante de Deus, e
3) se oferece muitas opiniões.
A derrota da argumentação é simplesmente
o aspecto negativo; sua sequência positiva é ter todos os pensamentos cativos
para obedecer a Cristo de modo que não oferece mais sua própria opinião
independente. Antes eu tinha muitos argumentos para sustentar meus muitos
pensamentos; mas agora não tenho mais nenhum argumento pois fui capturado. Um
cativo não tem liberdade; quem prestaria atenção à opinião de um escravo? Um
escravo tem de aceitar os pensamentos de outra pessoa, não oferecer sua própria
opinião. Consequentemente, nós, os que fomos capturados por Cristo, estamos
prontos a aceitar os pensamentos de Deus e não a oferecer qualquer conselho que
seja nosso.
Advertências aos opiniosos.
1.
PAULO
Em
seu estado natural, Paulo era uma pessoa inteligente, capaz, sábia e racional.
Sempre podia descobrir um meio de fazer as coisas, era confiante e servia a
Deus com todo o seu entusiasmo. Mas, quando liderava um grupo de pessoas a
caminho de Damasco para aprisionar os cristãos ali, foi derrubado ao solo por
uma grande luz. Naquele momento, todas as suas intenções, modos e capacidade
foram dissolvidos. Não retornou a Tarso nem voltou a Jerusalém. Não só
abandonou sua tarefa em Damasco mas também jogou fora todos os seus motivos.
Muitas pessoas, quando encontram dificuldades, mudam de direção, tentando
primeiro este caminho e então aquele; mas, não importa o que façam, continuam
agindo de acordo com suas próprias idéias e modos. São tolas e não caem segundo
o golpe desferido por Deus. Embora Deus as prostrasse naquele assunto em
particular, não aceitam a derrota de suas argumentações e pensamentos. Assim,
muitos podem realmente ter bloqueada sua estrada para Damasco, enquanto se
mantêm em seu caminho para Tarso ou Jerusalém. Não foi o que aconteceu com
Paulo. Uma vez abatido, perdeu tudo. Não podia mais dizer ou pensar coisa
alguma. Não sabia mais nada. "Que devo fazer, Senhor?" perguntou.
Encontramos aqui um cujos pensamentos foram cativados pelo Senhor e que
obedeceu nas profundezas do seu coração. Antes, fossem quais fossem as
circunstâncias, Saulo de Tarso sempre liderava; mas, agora, tendo tomado
conhecimento da autoridade de Deus, Paulo perdeu suas opiniões. A principal
evidência de que uma pessoa entrou em contato com Deus está no desaparecimento
de suas opiniões e esperteza. Que possamos honestamente pedir a Deus que nos
conceda a perplexidade produzida pela luz. Paulo parecia dizer: "Sou um
homem recapturado por Deus e portanto prisioneiro do Senhor. Chegou a hora de
ouvir e obedecer, não de pensar e decidir."
2.
REI
SAUL
O
rei Saul foi rejeitado por Deus não porque roubasse mas porque poupou o que
havia de melhor entre os bois e ovelhas para sacrificá-los ao Senhor. Foi algo
que brotou de sua própria opinião — seus próprios pensamentos sobre como
agradar a Deus. Sua rejeição foi por causa dos seus pensamentos que não foram
capturados por Deus. Ninguém poderá dizer que o rei Saul não foi zeloso em
servir a Deus. Não mentiu, uma vez que realmente poupou o melhor entre o gado e
as ovelhas. Mas tomou sua própria decisão de acordo com seu próprio pensamento.
(Veja 1 Sm. 15.) A inferência é clara: todos os que servem a Deus devem
categoricamente refrear suas decisões com base em seus próprios pensamentos;
antes, devem executar a vontade de Deus. Devem dizer expectativamente:
"Senhor, o que queres que eu faça?" Dizer mais que isso seria
totalmente errado. Obedecer é melhor do que sacrificar. Os homens absolutamente
não têm o direito de oferecer conselhos a Deus. Quando o rei Saul viu aquelas
ovelhas e o gado, desejou poupá-los da morte. Seu coração podia se inclinar
para Deus, mas faltava-lhe o espírito da obediência. Um coração que se inclina
para Deus não pode substituir a atitude de "eu não me atrevo a dizer coisa
alguma"; uma oferta de gorduras não pode suplantar o "não dar
opinião". Tendo o rei Saul recusado a destruir todos os amalequitas com
suas ovelhas e gado conforme Deus ordenara, deveria ser morto por um amalequita
e seu governo terminou assim. Todo aquele que poupa um amalequita em seu
próprio pensamento será finalmente aniquilado por um amalequita.
3.
NADABE E ABIÚ
Nadabe
e Abiú rebelaram-se quanto à oferta porque deixaram de se sujeitar à autoridade
de seu pai. Tentaram executar seus próprios pensamentos. Pecaram contra Deus
oferecendo fogo estranho; assim ofenderam à administração divina. Embora não
falassem nenhuma palavra nem apresentassem motivos, ainda assim queimaram
incenso de acordo com suas próprias ideias e sentimentos. Acharam que um culto
assim prestado era uma coisa boa; se errassem seria apenas tentando fazer uma
coisa boa — isto é, servindo a Deus. Achavam que tal pecado seria
insignificante. Mas não sabiam que seriam do seja obediente se a igreja não
obedece? Uma igreja desobediente não pode esperar que os incrédulos obedeçam ao
evangelho. Mas com uma igreja obediente também surgirá a obediência ao
evangelho. Todos nós devemos aprender a aceitar a disciplina para que nossas
bocas sejam instruídas no sentido de não falar levianamente, nossa mente a não
argumentar, nossos corações a não oferecer conselho. O caminho da glória está
exatamente à nossa frente. Deus há de manifestar sua autoridade sobre a terra.
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Autor: Watchman Nee
Traduzido por Yolanda M. Krievin
Digitalizado por Luiz Carlos
ISBN 85-7367-136-X Categoria: Crescimento Cristão Este livro foi publicado em inglês com o título Spiritual Authority, por Christian Fellowship Publishers, Inc. © 1972 por Christian Fellowship Publishers, Inc. © 1979 por Editora Vida /" impressão, 1976 IIa impressão, 1993 2 a impressão, 1981 12a impressão, 1996 3 a impressão, 1986 13a impressão, 1997 4 a impressão, 1988 14a impressão, 1998 5 a impressão, 1990 15a impressão, 1999 6 a impressão, 1991 16a impressão, 2000 7" impressão, 1991 17a impressão, 2001 8" impressão, 1991 18a impressão, 2001 9 a impressão, 1992 19a impressão, 2003 10a impressão, 1992 20a impressão, 2004 Todos os direitos reservados na língua portuguesa por Editora Vida, rua Júlio de Castilhos, 280 03059-000 São Paulo, SP— Telefax: (11) 6618-7000 Capa: Valdir Guerra Filiado a: abec SÓCIO Impresso no Brasil, na Imprensa da Fé
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